EUA vão enviar 1.500 militares à fronteira com o México para conter crise migratória

Governo americano se prepara para um aumento nas travessias ilegais pela fronteira sul quando cair em 11 de maio o Título 42, legislação da época da pandemia que restringia entradas

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Por Redação

WASHINGTON - O governo de Joe Biden vai enviar 1,5 mil soldados para aumentar a segurança na fronteira entre os Estados Unidos e o México, informaram autoridades americanas nesta terça-feira, 2. Os EUA vivem desde o ano passado uma crise migratória em sua fronteira sul e o governo se prepara para o aumento nas travessias ilegais conforme a política de restrição de entrada da era da pandemia cair em poucos dias.

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O Departamento de Segurança Interna solicitou o aumento temporário das tropas para complementar os esforços da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP na sigla em inglês). As tropas envolvidas não conduzirão o trabalho de aplicação da lei, em vez disso, elas auxiliarão em atividades administrativas, como detecção e monitoramento em terra, entrada de dados e outras tarefas para que a CBP possa se concentrar no trabalho de campo, disse a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre.

As tropas realizarão esse apoio por 90 dias, segundo o porta-voz do Pentágono, general Pat Ryder, “até que o CBP possa atender a essas necessidades por meio de suporte contratado”. Não está claro, porém, quando as tropas serão enviadas.

O presidente Joe Biden caminha ao longo da fronteira dos EUA com o México em El Paso Foto: Andrew Harnik/AP

As autoridades americanas esperam que as travessias ilegais ultrapassem 10 mil por dia quando a política de fronteira da era pandêmica conhecida como Título 42 terminar em 11 de maio.

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As medidas do Título 42 foram implementadas no início da pandemia, em março de 2020, dando aos agentes de fronteira dos EUA a capacidade de expulsar rapidamente os migrantes de volta para seus países de origem ou para o México. Desde então, as autoridades federais usaram as medidas para realizar mais de 2,6 milhões de expulsões.

O presidente Biden enfrentou pressão de grupos de defesas dos imigrantes e alguns democratas para encerrar as restrições e restaurar o acesso total ao sistema de imigração dos EUA para requerentes de asilo. Mas as tentativas anteriores do governo de suspender o artigo foram bloqueadas no tribunal federal depois que autoridades estaduais republicanas processaram o governo argumentando que um aumento de migrantes prejudicaria seus orçamentos.

A não ser que haja alguma decisão judicial de última hora, as regras padrão de imigração na fronteira voltarão a vigorar a partir da meia-noite de 12 de maio.

Os operativos militares na fronteira sul do país já vem crescendo nos últimos anos. Os 1.500 soldados de agora se juntarão a outros 2.500 militares que já fazem a segurança da fronteira, segundo um outro oficial do governo. Esses números não incluem a Guarda Nacional do Texas, mobilizados para uma missão chamada Operação Lone Star.

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A implantação suplementar incluirá alguns membros do serviço ativo, disse o oficial que falou sob condição de anonimato, porque eles podem se mobilizar mais rapidamente. À medida que a operação se desenrola, espera-se que tropas da Guarda Nacional e reservistas militares também se juntem à missão.

Segundo um levantamento obtido pelo The Washington Post, mais de 20.000 imigrantes estavam sob custódia da Patrulha de Fronteira até a última sexta-feira, 28. O número é mais do que o dobro da capacidade das instalações de detenções localizadas na fronteira sul. Cerca de 7.000 migrantes estavam detidos no Vale do Rio Grande, no sul do Texas, o setor mais superlotado.

Agentes de Patrulha de Fronteira e membros da Guarda Nacional do Texas detêm imigrantes que cruzaram o Rio Grande, na fronteira sul Foto: Adrees Latif/Reuters

O aumento foi em grande medida impulsionado por venezuelanos que fugiam da crise em seu país e usufruíram da ausência de laços diplomáticos entre EUA e Venezuela que não lhes permitia ser deportados de volta à Venezuela. Muitos chegavam à fronteira mexicana depois de terem cruzado a pé a perigosa selva de Darién, na fronteira entre Colômbia e Panamá.

Mas um acordo entre os EUA e o México permitiu que os venezuelanos fossem devolvidos ao país vizinho e quem fosse pego cruzando ilegalmente a fronteira perdia o direito de pedir asilo nos EUA. A medida diminuiu a migração venezuelana, mas não alterou a de outras nacionalidades, como equatorianos.

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As ações de Biden seguem movimentos semelhantes do então presidente Donald Trump, que enviou tropas da ativa para a fronteira para ajudar o pessoal da patrulha de fronteira no processamento de grandes caravanas de migrantes, além das forças da Guarda Nacional que já estavam trabalhando nessa capacidade.

Para Biden, que anunciou sua campanha de reeleição democrata há uma semana, a decisão sinaliza um esforço para reduzir o número de travessias ilegais, uma fonte potente de ataques republicanos, e envia uma mensagem aos migrantes para não tentarem a jornada. Mas também atrai comparações potencialmente indesejadas com o antecessor republicano, cujas políticas Biden frequentemente criticava. O Congresso, entretanto, recusou-se a tomar quaisquer medidas substanciais relacionadas com a imigração./AP e W.POST

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