Um diplomata americano informado sobre as negociações de cessar-fogo entre Israel e o Hamas creditou o progresso nas negociações, em parte, à influência do presidente eleito Donald Trump. Segundo ele, em conversa com o Washington Post, depois da eleição do republicano foi “a primeira vez que houve pressão real do lado israelense para aceitar um acordo”.
Há meses, as negociações entre Israel e o Hamas estavam em um impasse por resistência de Israel em alguns pontos. O Catar, principal mediador do acordo, chegou a encerrar as negociações em novembro por causa do impasse. As conversas foram retomadas um mês depois.
De acordo com o diplomata, os termos atuais sugerem que desta vez os israelenses realizaram concessões. O enviado de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, participou das negociações em Doha, capital do Catar.
No entanto, ele também acrescentou que a situação atual do Hamas, com seus principais líderes mortos durante a guerra, também facilitou o acordo. “O Hamas não tem capacidade de dizer não a nada”, disse, sob condição de anonimato.
Desde a morte em outubro do líder do Hamas, Yahya Sinwar, os oficiais do grupo militante em Doha realizaram menos reuniões de alto nível e raramente usam o escritório oficial na capital do Catar, disse o diplomata. “Operacionalmente, eles são muito fracos; ninguém quer ser visto como um líder”, afirmou.
Embora as esperanças sejam altas de que os dois lados concordarão com o cessar-fogo inicial — envolvendo a troca de reféns israelenses e prisioneiros palestinos — os elementos mais desafiadores de um acordo, incluindo quem administrará a Faixa de Gaza, serão discutidos na segunda fase do acordo, de acordo com pessoas que acompanham as negociações de perto.
O acordo é basicamente o mesmo proposto pelo governo do presidente Joe Biden desde maio, e que vinha sendo torpedeado por palestinos e israelenses desde então. Inclui, em três fases, uma trégua temporária, a libertação de reféns e prisioneiros palestinos, o fim do conflito e a reconstrução de Gaza.
Do lado israelense, Netanyahu hesitava em acabar com a guerra por conta da pressão da ala mais extremista de seu governo, liderada pelo ministro de Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, e o das Finanças, Bezalel Smotrich. Eles ameaçavam romper com a coalizão, o que colocaria fim ao governo. Com problemas nas Justiça, Netanyahu manobra a todo custo para evitar essa derrota.
No front militar, o último grande batalhão do Hamas, que atuava em Rafah, foi derrotado em setembro. Desde então, o grupo está bastante desarticulado. No último trimestre do ano, o alvo militar israelense se mudou para o norte, com a invasão do Líbano e a destruição do comando do Hezbollah.
A morte de Nassan Nasrallah deu uma importante vitória política à Netanyahu, sobretudo também pela complexa operação com pagers executada pelo Mossad, que ajudou a abalar a liderança da milícia xiita. Seu cálculo é que o sucesso no Líbano poderia também lhe render alguns votos em caso de nova eleição, após o desastre de inteligência que levou ao 7 de outubro.
Por fim, a queda de Bashar Assad na Síria possibilitou que Israel também fortalecesse suas posições nas Colinas do Golã, dando mais estabilidade militar na fronteira norte.
Diante disso, e com um aliado na Casa Branca, tudo indica que Netanyahu conseguiu convencer ao menos Smotrich a não vetar o cessar-fogo. /Washington Post