Em uma conversa que durou mais de duas horas, os presidentes dos EUA e da China, Joe Biden e Xi Jinping, discutiram o cenário da Guerra na Ucrânia nesta sexta-feira, 18, quando o conflito chega ao seu 23° dia.
De acordo com declarações divulgadas pela imprensa estatal chinesa, Xi teria dito a Biden que a guerra precisa terminar o quanto antes e que o conflito não é do interesse de ninguém. Apesar disso, o líder chinês não criticou diretamente Vladimir Putin e condenou as sanções econômicas impostas pelo Ocidente a Moscou, defendendo que a Otan e a Rússia negociem uma saída que atenda às preocupações de segurança de russos e ucranianos.
Biden, por sua vez, pediu a Xi que a China não envie ajuda militar aos russos, e afirmou que “paz e segurança são os bens pelos quais a comunidade internacional deveria estar mais interessada”.
Antes da conversa entre os líderes mundiais, autoridades americanas fizeram declarações públicas aumentando a pressão para que Pequim tome uma posição decisiva sobre o conflito. Mais cedo, a vice-secretária de Estado dos EUA, Wendy Sherman, afirmou que “a China precisa ficar do lado certo da história” em entrevista à rede americana CNN. Na quinta-feira, o secretário de Estado Antony Blinken, disse que o governo Biden estava preocupado que a China estivesse considerando ajudar diretamente a Rússia com equipamentos militares para uso na Ucrânia, algo que Pequim negou.
Enquanto EUA e China pediam o fim do conflito, Vladimir Putin participava de um evento de caráter ufanista a favor da guerra em Moscou. O líder russo decretou uma zona de exclusão aérea na região de Donbas e sinalizou que a Rússia só deixará o conflito quando atingir seus objetivos. Em solo ucraniano, serviços de emergência tentam resgatar pessoas presas nos escombros de um teatro bombardeado em Mariupol, em meio às preocupações sobre o desabastecimento de alimentos do país.
Escolhas do editor
Veja um resumo dos principais acontecimentos do 23° dia de invasão russa à Ucrânia:
Putin defende a invasão da Ucrânia em evento nacionalista em Moscou
O presidente russo, Vladimir Putin, discursou diante de um estádio de futebol lotado em comemoração ao oitavo aniversário da anexação da Crimeia pela Rússia. Diante da multidão, Putin afirmou que a invasão na Ucrânia vai seguir até que os objetivos de Moscou sejam alcançados.
“Sabemos o que precisamos fazer, como fazer e a que custo. E vamos cumprir absolutamente todos os nossos planos”, disse.
Vladimir Putin, presidente da Rússia
O comício patriótico teve diversas mensagens pedindo “um mundo sem nazismo” e em homenagem “ao nosso presidente”. Putin elogiou os soldados russos que estão na guerra e disse que não via uma “unidade como esta” há anos. Ele voltou a repetir as justificativas dadas para invadir a Ucrânia. Para Putin, os Estados Unidos estavam usando o país para ameaçar a Rússia e a atitude de Moscou foi para se defender do “genocídio” dos russos que moram em território ucraniano.
Rússia estabelece zona de exclusão aérea sobre região separatista de Donbass
A Rússia estabeleceu uma zona de exclusão aérea sobre a região de Donbass, na Ucrânia, onde ficam localizadas as recém-reconhecidas (por Moscou) repúblicas populares de Donetsk e Luhansk. A informação foi confirmada por uma autoridade separatista de Donetsk e noticiada pela agência russa Interfax.
Uma zona de exclusão aérea consiste em um território sobre o qual qualquer aeronave é proibida de voar. Se um avião não o respeitar, pode ser abatido. Essa medida é frequentemente aplicada em tempos de guerra para evitar o bombardeio de civis, por exemplo.
Há semanas o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, pede que os aliados da Otan estabeleçam uma zona de exclusão aérea sobre todo o território do país, a fim de evitar o sobrevoo de aeronaves militares russas - o que vem sendo repetidamente negado por autoridades ocidentais, que não querem se envolver diretamente no confronto com as tropas russa.
Serviços de emergências tentam resgatar presos em escombros de teatro em Mariupol
Equipes de resgate trabalham para retirar cerca de 1,3 mil pessoas presas sob os destroços do teatro de Mariupol, que servia de abrigo para civis na cidade portuária do sul da Ucrânia, bombardeado na última quarta-feira, 16.
A comissária do parlamento ucraniano para os Direitos Humanos, Liudmila Denisova afirmou na quinta-feira, 17, que 130 pessoas foram resgatadas com vida, mas não há informações sobre as pessoas que seguem sob os escombros.
Além da dificuldade de retirar os escombros, o trabalho dos serviços de resgate estão sendo prejudicados pelos novos bombardeios na cidade, cercada por tropas russas.
ONU alerta para risco de desabastecimento de comida e água na Ucrânia
A ONU alertou para o risco do sistema de abastecimento de alimentos da Ucrânia entrar em colapso devido a invasão da Rússia, que destruiu parte significativa da infraestrutura do país e fez com que lojas e armazéns ficassem vazios.
“A cadeia de abastecimento alimentar do país está desmoronando. Os movimentos de mercadorias desaceleraram devido à insegurança e à relutância dos motoristas”, disse Jakob Kern, Coordenador de Emergências do Programa Mundial de Alimentação (PMA) das Nações Unidas.
Kern também expressou preocupação com a situação em “cidades cercadas” como Mariupol, dizendo que os suprimentos de comida e água estavam acabando e que comboios humanitários não conseguiram entrar na cidade.
Principal destino de refugiados na Ucrânia, Lviv é bombardeada
A cidade de Lviv, principal ponto de concentração de deslocados pela guerra dentro de território ucraniano, foi alvo de bombardeios russos pela manhã. Os disparos atingiram locais a cerca de 6,5 quilômetros do centro, no primeiro bombardeio à cidade desde o começo do conflito.
Pelo menos três explosões foram ouvidas perto do aeroporto de Lviv, com vídeos nas mídias sociais mostrando grandes explosões e nuvens de fumaça.
Os mísseis atingiram uma oficina mecânica de aviões que fica no complexo do aeroporto da cidade, segundo o prefeito, Andriy Sadovi. Não houve mortos nem feridos.
Putin acusa Ucrânia por demora em acordo de paz a líderes ocidentais
Em conversas com representantes ocidentais, Vladimir Putin criticou a Ucrânia pela demora em negociar um cessar-fogo e afirmou que o país do Leste Europeu cometeu “crimes de guerra” durante o conflito.
Em conversa com o presidente da francês Emmanuel Macron, que expressou “extrema preocupação” com a situação de Mariupol, Putin declarou que “as Forças Armadas russas estão fazendo todo o possível para salvar a vida de civis, inclusive organizando corredores humanitários para sua evacuação segura” e acusou a Ucrânia de cometer “vários crimes de guerra cometidos diariamente”.
Putin criticou a Ucrânia em telefonema ao chanceler alemão Olaf Scholz, afirmando que o governo de Zelenski tem feito todo o possível para retardar as negociações. Segundo nota divulgada pelo Kremlin, o presidente russo reforçou disposição em continuar as conversas em busca de uma resolução em linha com seus interesses, e chamou atenção para supostos ataques a mísseis executados por forças ucranianas em áreas residenciais em Donetsk e Makiivka, que ele descreve como “crimes de guerra ignorados pelo Ocidente”.
Chefe do banco central da Rússia afirma que declínio econômico do país está a caminho
A presidente do Banco Central da Rússia, Elvira Nabiullina, afirmou que a inflação do país vai aumentar nos próximos meses devido às sanções pela invasão à Ucrânia e que a economia do país vai começar a declinar. Mais cedo, o Conselho de Administração do banco manteve as taxas de juros em 20% - estabelecidas no dia 28 de fevereiro.
A guerra da Rússia contra a Ucrânia levou a severas sanções econômicas dos Estados Unidos e da Europa, encorajou um grande número de empresas e bancos ocidentais a se retirar do país e isolou a Rússia de grande parte do sistema financeiro global.
“A economia russa está entrando na fase de uma transformação estrutural em larga escala, que será acompanhada por um período temporário, mas inevitável, de aumento da inflação”, disse o banco central russo em comunicado nesta sexta.
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