Blinken liga para Lavrov e exige libertação imediata de jornalista preso na Rússia

Moscou respondeu que os EUA estariam politizando a prisão do jornalista do The Wall Street Journal, que foi acusado de espionagem e pode pegar 20 anos de prisão

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Por Redação

WASHINGTON - O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, ligou neste domingo, 2, para o chanceler russo Serguei Lavrov para tratar da prisão do jornalista americano acusado de espionagem. Segundo o Departamento de Estado, ele pediu a libertação imediata de Evan Gershkovich, detido na semana passada.

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“Blinken expressou a grave preocupação dos Estados Unidos com a detenção inaceitável de um jornalista americano pela Rússia”, disse um porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel. “O secretário de Estado pediu sua libertação imediata” e também exigiu a soltura de Paul Whelan, outro americano encarcerado no país, disse.

Whelan, um executivo de segurança corporativa de Michigan, está preso na Rússia desde dezembro de 2018 por acusações de espionagem que sua família e o governo dos EUA disseram ser infundadas. Ele está cumprindo uma sentença de 16 anos.

O jornalista do The Wall Street Journal, Evan Gershkovich, que foi detido na semana passada na Rússia acusado de espionagem Foto: The Wall Street Journal via AP

Evan Gershkovich é jornalista do The Wall Street Journal e foi detido por agentes de segurança na Rússia na última quarta-feira, informou o jornal, sendo a primeira vez que um correspondente americano é detido por acusações de espionagem desde a Guerra Fria.

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O serviço de segurança da Rússia, FSB, herdeira da KGB, confirmou a prisão na quinta-feira, dizendo que ele estava coletando informações sobre uma empresa do complexo militar-industrial. O jornal rejeitou as acusações.

De acordo comunicado do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Lavrov respondeu que era um absurdo os EUA politizarem a prisão e lembrou “a necessidade de respeitar as decisões das autoridades russas, tomadas de acordo com a lei e as obrigações internacionais da Federação Russa”, disse o ministério russo. “Foi enfatizado que é inaceitável que as autoridades em Washington e a mídia ocidental criem uma agitação com a clara intenção de dar a este caso um teor político.”

O tribunal de Lefortovo, em Moscou, determinou na quinta-feira dois meses de detenção preventiva para Gershkovich por suposta espionagem. Segundo fonte dos serviços de segurança citada pela agência Tass, o repórter, que pode ser condenado a 20 anos de prisão, declarou-se inocente perante o juiz.

O repórter do Wall Street Journal Evan Gershkovich é escoltado por oficiais do tribunal de Lefortovsky até um ônibus, em Moscou, na Rússia Foto: Alexander Zemlianichenko/AP

‘Alvos americanos’

No mesmo dia a Casa Branca acusou a Rússia de ter cidadãos dos Estados Unidos como alvos. “O fato de o governo russo ter como alvo cidadãos americanos é inaceitável. Condenamos a prisão do senhor Gershkovich nos termos mais enérgicos”, disse a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, em um comunicado.

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Emma Tucker, editora-chefe do jornal, disse que foi gratificante e tranquilizador saber da ligação de Blinken porque mostra que o governo dos EUA está levando o caso ao alto-escalão. O WSJ não conseguiu enviar mensagens ao repórter ou obter qualquer informação oficial sobre ele, disse ela à CBS.

Funcionários consulares dos EUA solicitaram uma visita a Gershkovich, mas nenhum anúncio de tal acesso foi feito. Tucker disse que o jornal espera que um advogado possa se encontrar com Gershkovich na próxima semana e, enquanto isso, tem “pressionado constantemente para garantir que ele não esteja sendo maltratado de forma alguma”.

O deputado Mike Turner, presidente do Comitê de Inteligência da Câmara dos EUA, observou que o governo aconselhou os cidadãos americanos a deixarem a Rússia . “Isso não é inesperado, pois a Rússia está agindo como um estado ilegal neste momento. Não há leis, regras ou normas internacionais que eles estejam seguindo “, disse Turner, um republicano do Ohio, ao programa “State of the Union” da CNN.

Paul Whelan, um ex-fuzileiro naval dos EUA que foi preso por suposta espionagem, ouve o veredicto em um tribunal de Moscou em 15 de junho de 2020 Foto: Sofia Sandurskaya/Moscow News Agency via AP

Ao alegar que as autoridades americanas e a mídia estão promovendo a detenção de Gershkovich, as autoridades russas estão repetindo um tema que usaram nas apreensões da estrela do basquete Brittney Griner e de outros cidadãos americanos.

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O Kremlin disse que prefere resolver esses casos discretamente e enfatizou a necessidade de seguir o processo judicial da Rússia. Frequentemente, isso significa que a chance de progresso nos esforços dos EUA para libertar seus cidadãos detidos não é provável até que acusações formais sejam apresentadas, um julgamento seja realizado, uma condenação seja obtida e sentenças e recursos sejam concluídos.

Mais de 30 organizações de notícias e defensores da liberdade de imprensa escreveram ao embaixador russo nos Estados Unidos para expressar preocupação de que a Rússia esteja enviando a mensagem de que reportagens dentro do país são criminalizadas.

Na noite de sábado, Griner, que foi detida por 10 meses pelas autoridades russas antes de ser libertada em uma troca de prisioneiros pelo traficante de armas russo condenado Viktor Bout, emitiu um comunicado com sua esposa, Cherelle, pedindo a libertação do homem de 31 anos.

“Cada americano que é levado devemos lutar e cada americano devolvido é uma vitória para todos nós”, disse o casal em um comunicado publicado no Instagram.

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As interações entre os principais diplomatas dos EUA e da Rússia têm sido raras desde a invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022, embora eles tenham tido uma breve conversa no mês passado à margem da conferência do G-20 na Índia, quando Blinken e Lavrov se encontraram. Foram as conversas pessoais de mais alto nível entre os dois países desde a guerra.

Essa interação foi o primeiro contato desde o verão passado, quando Blinken conversou com Lavrov por telefone sobre uma proposta dos EUA para a Rússia libertar Whelan e Griner. Embora Whelan não tenha sido incluído na troca que resultou na libertação de Griner, as autoridades americanas disseram que continuam empenhadas em trazê-lo para casa./AFP, AP e EFE

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