WASHINGTON, THE WASHINGTON POST - O presidente americano Joe Biden vai viajar para a Bélgica e para a Polônia nesta semana, buscando manter uma aliança ocidental que está começando a mostrar possíveis rachaduras e fazendo uma aparição simbólica em um país onde líderes temem que ser um futuro alvo da agressão russa.
Biden desembarcará em Bruxelas na noite de quarta-feira, para participar de uma cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A cúpula ocorre no dia em que a invasão russa da Ucrânia completa um mês sem sinais de abrandamento. À medida que a guerra avança e os líderes ucranianos pedem assistência adicional, as divisões estão surgindo entre aliados que querem fornecer armas ofensivas, como caças, e outros que temem uma escalada do confronto com Moscou.
A decisão do presidente de visitar a Polônia mostra como o país está no epicentro de um agravamento da crise de refugiados. Apenas a capital, Varsóvia, recebeu 300 mil ucranianos desde o começo da guerra. Biden, que deve visitar um campo de refugiados enquanto estiver na Polônia, deve prometer ajuda significativa dos EUA na crise.
A Polônia é o maior – e provavelmente o mais central – país do leste da Europa, fazendo fronteira com a Ucrânia e Belarus de um lado, e a Alemanha do outro. Com Washington e Varsóvia recentemente em desacordo sobre o fornecimento de caças para a Ucrânia, a visita de Biden é uma oportunidade de mostrar que a aliança permanece unida mesmo com muitas diferenças.
Cúpula da Otan
Apesar de muitos pedidos, Biden não planeja visitar a Ucrânia, dados os perigos de um presidente americano entrar em uma zona de guerra. “Certamente, qualquer presidente dos Estados Unidos viajando para uma zona de guerra requer não apenas considerações de segurança, mas também uma enorme quantidade de recursos no terreno, o que é sempre um fator para nós quando fazemos considerações”, disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki.
A viagem de Biden, apenas sua terceira viagem ao exterior desde que assumiu o cargo, começará em Bruxelas, onde ele participará da cúpula da Otan, uma reunião do Grupo dos 7 e uma sessão de chefes de Estado da União Europeia. Ele então viajará para a Polônia, encontrando-se com o presidente Andrzej Duda no sábado.
Embora a Casa Branca não tenha anunciado que Biden visitará refugiados enquanto estiver na Polônia, pessoas próximas a Biden esperam que ele o faça. Jen Psaki disse na segunda-feira que Biden e os líderes europeus discutirão “coordenação militar, coordenação humanitária e econômica”, enquanto na Polônia Biden “falará sobre tudo, desde refugiados, assistência a refugiados e assistência contínua que todos podemos fornecer juntos”.
De maneira mais ampla, a viagem do presidente pretende garantir que os Estados Unidos e seus aliados continuem trabalhando juntos contra o presidente russo, Vladimir Putin, à medida que o ataque da Rússia à Ucrânia continua.
“A unidade tem sido o foco do presidente em termos do que nos fará bem sucedidos ao longo do tempo – unidade com nossos colegas europeus, unidade entre a Otan, unidade entre o G-7″, disse Psaki. “E isso não acontece por acaso. O que o presidente espera alcançar é uma coordenação contínua e uma resposta unificada às contínuas ações de escalada do presidente Putin”.
Analistas dizem que a viagem pode ser mais simbólica do que substantiva. Ainda não está claro que ação adicional os Estados Unidos e seus aliados estão preparados para tomar para punir a Rússia e reforçar a defesa da Ucrânia. O Ocidente já lançou um pacote incapacitante de sanções contra Moscou e forneceu bilhões de dólares em assistência militar a Kiev.
Comprometimento americano
Mas diplomatas e analistas disseram que a visita de Biden ao coração da Europa, em um momento de guerra e convulsão como o atual, tem seu próprio valor.
“A entrega mais fundamental é que o presidente dos EUA apareça no momento da maior crise na segurança europeia desde o fim da 2ª Guerra”, disse Ian Lesser, vice-presidente do German Marshall Fund. “Há uma oportunidade para a liderança americana, há uma expectativa para a liderança americana. Esse simbolismo é realmente muito importante.”
Biden deve receber aplausos em Bruxelas por suas ações para consolidar a aliança transatlântica, mas a visita a Varsóvia pode ser mais complicada.
A Polônia recebeu milhões de refugiados ucranianos, e autoridades polonesas disseram que não têm capacidade para lidar com o influxo. O prefeito de Varsóvia alertou em entrevista ao The Washington Post que a cidade está à beira do caos lutando para fornecer moradia, educação e assistência médica suficientes para os refugiados que continuam cruzando a fronteira.
Além disso, EUA e Polônia se envolveram recentemente em um desacordo público depois que os Estados Unidos recusaram uma oferta da Polônia para entregar caças MiG-29 a uma base militar americana para uso na Ucrânia.
Autoridades do governo Biden levantaram preocupações de que a oferta da Polônia possa aumentar as tensões com a Rússia, que disse que qualquer país que hospede aeronaves militares da Ucrânia seria considerado parte do conflito em andamento.
“Que eu saiba, não foi pré-consultado conosco que eles planejavam nos dar esses aviões”, disse Victoria Nuland, subsecretária de Estado para assuntos políticos, ao Comitê de Relações Exteriores do Senado neste mês. Ela caracterizou a oferta pública incomum da Polônia como um “movimento surpresa dos poloneses”.
Preocupação com refugiados
Mas o desafio mais urgente pode ser o deslocamento e a fuga de tantos ucranianos. Amy Gutmann, embaixadora dos EUA na Alemanha, disse a repórteres na segunda-feira em Berlim que o governo Biden tem a intenção de “garantir que a preocupação e o interesse dos EUA em ajudar com a situação dos refugiados estejam no foco”.
Gutmann disse que os Estados Unidos estão preparados para aliviar o fardo da Europa ao receber refugiados, mas que muitos dos que fogem dos combates podem querer permanecer mais próximos da Ucrânia na esperança de eventualmente voltar para casa.
“A maioria dos refugiados quer voltar, se puder, quando puder”, disse a embaixadora. “E a maioria não quer se mudar para mais longe de casa do que precisa. Dito isso, sei que há uma disposição por parte dos EUA de aceitar refugiados ucranianos se eles quiserem.”
Gutmann elogiou a cooperação entre os Estados Unidos e a Europa na resposta à agressão do Kremlin, dizendo que os americanos sentem uma “responsabilidade especial” de ajudar a Ucrânia, embora “estejamos mais isolados geograficamente do ataque de Putin”.
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