Blinken diz a Lula que discorda de comparação entre a guerra de Israel em Gaza e o Holocausto

Segundo assessores do secretário de Estado, posição do governo americano é a de que não está em curso um genocídio contra os palestinos em Gaza

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Por Redação
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RIO -O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse nesta quarta-feira, 21, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que os Estados Unidos discordam das declarações do petista comparando a ofensiva israelense na Faixa de Gaza a um genocídio similar ao Holocausto. O chefe da diplomacia americana se encontrou com o petista em Brasília, numa reunião que abordou também temas como a crise entre a Guiana e Venezuela, Haiti, clima e relações trabalhistas. De lá, Blinken seguiu para o Rio, onde participa da cúpula de chanceleres do G-20.

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No encontro, o diplomata deixou claro que o governo americano discorda da comparação. Blinken também disse a Lula que a posição de Washington é que não está em curso um genocídio contra os palestinos em Gaza. Os dois participaram de uma duas horas com Lula em Brasília.

“O secretário teve a chance de falar dos comentários do presidente Lula com ele hoje e deixou claro que os Estados Unidos discordam dele”, disse o porta-voz de Blinken, Matthew Miller, na coletiva diária do Departamento de Estado.

Apesar das discordâncias na reunião privada, Blinken fez, em público, uma declaração de 22 segundos em que afirma que Brasília e Washington estão trabalhando juntos, de forma bilateral e global, e afirmou ser grato pela “amizade” com o Brasil.

El presidente brasileño Luiz Inacio Lula da Silva, derecha, hace el gesto de pulgares arriba en conversación con el secretario de Estado estadounidense Antony Blinken en el palacio presidencial de Planalto, Brasilia, miércoles 21 de febrero de 2024. (AP Foto/Eraldo Peres) Foto: AP / AP

“Foi uma ótima reunião, estou muito grato ao presidente pelo seu tempo. Estados Unidos e Brasil estão fazendo importantes coisas juntos. Estamos trabalhando juntos bilateralmente, regionalmente, globalmente. É uma parceria importante e somos gratos pela amizade”, disse Blinken na saída do Palácio do Planalto.

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O encontro ocorreu em meio a uma crise diplomática com Israel, aliado de Washington, após o presidente brasileiro comparar a guerra em Gaza ao Holocausto. Blinken, que é judeu e já tornou público que tem familiares sobreviventes do Holocausto, chegou a Brasília na noite de terça-feira, 20, para o início de uma viagem que também o levará à Argentina. O secretário de Estado também participará de uma reunião de ministros das Relações Exteriores do G20, entre quarta e quinta-feira, no Rio de Janeiro.

Blinken ressalta parceria com o Brasil em nota

Em nota divulgada pelo porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Blinken expressou o comprometimento de formar uma parceria com o Brasil, que ocupa a presidência do G-20 no combate à fome e à pobreza, além de reduzir os impactos da crise climática.

O secretário de Estado também apontou que Brasil e Estados Unidos irão completar 200 anos de relações diplomáticas em maio deste ano e elogiou o papel do Brasil na redução das tensões entre Venezuela e Guiana.

“O secretário Blinken ressaltou nossa posição de que Nicolás Maduro deve retornar à implementação do acordo de Barbados para garantir eleições presidenciais competitivas em 2024. Ele também reconheceu o apoio de longa data do Brasil ao povo do Haiti e reiterou a necessidade urgente de assistência internacional para melhorar a situação de segurança no Haiti”, apontou a nota emitida pelo Departamento de Estado dos EUA.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, acena na chegada ao Palácio do Planalto, em Brasília, para uma reunião com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva  Foto: Andre Borges / EFE

O comunicado também apontou que Lula e Blinken discutiram os esforços americanos para a libertação de reféns israelenses em Gaza, o aumento de ajuda humanitária no enclave palestino e melhorias na segurança dos civis na região. Blinken agradeceu ao presidente Lula pela participação do Brasil em negociações que possam levar à paz na Ucrânia. O chefe da diplomacia americana também discutiu questões ambientais com Lula.

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“Blinken agradeceu o presidente Lula pela liderança global do Brasil em matéria de clima, incluindo o compromisso do Brasil de acabar com o desmatamento na Amazônia até 2030. O secretário saudou o interesse do presidente Lula em aprofundar a cooperação em energia limpa e a diversificação das cadeias de fornecimento globais, bem como o envolvimento contínuo no Plano de Ação Conjunta EUA-Brasil para Eliminar a Discriminação Racial e Étnica e Promover a Igualdade”, finalizou o texto.

Já a nota do governo brasileiro aponta que “Lula registrou todo o seu apreço pelo presidente Biden, por sua postura em defesa da democracia e pelas medidas que tem adotado em prol dos trabalhadores dos EUA”.

O comunicado brasileiro diz que o presidente e o secretário abordaram temas como a iniciativa pelo trabalho decente lançada por Lula e Joe Biden, além de que querem melhorar as parcerias na África em agricultura, segurança alimentar e infraestrutura.

“O presidente Lula reafirmou seu desejo pela paz e fim dos conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza. Ambos concordaram com a necessidade de criação de um Estado Palestino”, segundo a nota.

Aliados defendem expulsão de embaixador de Israel

Em meio à reunião entre Lula e Blinken, o Planalto ainda lida com a crise diplomática entre Brasil e Israel, provocada pelas declarações de Lula sobre o Holocausto e a Guerra em Gaza. Aliados de Lula defendem a expulsão do embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, por conta da escalada de tensões entre Brasília e Tel-Aviv.

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A expulsão é uma atitude muito drástica, que somente será tomada em último caso, embora o cenário tenha sido apresentado a Lula na reunião de segunda-feira, 19, que contou com a presença de integrantes da coordenação política do governo e do assessor do presidente para Assuntos Internacionais, Celso Amorim.

Integrantes do governo estudaram cenários junto ao presidente, e optaram, por enquanto, em apenas responder ao governo israelense, sem impulsionar a crise. O Itamaraty considera que, após a dura reação do ministro Mauro Vieira, que acusou Israel de atacar o Brasil de forma “insólita” e praticar “antidiplomacia” com fins políticos, agora é a vez de Tel Aviv tomar o próximo passo. O chanceler mirou sua reação no homólogo Israel Katz.

O ministro deixou claro que o Brasil vai reagir sempre, recorrendo a protocolos diplomáticos. A expulsão de Zonshine é um deles, assim como declaração de persona non grata, aplicada por Israel a Lula./com AFP

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