Batalha de Bakhmut: por que Ucrânia e Rússia não desistem de cidade sem importância estratégica

Com valor simbólico e político, cidade está cercada e destruída após 8 meses de ataques constantes

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Por Redação
Atualização:

A batalha de Bakhmut, uma das mais violentas e prolongadas da guerra na Ucrânia, adquiriu com o passar dos meses um valor simbólico que vai muito além de seu interesse estratégico.

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O destino desta cidade do leste da Ucrânia recorda o do porto de Mariupol, no sul, destruído por meses de combates terríveis até sua queda para os russos no primeiro semestre de 2022.

Bakhmut, uma pequena cidade industrial do leste da Ucrânia, com 70.000 habitantes antes da invasão russa, está destruída após oito meses de combates.

Chamada de “inferno na Terra” pelos soldados ucranianos, a localidade está “praticamente cercada”, segundo o grupo paramilitar russo Wagner. A batalha incessante e os avanços metro a metro provocaram muitas baixas de ambos os lados.

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Entenda abaixo os motivos que colocaram Bakhmut no centro da guerra.

Soldados ucranianos conduzem tanque russo capturado no campo de batalha na região de Kupiansk, em imagem de 15 de outubro de 2022. Vitórias da Ucrânia na guerra aproximaram ainda mais o país e a Otan Foto: Clodagh Kilcoyne/Reuters

Qual a importância estratégica de Bakhmut?

Pouca, afirmam os analistas. Até mesmo o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, admitiu em uma entrevista ao jornal francês Le Figaro em fevereiro: “Do ponto de vista estratégico, Bakhmut não tem muita importância, porque os russos destruíram a cidade por completo com sua artilharia”.

“Não é um alvo militar de grande valor”, disse o general da reserva australiano Mick Ryan, pesquisador associado do Center for Strategic and International Studies (CSIS), de Washington.

“A batalha de Bakhmut utiliza recursos humanos e materiais em larga escala. O investimento é desproporcional à importância da cidade”, disse Ryan.

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Para o analista militar belga Joseph Henrotin, Bakhmut serviu para “reduzir o potencial de cada lado”.

“Desde dezembro, os russos tentam enfraquecer a posição ucraniana, obrigando o país a mobilizar forças em todos os lados e impedindo uma concentração para criar uma ruptura. Bakhmut é apenas uma peça do quebra-cabeça. Sua queda não significa nada, se os demais pontos resistirem”, afirma.

No longo prazo, contudo, pode abrir o caminho para Kramatorsk, grande cidade industrial ao oeste oeste, mas ainda bastante protegida, explica o pesquisador.

Bakhmut não é o tipo de cidade pela qual Moscou esperava lutar no início do segundo ano de sua invasão: é um município relativamente pequeno a leste de Donetsk, que permaneceu fora do alcance da lenta campanha terrestre russa por muitos meses.

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O exército avança lentamente, mas as forças ucranianas ainda não se retiraram, criando um impasse que lembra batalhas prolongadas por outras cidades do leste, como Severodonetsk, durante o ano passado.

A captura de Bakhmut representaria algum progresso militar para Vladimir Putin e daria às suas forças a oportunidade de lançar ataques aéreos contra mais áreas urbanas localizadas mais a oeste.

Valor simbólico

Com o passar dos meses e a situação cada vez mais difícil, Bakhmut adquiriu uma dimensão simbólica. O presidente Zelensky visitou o que chamou de “fortaleza de Bakhmut” em dezembro.

O fundador do grupo paramilitar Wagner, Yevgueny Prigozhin, transformou a cidade praticamente em uma batalha pessoal para demonstrar o valor de seus mercenários.

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“A magnitude das perdas deu a Bakhmut importância política”, destaca Mick Ryan.

“É um símbolo, tanto para os ucranianos como para os russos”, concorda Thibault Fouillet, da Fundação para a Pesquisa Estratégica (FRS).

“Mas algumas coisas que chegaram a ser anunciadas como pontos de inflexão definitivos na guerra não foram”, afirma, citando em particular a retirada russa da região de Kharkiv (nordeste) em abril, ou a retomada ucraniana de Kherson (sul), no segundo semestre do ano passado.

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“Acredito que vamos passar rapidamente para o outro ponto de tensão da frente de batalha, o que é característico desta guerra de desgaste”, acrescenta.

Uma questão interna russa

A conquista de Bakhmut, que seria a primeira vitória russa desde as contraofensivas ucranianas no final do ano passado, está no centro da rivalidade entre o Ministério russo da Defesa e o fundador do grupo Wagner, que tenta ganhar força política há vários meses.

Nas últimas semanas, Prigozhin criticou a “monstruosa burocracia militar e os políticos”, chegando a acusar o comandante do Estado-Maior, Valery Guerasimov, e o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, de “traição”, por não entregarem munição a seus mercenários.

A guerra na Ucrânia deu ao comandante do grupo Wagner sonhos de grandeza, afirma a pesquisadora russa Tatiana Stanovaya, do centro R.Politik.

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“Prigozhin é agora um personagem muito visível no cenário russo”, diz. “Com a guerra na Ucrânia, ele ganhou a atenção pública, e gosta disso”, conclui.

Situação da batalha

A porta-voz da Administração Militar Regional Ucraniana de Donetsk, Tetiana Ignatchenko, disse à CNN na quarta-feira, 1°, que cerca de 4.500 civis permanecem em Bakhmut, 48 deles crianças. Ela pediu à população que evacue o local devido ao perigo.

Cidadãos em ato pela paz na Ucrânia realizado em Milão, na Itália, no dia 25 de fevereiro. Conflito reacendeu debate sobre segurança da Europa e o papel da Otan Foto: Matteo Corner/EFE

No entanto, as tropas ucranianas reconheceram que está se tornando cada vez mais difícil manter o controle da cidade, pois as forças russas, que avançaram tanto ao norte quanto ao sul de Bakhmut, cortaram as rotas de acesso pelo oeste.

Os militares da Ucrânia também confirmaram que o exército russo está empregando combatentes mais experientes das fileiras da empresa militar privada russa Wagner em sua tentativa de capturar o local./AFP e AP

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