Biden rejeita 'nova Guerra Fria' e fala em cooperação internacional durante Assembleia-Geral da ONU

Na contramão dos discursos americanos dos últimos anos, durante o governo de Donald Trump, Biden defendeu a busca de saídas conjuntas para as agendas internacionais, em claro aceno ao multilateralismo

PUBLICIDADE

Em um discurso longo, com mais de meia hora de duração, Joe Biden fez seu primeiro pronunciamento na Assembleia-Geral da ONU como presidente dos Estados Unidos. Durante a fala, marcado por acenos ao multilateralismo e à cooperação internacional, Biden rejeitou a hipótese de que os EUA tenham interesse em mergulhar o mundo em uma nova Guerra Fria - tema que foi levantado recentemente pelo secretário-geral da ONU, António Gueterres.

PUBLICIDADE

"Nós não estamos buscando - e eu repito, nós não estamos buscando - uma nova Guerra Fria, ou um mundo dividido em blocos rígidos", afirmou durante o discurso. E completou: "Os Estados Unidos estão dispostos a trabalhar com qualquer nação que se comprometa e busque uma solução pacífica para compartilhar os desafios, embora tenhamos intensas divergências em outras áreas", sem mencionar diretamente a China, maior rival do país em áreas estratégicas.

O pronunciamento de Biden vai na contramão dos posicionamentos defendidos pelos Estados Unidos na Assembleia-Geral nos últimos anos, durante o governo de Donald Trump. Enquanto o ex-mandatário colocou o país em uma posição de isolamento em relação à comunidade internacional sobre os temas em debate - defendendo sempre a resolução interna das agendas, em detrimento das saídas multilaterais -, Biden deixou claro que pretende tratar diversas agendas prioritárias, como o combate à pandemia da covid-19 e as mudanças climáticas, de forma conjunta com os demais líderes mundiais.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, durante a 76ª Assembleia-Geral das Nações Unidas. Foto: AP Photo/Evan Vucci

A mudança de posicionamento também fica evidente em trechos do discurso de Biden que parecem destinar rivais e aliados. Enfrentando uma crise diplomática com a França, após a formação de uma aliança com Reino Unido e Austrália para fornecimento de submarinos nucleares no Pacífico atravessar um negócio bilionário francês, Biden afirmou que seu governo tenta reconstruir pontes e revitalizar alianças com parceiros estratégicos - o que pode ser entendido como a reaproximação dos EUA e da Otan -, classificando-os como "centrais" para a continuidade da segurança e prosperidade do país.

No campo da segurança e defesa, Biden apontou que pela primeira vez em 20 anos que os EUA não estão envolvidos em um guerra e que o país pretende usar a via diplomática para mitigar conflitos armados ao redor do mundo, afirmando que "estamos de volta à mesa de negociações internacionais, especialmente das Nações Unidas, para focar a atenção e ação global e compartilhar desafios",  ressaltando a volta do país a acordos e organizações internacionais, como a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Publicidade

Ao mesmo tempo em que destacou o momento pacífico e o que os EUA buscarão"guiar as ações mundiais" não apenas "com o exemplo de nosso poder, mas com o poder de nosso exemplo", o democrata também declarou que o país está pronto para responder a qualquer ameaça a ele e a seus aliados.

"Não se enganem, os Estados Unidos vão continuar se defendendo, seus aliados e interesses contra ataques, incluindo ameaças terroristas quando necessário. Mas para defender nosso interesse nacional, incluindo contra ameaças em curso e iminentes, mas a missão precisa ser clara e alcançavel, feita com o consentimento dos americanos e sempre que possível em parceria com nossos aliados."

Multilateralismo, pandemia e agenda ambiental

O caráter multilateral do discurso já ficou visível no momento de abertura, quando Biden apontou que a dor pelas perdas provocadas pela pandemia era comum a toda a humanidade, afirmando que o momento de "luto compartilhado" funciona como um lembrete de que o futuro coletivo depende da capacidade de "reconhecer nossa humanidade comum e nossa ação compartilhada". "A próxima década deve ser uma década decisiva, que literalmente determinará nossos futuros", disse.

Algumas pautas prioritárias foram mencionadas pelo presidente americano, como o próprio combate à pandemia. Biden defendeu a criação de um novo mecanismo de financiamento à saúde, ressaltando que o mundo ainda lidará com outras pandemias. "Precisamos agir para expandir acesso a vacinas contra a covid-19".

Publicidade

O presidente ainda garantiu que os EUA doarão mais vacinas ao Covax facility, da OMS e que os EUA vão anunciar novos compromissos sobre combate global à pandemia na quarta-feira, 22.

PUBLICIDADE

Outra agenda discutida pelo presidente - tema prioritário e recorrente desde as eleições americanas - diz respeito à pauta ambiental. O presidente voltou a afirmar que os líderes devem enfrentar a crise climática juntos e mencionou a "enorme oportunidade" de geração de empregos e crescimento econômico trazidos pelas transformações por elas exigidas -em um tom quase idêntico ao discurso feito durante a Cúpula do Clima realizada no começo deste ano nos EUA.

Biden afirmou que os EUA vão dobrar o financiamento contra as mudanças climáticas e destacou a importância de que todos os países levem suas maiores ambições para lidar com a crise à COP 26, a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que ocorre em novembro, em Glasgow.

O presidente prometeu mirar, junto às nações parceiras do G7 e aliados do setor privado, investimentos de "centenas de bilhões de dólares" em infraestrutura. O presidente argumentou que investimentos em "infrastrutura verde" e veículos elétricos ajudarão a reduzir as emissões de poluentes em todo o mundo. Ele ainda protestou contra iniciativas de construções de "má qualidade, que degrada ainda mais as condições ambientais".