Biden afirma ter questionado assassinato de jornalista diante de príncipe saudita

Presidente americano disse ter deixado claro que acredita que Mohammed bin Salman aprovou o assassinato de Jamal Khashoggi, em 2018

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Por Redação
Atualização:

JEDDAH – O presidente americano Joe Biden disse que mencionou o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi durante o encontro com o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman nesta sexta-feira, 15. “Deixei claro o que pensei sobre isso quando aconteceu e o que eu penso sobre isso agora”, afirmou, contestando a ideia de que ele estava ignorando as violações de direitos humanos do reino saudita enquanto tenta uma reaproximação diplomática.

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Segundo a inteligência dos Estados Unidos, Salman é o responsável por aprovar a morte do jornalista, em 2018. Biden ainda declarou que o príncipe negou as acusações, disse que “não era pessoalmente responsável”. “Eu indiquei que eu penso que ele é”, declarou Biden.

A reaproximação – um esforço para solucionar a alta do combustível nos EUA, dentre outras questões relacionadas à segurança da região – é vista como controversa devido à promessa de Biden, feita em 2020, de transformar a Arábia Saudita em “pária” internacional pelo assassinato de Khashoggi, que escrevia para o Washington Post.

Presidente americano Joe Biden em conferência de imprensa em Jeddah, na Arábia Saudita, nesta sexta-feira, 15. Biden se encontrou com príncipe saudita antes da coletiva Foto: Evelyn Hockstein/Reuters

A declaração é uma tentativa do presidente americano reafirmar que continua comprometido com os direitos humanos, apesar do encontro.

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Antes da reunião, Biden cumprimentou Salman com um soquinho de mãos, gesto captado e divulgado pelos sauditas que provocou denúncias de grupos defensores dos direitos humanos de que ele aceita a reaproximação. Os dois se reuniram junto com os principais assessores no Palácio Real de Al Salam, onde era esperado que abordassem questões desde a produção de petróleo até os direitos humanos. Os dois se esquivaram das perguntas de repórteres após o encontro.

Pelo menos inicialmente, os benefícios da reunião pareciam a favor do príncipe-herdeiro. Nos últimos anos, Mohammed bin Salman tentou transformar o país de teocracia conservadora para um ator mais ativo e completo na arena mundial, atraindo turistas e criando uma economia mais diversificada e menos dependente do petróleo.

A visita de Joe Biden aparentemente contribui para a noção de que a Arábia Saudita é bem vinda na família das nações. Fotos do encontro diplomático, semelhante aos realizados por Biden nos últimos 18 meses, rapidamente emergiram. Autoridades sauditas também planejavam uma série de entrevistas de televisão, alardeando o contato dos dois países.

“Isso sugere que o príncipe herdeiro agora é aceito”, disse Kenneth Roth, presidente da Human Rights Watch, sobre a foto dos dois líderes batendo os punhos.

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“A única maneira de transformar essa fotografia em algum sinal de desaprovação é que Biden fale publicamente e em detalhes sobre preocupações contínuas com o registro abismal de direitos humanos do príncipe herdeiro”, acrescentou.

O presidente dos EUA há muito havia se recusado a falar com o príncipe, o herdeiro do trono atualmente ocupado por seu pai, o rei Salman. O recuo se deu devido a preocupação americana com a ameaça do Irã no Oriente Médio e o esforço para impedir que o país construa uma arma nuclear. Biden também esteve em Israel para discutir o assunto.

Ao mesmo tempo, a Arábia Saudita quer fortalecer sua relação de segurança com os Estados Unidos e garantir investimentos para transformar sua economia em uma menos dependente do petróleo.

Os sauditas realizaram uma recepção moderada para Biden no aeroporto de Jeddah, sem nenhuma cerimônia que acompanhou sua parada esta semana em Israel. Biden foi recebido pelo governador de Meca, príncipe Khalid bin Faisal, e pela embaixadora da Arábia Saudita nos EUA, princesa Reema bint Bandar, e depois caminhou até a limusine que o levou ao palácio.

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Acordo sobre aumento da produção de petróleo

Depois da reunião, autoridades dos EUA anunciaram uma série acordos com a Arábia Saudita sobre a expansão do fornecimento de petróleo, a construção de redes de telecomunicações 5G, a abertura do espaço aéreo saudita para voos comerciais israelenses e a extensão de uma trégua no Iêmen.

Segundo Biden, a expectativa é ver um impacto dos últimos entendimentos em “mais algumas semanas”.

O governo americano não disse o quanto os sauditas aumentariam a produção de petróleo. Eles já tinham anunciado o aumento da produção para julho e agosto, e especificações sobre a produção a partir de setembro são esperadas em agosto, como parte de um acordo maior com as nações da Opep.

O atual acordo Opep expira em setembro, abrindo as portas para uma produção potencialmente maior depois disso.

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As duas nações anunciaram a retirada das tropas americanas que serviam como pacificadoras na Ilha Tiran, no Mar Vermelho, um foco de muitos conflitos passados, incluindo a Guerra dos Seis Dias em 1967. Os americanos partirão até o final do ano.

Além disso, o mais inovador dos novos acordos envolve testar na Arábia Saudita uma tecnologia 5G relativamente nova projetada para competir com a Huawei, a empresa chinesa. Durante anos, as autoridades americanas vêm alertando as nações da Europa e do Oriente Médio contra os fornecedores chineses para redes sem fio, e acreditam que a eclosão da guerra na Ucrânia reforçou o argumento sobre vulnerabilidades criadas pela dependência de um único fornecedor estrangeiro.

Publicamente, a Casa Branca argumentou que a decisão de Biden de ir à Arábia Saudita foi motivada por uma série de questões de segurança nacional, não apenas pelo petróleo. Mas o petróleo é de fato o motivo mais urgente para a viagem, com os elevados preços da commodity.

Com medo de parecer estar sacrificando uma posição de princípios sobre direitos humanos em troca de energia mais barata, o presidente não planeja anunciar nenhum acordo de petróleo durante sua parada em Jeddah. Mas os dois lados têm um entendimento de que a Arábia Saudita aumentará a produção assim que o atual acordo de cotas expirar em setembro, bem a tempo da campanha eleitoral de meio de mandato, de acordo com atuais e ex-funcionários americanos. /W.P., AP, NYT

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