Biden deve mirar operadores do Irã após as mortes dos soldados americanos

Cedo ou tarde isso tinha de acontecer: o Irã se excederia em relação aos Estados Unidos

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colunista convidado
Por Max Boot

Desde o ataque do Hamas contra Israel, em 7 de outubro, milícias apoiadas pelo Irã escalaram seus ataques contra soldados americanos no Iraque e na Síria que estão colaborando em operações continuadas contra o Estado Islâmico. Houve pelo menos 160 ataques desse tipo em menos de quatro meses envolvendo drones e foguetes. Cerca de 70 americanos foram feridos — incluindo em um ataque a míssil em 20 de janeiro contra uma enorme base aérea na Província de Anbar, no Iraque — mas nenhum tinha sido morto.

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A boa sorte dos soldados americanos finalmente terminou no domingo, quando um drone explosivo atingiu um minúsculo posto avançado conhecido como Torre 22 dentro da Jordânia, nas proximidades das fronteiras com Iraque e Síria. Três militares americanos foram mortos e mais de 30 ficaram feridos, levantando dúvidas urgentes sobre os motivos que levaram as defesas antiaéreas dos EUA a não funcionar. O presidente Joe Biden atribuiu o ataque a “grupos militantes radicais apoiados pelo Irã na Síria e no Iraque” e prometeu: “Nós cobraremos todos os responsáveis no momento e do modo que escolhermos”.

Claramente as mortes dos militares americanos requerem uma resposta maior que as ações dos EUA até aqui, com ataques aéreos limitados — mais recentemente no Iraque, na terça-feira — contra milícias apoiadas pelo Irã. Mas não está claro qual deverá ser essa resposta, porque sempre é extremamente difícil saber como responder a agressões em guerras indiretas.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu uma resposta americana a um ataque sofrido no nordeste da Jordânia  Foto: Kent Nishimura/AFP

Os EUA não bombardearam a China nem a União Soviética, apesar dos chineses e dos soviéticos terem fornecido munições — e até pilotos — que mataram militares americanos nas Guerras da Coreia e do Vietnã. A União Soviética não bombardeou os EUA quando os americanos forneceram munições aos combatentes da resistência afegã que mataram soldados do Exército Vermelho nos anos 80. E hoje a Rússia não está bombardeando os EUA nem os membros europeus da Otan apesar deles estarem fornecendo munições para a Ucrânia usadas para matar invasores russos. Os EUA deveriam responder agora às provocações orquestradas por Teerã bombardeando o Irã?

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O conselho previsível do senador e falcão-mor Lindsey Graham (republicano da Carolina do Sul) é o seguinte: no domingo, ele instou Biden a “atacar alvos significativos dentro do Irã”. O senador John Cornyn (republicano no Texas), outro falcão, exigiu que Biden “mire Teerã”. Mas lembrem-se que nem o ex-presidente Donald Trump esteve disposto a bombardear diretamente o Irã. Em 2019, Trump quase ordenou ataques aéreos contra alvos dentro do Irã em retaliação aos iranianos terem derrubado um drone de vigilância dos EUA, mas mudou de ideia no último minuto. E por uma boa razão: apesar do Irã financiar terrorismo contra os EUA desde a Revolução Iraniana, de 1979, todos os presidentes americanos estiveram cientes de que envolver-se em um conflito maior com o Irã não atende ao interesse de ninguém.

Os aliados houthi do Irã já estão atacando embarcações no Estreito de Bab el-Mandeb, um gargalo marítimo por onde trafega quase um terço dos navios de contêineres que circulam no mundo, aumentando portanto custos do frete. Agora imaginem se o Irã usasse drones, minas e mísseis para fechar o Estreito de Ormuz, um gargalo ainda mais importante, por onde passa cerca de um terço dos navios petroleiros do planeta. Um conflito com o Irã poderia prejudicar a economia dos EUA e de outros países que apenas agora superam a inflação da era pandêmica.

E esses fatores estão longe de ser os únicos elementos de dissuasão que o Irã possui: os iranianos forneceram ao Hezbollah, seu aliado no Líbano, pelo menos 150 mil mísseis que foram mirados na direção de Israel. A última coisa que Israel precisa enquanto suas tropas estão envolvidas no conflito em Gaza é de uma guerra em duas frentes. Os houthis também têm potencial de retomar ataques de drones contra a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, apesar dos esforços de ambos os países em melhorar as relações com o Irã ao longo do ano passado.

Soldados do grupo Houthi protestam contra os ataques americanos no Iêmen, que ocorreram em resposta aos diversos ataques do grupo iemenita contra navios no Mar Vermelho  Foto: Yahya Arhab / EFE

Mas apesar de dever evitar bombardear o Irã se não houver mais provocações, é evidente que o governo Biden precisa fazer mais do que tem feito para dissuadir a agressão iraniana. Por mais difícil de engolir que seja para a Casa Branca, é necessário que Washington adote uma linha da cartilha do governo Trump. Em 2020, as Forças Armadas dos EUA mataram com um ataque de drone no Iraque o major-general Qasem Soleimani, comandante da Força Quds, do Exército dos Guardiões da Revolução Islâmica, que é responsável por providenciar ataques indiretos contra inimigos do Irã. Isso não impediu a Força Quds de continuar a dar apoio a milícias em toda a região, mas, de acordo com o general aposentado Kenneth “Frank” McKenzie Jr, que chefiava o Comando Central dos EUA na época, o assassinado de Soleimani perturbou e dissuadiu tentativas do Irã de atacar americanos no Iraque.

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O governo Biden tem compreensivelmente relutado em se prender a uma espiral de escalada com o Irã, mas claramente este é o momento de mostrar aos iranianos que eles não podem matar soldados americanos impunemente. Teerã não se incomodará se os EUA atacarem mais combatentes ou até líderes milicianos; da perspectiva iraniana, eles são descartáveis. Para chamar a atenção do Irã, os EUA precisam atacar soldados da Força Quds no Iêmen, no Iraque, na Síria ou no Líbano, começando pelo sucessor de Soleimani, o brigadeiro-general Ismail Qaani. Há muitos subordinados do Egri que também poderiam entrar na mira, como o comandante Khalil Zahedi, que coordena a ampla presença iraniana na Síria.

Não será fácil encontrar esses terroristas escondidos nas sombras, mas a comunidade de inteligência dos EUA tem mostrado que trabalhando com agências de inteligência aliadas é capaz de localizar e eliminar quase qualquer pessoa, do planejador de ataques terroristas do Hezbollah Imad Mughniyah ao fundador da Al-Qaeda Osama bin Laden. Como Mugniyah e Bin Laden, os líderes da Força Quds têm sangue americano nas mãos e precisam pagar o preço.

Além de mirar operadores do Irã, o governo Biden deveria se esforçar mais para prejudicar a economia iraniana com sanções. Quando chegou ao poder, Biden relaxou a aplicação das sanções na esperança de ressuscitar o acordo nuclear do Irã, do qual Trump retirou os EUA de forma insensata. Mas o acordo nuclear continua morto, portanto não há por que não continuar a intensificar as sanções contra o Irã. Isso requererá dos EUA persuadir seus aliados Reino Unido, França e Alemanha a aderir, mas a agressão em escalada do Irã argumenta por uma pressão econômica mais eficazmente do que qualquer memorando governamental.

Biden é ciente da necessidade de dissuadir o Irã sem entrar em uma guerra maior com a República Islâmica, mas suas ações para proteger as forças americanas na região até aqui têm sido claramente insuficientes. Os EUA precisam fazer mais — sem ir longe demais desencadeando uma conflagração regional maior. É difícil acertar esse equilíbrio, mas um presidente com décadas de experiência em política externa é a pessoa certa para isso. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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