Biden diz que há motivos para acreditar que Netanyahu está prolongando a guerra para seguir no cargo

À revista Time, presidente americano diz que premiê israelense vinha sendo pressionado politicamente antes da guerra; EUA pressionam Israel pelo fim do conflito

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sugeriu nesta terça-feira, 4, em entrevista à revista Time que há motivos para acreditar que o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, está prolongando a guerra em Gaza em um esforço para se manter no cargo.

A entrevista foi feita em 28 de maio, três dias antes de Biden fazer um discurso revelando os detalhes do que ele chamou de “plano israelense” para conseguir uma troca de reféns e um cessar-fogo permanente. Sua decisão de descrever o plano em público pareceu ser um esforço claro para pressionar Netanyahu, que não revelou publicamente os detalhes e tentou se afastar de alguns deles após a declaração de Biden.

“Não vou comentar sobre isso. Há todos os motivos para as pessoas chegarem a essa conclusão”, disse o presidente ao ser questionado se Biden acreditava que Netanyahu está prolongando a guerra por sobrevivência política. “E eu citaria isso como - antes do início da guerra, a reação negativa que ele estava recebendo dos militares israelenses por querer mudar a constituição - mudar o tribunal (em referência à reforma do Judiciário proposta por Bibi). Portanto, trata-se de um debate interno que parece não ter nenhuma consequência. É difícil dizer se ele mudaria sua posição ou não, mas isso não tem sido útil.”

Biden discursa na Casa Branca: pressão americana sobre Israel tem aumentado Foto: Cheriss May/NYTT

Pressão sobre Bibi

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Tanto em Israel quanto nos Estados Unidos, a saída de Netanyahu do cargo após a guerra é vista como provável, especialmente depois que começaram as investigações sobre como Israel ignorou as evidências do ataque terrorista de 7 de outubro, que matou quase 1.200 israelenses, e a lentidão com que as forças de defesa de Israel reagiram. Os protestos de rua contra ele começaram a ganhar força novamente, sete meses após o ataque.

Biden se recusou, na entrevista à Time, a dizer se Israel continua sendo o principal obstáculo para um acordo com a Arábia Saudita, no qual o país daria reconhecimento diplomático a Israel pela primeira vez em troca de ajuda na construção de uma indústria nuclear e do acordo de Israel para ajudar a criar um Estado palestino separado. Netanyahu deixou claro, tanto antes quanto depois dos ataques, que não concordará com uma solução de dois Estados com os palestinos.

As tensões entre Biden e Netanyahu têm sido óbvias há meses, já que o primeiro-ministro israelense recusou os apelos americanos para que Israel permitisse que quantidades muito maiores de ajuda chegassem aos civis palestinos e apresentasse um plano para mover, abrigar e alimentar centenas de milhares de refugiados deslocados de Rafah, o atual centro da ação militar. Mas Biden teve o cuidado de não criticar Netanyahu na entrevista, a não ser concordar que ele estava se agarrando ao cargo ao prolongar a guerra.

Panos quentes

Mais tarde, na terça-feira, o porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, disse aos repórteres que Biden estava “fazendo referência ao que muitos críticos disseram” e que deixaria Netanyahu falar por si mesmo.

“Mas, de nossa parte, vamos nos certificar de que Israel tenha o que precisa para continuar a eliminar a ameaça do Hamas, e vamos continuar a trabalhar com o primeiro-ministro e o gabinete de guerra para tentar levar essa proposta até o fim”, disse ele, acrescentando que o Hamas agora precisa aceitar a proposta.

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Biden e Netanyahu conversariam novamente “conforme apropriado”, embora não tivessem planos específicos no momento, disse ele. /NYT

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