WASHINGTON - Os ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e do Meio Ambiente, Ricardo Salles, mantiveram na terça-feira, 16, a primeira reunião de trabalho com John Kerry, enviado especial do governo dos EUA para as mudanças climáticas. De acordo com uma fonte presente na reunião, Kerry afirmou que o presidente americano, Joe Biden, gostaria de ter Jair Bolsonaro no fórum sobre o meio ambiente, marcado para o dia 22 de abril.
Os americanos querem fazer da reunião, batizada de “Fórum do Dia da Terra”, um preparativo para a cúpula do clima, agendada para novembro, em Glasgow, na Escócia. O Secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, já havia sinalizado a Araújo, em telefonema na semana passada, que Biden gostaria de contar com a presença do Brasil na reunião, algo que foi enfatizado por Kerry na conversa de terça-feira.
Segundo nota dos ministérios, eles examinaram “possibilidades de cooperação” em mudança do clima e combate ao desmatamento. Ficou acertado que os países vão aprofundar o diálogo e manter encontros frequentes “em busca de soluções sustentáveis e duradouras aos desafios climáticos comuns”.
Eles conversaram por videoconferência. Foi a segunda reunião entre equipes de alto escalão dos governos Jair Bolsonaro e Joe Biden. Fontes diplomáticas afirmaram que a conversa foi longa e “produtiva”.
"Enfrentar a crise climática requer grandes impactos que só podem ser alcançados com parcerias globais. Boa conversa ontem sobre cooperação climática, a liderança do Brasil e crescimento econômico sustentável, com Ernesto Araújo, Ricardo Salles e Nestor Forster", escreveu Kerry, no Twitter.
Durante cerca de 40 minutos, eles combinaram de manter conversas semanais entre técnicos da área ambiental dos dois governos. Essas reuniões poderão contar, eventualmente, com a participação de Kerry e Salles.
Na semana passada, o chanceler havia mantido uma conversa telefônica com o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. Na ocasião, Araújo disse que a agenda entre os países foi “100% positiva”.
Apoiador do ex-presidente Donald Trump, Bolsonaro fez oposição e contestou a eleição de Biden. Agora, tenta construir uma aproximação desde a posse do democrata na Casa Branca, em janeiro, quando enviou uma carta diplomática em tom “construtivo”, segundo análise de diplomatas americanos.
Biden já havia anunciado que a pauta ambiental seria colocada como prioridade na relação entre os países. Na campanha, ameaçou impor sanções econômicas ao Brasil, caso não houvesse ações para conter a alta no desmatamento.
Biden acenou com uma oferta de U$ 20 bilhões (aproximadamente R$ 100 bilhões) na Amazônia e prometeu “reunir o mundo” para cobrar ações e participar da iniciativa, numa abordagem multilateral. Bolsonaro reagiu mal. Disse que a fala foi “lamentável” e que a soberania brasileira era “inegociável”.
No fim do ano passado, ainda no governo Donald Trump, os países inauguraram uma plataforma de conversas, chamada Diálogo Brasil-EUA, sobre meio ambiente.
Os EUA planejam apresentar um plano de conservação da Amazônia, que querem criar em colaboração com os países que abrigam parte da floresta. A menção à floresta consta no pacote climático lançado recentemente por Biden. Os americanos devem esboçar as propostas sobre comprometimento com a preservação da floresta nas próximas reuniões com o Ministério do Meio Ambiente.
Nos últimos dez dias, os americanos têm tentado dissipar a ideia de que há ruídos na relação com o Brasil. Tanto o Departamento de Estado como a Casa Branca têm ressaltado a parceria de séculos entre os dois países e destacado que, apesar de divergências com o governo Bolsonaro, a ideia é manter o diálogo e a parceria, sem abrir mão da cobrança pelo compromisso com a agenda ambiental e proteção de direitos humanos. Na conversa, segundo fontes, Kerry ressaltou que planeja trabalhar em parceria com o Brasil na questão ambiental.
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