LOS ANGELES - O presidente americano, Joe Biden, se referiu ao ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Congresso dos Estados Unidos como um dos capítulos mais sombrios da história do país. Ele advertiu que as forças que estiveram por trás do “trágico assalto ao Capitólio” continuam ativas e são uma ameaça à democracia americana.
Foi a primeira declaração pública do presidente desde que as conclusões iniciais da comissão na Câmara que investiga o caso foram apresentadas na noite de quinta-feira. A comissão concluiu que a invasão foi uma tentativa de golpe de Estado com liderança do então presidente Donald Trump, que perdeu as eleições em novembro de 2020.
Vídeos e depoimentos foram apresentados pelos membros como evidências da ameaça e da atuação de Trump como líder do motim. A comissão pretende reconstituir o que aconteceu no episódio.
“É importante que o povo americano entenda o que realmente aconteceu e que as mesmas forças que levaram (à insurreição no Capitólio) em 6 de janeiro (de 2021) continuam ativas hoje”, disse Biden nesta sexta-feira, durante discurso em Los Angeles, onde é anfitrião da 9ª Cúpula das Américas.
Segundo o líder americano, é importante que o público receba uma contabilidade completa dos eventos nas audiências, cujas conclusões continuarão a ser apresentadas nas próximas semanas.
“Trata-se de nossa própria democracia. Temos de proteger nossa democracia”, disse o presidente. “Estamos vendo como a batalha pela alma dos EUA está longe de ser vencida. Mas sei que juntos podemos nos unir e defender esta nação, os democratas e os republicanos, para não permitir que ninguém coloque um punhal na garganta da nossa democracia.”
Além de tentar provar que o ataque foi uma tentativa de golpe, a comissão apontou a possibilidade de que o grupo de extrema direita Proud Boys tenha planejado tudo com antecedência.
Em 6 de janeiro de 2021, cerca de 10 mil pessoas - a maioria apoiadores de Trump - marcharam em direção ao Capitólio e cerca de 800 invadiram o prédio com o objetivo de interromper a sessão parlamentar em que a vitória de Biden nas presidenciais seria certificada.
Cinco pessoas morreram, incluindo um policial após sofrer um ataque cardíaco horas após a insurreição, e cerca de 140 policiais foram atacados. Além disso, quatro policiais posteriormente cometeram suicídio.
Mais por vir
Ao comentarem a apresentação dramática de novas evidências e testemunhos sobre a insurreição mortal em Washington, os democratas disseram que há mais por vir, especialmente em torno do papel de Trump.
O painel do Congresso que investiga o ataque realizará audiências ao longo de junho que detalharão o que diz ser um plano generalizado liderado por Trump para anular as eleições de 2020. Serão ao menos mais cinco audiências que se concentrarão nos grupos e pessoas que dizem estar envolvidas na trama e na organização do ataque.
O testemunho também se concentrará nas atividades de Trump antes e durante o assalto. A partir de segunda-feira, a comissão se concentrará na alegação do republicano de que sua derrota para Biden foi devido a alegações infundadas de fraude eleitoral, a chamada “grande mentira”.
A terceira audiência, no dia 15, se concentrará nos esforços de Trump para substituir o secretário de Justiça dos EUA a fim de montar uma equipe no Departamento de Justiça para promover suas falsas alegações eleitorais. Jeffrey Rosen, o secretário interino na época, está entre os que devem testemunhar, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto.
Em sua plataforma Truth Social na internet, Trump chamou, nesta sexta-feira, seu ex-secretário de Justiça William Barr de “fraco e assustado”. Barr renunciou em dezembro de 2021 e testemunhou à comissão que não havia visto evidências de fraude eleitoral significativa.
Trump também negou ter causado a invasão do Capitólio ou endossado os gritos da multidão para “enforcar” seu vice-presidente, Mike Pence, por desempenhar o papel cerimonial de certificar formalmente o resultado da eleição./REUTERS, AFP e EFE
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