Às vésperas da cúpula da Otan, em Vilna, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se reuniu em Londres com o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak. Washington e Londres, dois dos principais aliados da Ucrânia contra a invasão russa, discutiram a importância de manter o apoio a Kiev e reforçar o senso de união dentro da Otan, que deve ter divergências expostas no encontro desta semana.
O porta-voz do governo britânico destacou que os Biden e Sunak falaram sobre “promover o suporte que a Ucrânia precisa para garantir ganhar a guerra e garantir uma paz duradoura”. Na mesma linha, a Casa Branca relatou que os Washington e Londres “reafirmaram o apoio firme à Ucrânia diante da agressão russa”.
“Creio que estamos indo bem. Avançamos de forma positiva. Nossa relação é sólida como uma pedra”, declarou Biden depois do encontro. A ideia de união que Joe Biden tenta passar durante a viagem à Europa, no entanto, esbarra nos impasses entre os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte.
Um exemplo disso é a polêmica decisão de Washington, que anunciou o envio de bombas de fragmentação para a Ucrânia, como parte de um novo pacote de defesa de US$800 milhões.
As bombas de fragmentação espalham pequenas cargas explosivas pelo solo. Mas uma parte delas não explode na hora. Com isso, a área vira um “campo minado”, que apresenta riscos para os civis, em especial as crianças. Por isso, são proibidas por mais de 100 países, incluindo o Reino Unido, que reiterou sua posição contra as bombas de fragmentação no fim de semana, desencorajando os Estados Unidos.
Ampliação da Otan
A cúpula também deve discutir uma ampliação da aliança e a Ucrânia espera um “sinal claro” de que poderá aderir algum dia. O país acredita que isso será crucial para dissuadir a Rússia de lançar novos ataques contra o seu território.
O presidente Volodmir Zelenski entende que a entrada na Otan só pode ocorrer depois da invasão, que se arrasta há mais de um ano – caso contrário toda a aliança seria obrigada a entrar oficialmente em guerra contra Moscou – mas cobra um cronograma de adesão.
Um representante do ocidente, sob anonimato, garantiu à AFP nesta segunda-feira, que a Otan está disposta a retirar um obstáculo à adesão da Ucrânia, o Plano de Ação para a Adesão, como reconhecimento por seus “progressos”. Mas, para isso, Kiev terá que fazer mais reformas antes de sua integração.
A ideia que a Ucrânia ainda terá o caminho a percorrer mesmo depois da guerra vai na linha do que disse o presidente americano Joe Biden em entrevista recente à rede americana CNN. “Não acho que a Ucrânia esteja pronta para entrar na Otan”, afirmou Biden. Para o presidente americano, Kiev tem pendências que precisam ser resolvidas antes da adesão. “É um processo que leva tempo para atingir todas as qualificações… de democratização a uma série de outros fatores”, resumiu.
A Suécia também espera entrar na Otan, mas enfrenta resistência da Turquia. Nesta segunda-feira, às vésperas da cúpula, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan disse que só vai “abrir caminho” para a entrada da Suécia na Otan, se a União Europeia fizer o mesmo para incluir Ancara no bloco.
Encontro com o rei
De Londres, Biden seguiu para Windsor, onde se encontrou com o rei Charles III. Depois da cerimônia de recepção no castelo centenário, eles tiveram uma reunião com foco no meio ambiente e clima, incluindo o financiamento de projetos em países em desenvolvimento.
Charles, de 74 anos, é uma das lideranças mais proeminentes na pauta ambiental - tema que também é do interesse de Joe Biden. O democrata identificou a mudança climática como uma das quatro crises que que tenta enfrentar como presidente. No ano passado, ele assinou um amplo pacote legislativo que inclui quase US$ 375 bilhões em para pauta ambiental, o maior investimento da história americana.
O encontro entre Biden e Charles III foi o primeiro desde a coroação do rei, em maio. A cerimônia, que reuniu dezenas de chefes de estado, não contou com a presença de Biden, que seguiu uma tradição dos presidentes dos Estados Unidos, que não participam da cerimônia pelo passado como colônia britânica./W. Post e AFP
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