WILMINGTON, EUA - O presidente dos EUA, Joe Biden, conversou neste domingo, 19, por telefone, com o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, para expressar “preocupação” com a reforma que ele planeja fazer no sistema judiciário do país. O plano provocou protestos generalizados em Israel e Biden pediu que o primeiro-ministro demonstre “compromisso” e busque “consenso” com a sociedade.
A Casa Branca afirmou em um comunicado que Biden reiterou as preocupações dos EUA sobre a medida, em uma ligação que um alto funcionário do governo descreveu como “sincera e construtiva”. Na conversa, Biden ressaltou que a reforma deve “respeitar os valores democráticos fundamentais”. Netanyahu não deu sinais de que vá desistir ou retroceder na reforma, apesar da alta rejeição a ela no país.
Um funcionário da presidência americana, que pediu anonimato para discutir a ligação privada dos líderes, disse que Biden falou com Netanyahu “como um amigo de Israel na esperança de que uma fórmula de compromisso seja encontrada”.
A Casa Branca acrescentou que Biden “enfatizou sua crença de que os valores democráticos sempre foram, e devem permanecer, uma marca registrada do relacionamento entre EUA e Israel, que as sociedades democráticas são fortalecidas por freios e contrapesos genuínos e mudanças fundamentais devem ser buscadas, mas com a mais ampla base possível de apoio popular”.
“O presidente ofereceu apoio aos esforços em andamento para chegar a um acordo sobre as reformas judiciais propostas consistentes com esses princípios fundamentais”, afirma o comunicado.
Netanyahu disse no domingo que as mudanças legais seriam realizadas com responsabilidade, protegendo os direitos básicos de todos os israelenses. Seu governo - o mais direitista de todos os tempos - diz que a reforma visa corrigir um desequilíbrio que deu muito poder aos tribunais e impediu os legisladores de cumprir a vontade de seus eleitores.
Thomas Friedman
Os críticos dizem que ela derrubará o delicado sistema de freios e contrapesos de Israel e levará o país ao autoritarismo. Os opositores da medida realizaram protestos perturbadores e até envolveram os militares do país, depois que mais de 700 oficiais de elite da Força Aérea, forças especiais e Mossad disseram que parariam de se voluntariar para o serviço militar.
Encontro com palestinos
A conversa ocorreu após uma reunião, neste domingo, no Egito entre autoridades israelenses e palestinas, na qual eles prometeram tomar medidas para reduzir as tensões na região. Funcionários do governo elogiaram o resultado da cúpula no resort egípcio de Sharm el-Sheikh, no Mar Vermelho. Um comunicado conjunto disse que os lados reafirmaram o compromisso de diminuir a escalada e evitar mais violência.
Biden, na ligação, “reforçou a necessidade de todos os lados tomarem medidas urgentes e colaborativas para melhorar a coordenação da segurança, condenar todos os atos de terrorismo e manter a viabilidade de uma solução de dois Estados”, segundo a Casa Branca.
As delegações israelense e palestina se reuniram pela segunda vez em menos de um mês, lideradas pelos aliados regionais Egito e Jordânia, bem como pelos EUA, para encerrar um espasmo de violência que durou um ano.
Mais de 200 palestinos foram mortos pelo fogo israelense na Cisjordânia e no leste de Jerusalém, e mais de 40 israelenses ou estrangeiros foram mortos em ataques palestinos durante esse período.
Israel prometeu interromper a discussão sobre a construção de novos assentamentos por quatro meses e os planos para legalizar postos avançados de assentamentos não autorizados por seis meses.
“Os dois lados concordaram em estabelecer um mecanismo para conter e combater a violência, incitação e ações inflamatórias”, disse o comunicado. Os lados informariam sobre o progresso em uma reunião de acompanhamento no Egito no próximo mês, acrescentou.
O governo Biden continua preocupado com a repetição dos confrontos noturnos e outros incidentes violentos entre palestinos e israelenses em Jerusalém durante o Ramadã há dois anos. Os confrontos no Monte do Templo/Esplanada das Mesquitas em 2021 ajudaram a desencadear uma guerra de 11 dias entre Israel e o Hamas, grupo radical que controla a Faixa de Gaza.
Sob acordos de longa data, os judeus podem visitar o local, mas não rezar lá. Mas nos últimos anos, o número de visitantes cresceu, alguns rezando em silêncio. As cenas levantaram temores entre os palestinos de que Israel está tentando alterar o status quo do local./AP
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