Biden está apostando na estratégia errada para derrotar Trump e precisa mudar de curso; leia análise

Quem quer se reeleger nos EUA não precisa lutar pelo amor de seus eleitores, apenas precisa fazer com que eles odeiem mais o seu rival

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Por Ramesh Ponnuru

Se a eleição deste ano fosse um referendo sobre o desempenho de Joe Biden como presidente, ele seria derrotado. A maioria dos americanos acredita que ele é velho demais para a função, eles não aprovam seu trabalho à frente da Casa Branca e os números não estão a seu favor faltando 37 semanas para o começo da votação.

Biden não conseguiu cumprir a promessa central de sua campanha em 2020: que ele conseguiria trazer a calma depois do governo de Donald Trump. Em vez disso, testemunhamos duas guerras (na Ucrânia e em Gaza) e a pior inflação em 20 anos.

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Ainda assim, o presidente tem um caminho para vencer a eleição.


O primeiro lance de sorte do democrata é que não vivemos mais na era dos ‘referendos presidenciais’. Por um longo tempo, a campanha de reeleição de um presidente era definida pela sua competência durante o primeiro mandato. Em 1980 e 1992, Jimmy Carter e George Bush não se reelegeram. Em 1984 e 1996, Ronald Reagan e Bill Clinton ganharam um segundo mandato. A votação de cada um deles foi resultado da mudança de opinião da maioria dos eleitores sobre o estado do país, em vez da adesão deles a um determinado partido.

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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, deve ter o ex-presidente americano Donald Trump como adversário nas eleições marcadas para novembro  Foto: AP / AP

Ódio ao rival

Isso acabou. Agora, os americanos estão divididos em dois blocos grandes e sólidos. O número de eleitores independentes é muito pequeno. Por isso, vitórias de lavada, como a de Reagan em 1984 são cada vez mais raras. Nesta nova era, quem quer se reeleger não precisa lutar pelo amor de seus eleitores, apenas precisa fazer com que eles odeiem mais o seu rival. Foi assim que George W. Bush foi reeleito em 2004 e Barack Obama, em 2012.

O segundo lance de sorte de Biden é que o rival dele é Donald Trump. Ele não precisa convencer os americanos de que Trump tem defeitos, apenas precisa lembrá-los de que eles existem e podem ser um motivo para não votar no republicano.

A lógica de basear a campanha em ataques a Trump é óbvia, e a equipe de Biden já deu sinais de que apostará nisso. Os democratas, no entanto, ainda estão discutindo se deveriam optar por campanha propositiva, com foco na agenda de Biden para o segundo mandato. Isso pode ser útil depois da eleição, mas não dará ao presidente a reeleição.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, participa de coletiva de imprensa na Casa Branca, Washington  Foto: Jonathan Ernst/Reuters

Biden se beneficiaria, na verdade, de duas estratégias. A primeira é ceder aos republicanos no tema da imigração, um ponto fraco da agenda democrata. Isso faria com que o Congresso, controlado em parte pela oposição, liberasse ajuda militar para Israel e Ucrânia. Se as demandas republicanas não tornarem a fronteira mais segura, ele pode argumentar que cedeu e não funcionou.

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Além disso, o presidente precisa evitar que seu apoio a Israel prejudique o comparecimento dos democratas às urnas, especialmente os mais jovens. Para isso, é essencial que a guerra em Gaza termine antes do início da campanha geral.

A campanha de Biden também precisa decidir com quanta ênfase e em quais temas vai concentrar os possíveis ataques contra Trump. Graças aos indicados por Trump à Suprema Corte, a proteção nacional à interrupção da gravidez nos EUA foi revista. A questão do aborto demandará muito tempo e dinheiro dos democratas.

Muitos democratas também querem fazer da ameaça de Trump à democracia um tema central. As eleições de meio de mandato de 2022, em que muitos eleitores parecem ter recuado perante candidatos que abraçaram as mentiras de Trump sobre 2020, fazem-nos pensar que esta tática funcionará.

Mas esses eleitores certamente não precisam de muitos discursos ou anúncios democratas para os levar para a coluna de Biden. O eleitorado em 2024 será maior e menos inclinado para os eleitores com alto grau de escolaridade, que tendem a responder mais a este tema. E, ao tentarem eliminar Trump da corrida eleitoral no Colorado e no Maine, alguns democratas tornaram difusa a diferença com os republicanos no tema da defesa da democracia.

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Por todas estas razões, os democratas podem achar mais útil atingir Trump em questões como a da saúde pública: Ele prometeu acabar com o Obamacare, mas não deu qualquer indicação de ter pensado na forma como os seus beneficiários ficariam segurados sem ele.

Os democratas também têm debatido se devem continuar a promover a “Bidenomics”, que até agora não contribuiu em nada para os números das sondagens de Biden. Se a perceção pública da economia melhorar - e ainda há tempo para isso acontecer - não será provavelmente porque a Casa Branca encontrou a mensagem certa.

Falar de políticas econômicas pode, no entanto, beneficiar Biden diante de Trump, sobretudo se este optar por passar a campanha insistindo no seu desejo de retaliação contra os seus inimigos.

A estratégia só pode levar Biden até certo ponto. Os democratas devem desejar-lhe boa sorte neste novo ano. Ele vai precisar muito dela.

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