Bloqueada da Otan pela Turquia, Finlândia trabalha para entrar na aliança

As esperanças dos finlandeses e dos suecos de serem aceitos como candidatos a adesão durante a cúpula nesta terça 28 foram esmagadas pelo governo turco

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Por Steven Erlanger

THE NEW YORK TIMES - Motivadas pela invasão da Rússia à Ucrânia, Finlândia e Suécia deram entrada no processo de adesão à Otan, antecipando uma entrada ligeira e tranquila na aliança. Em vez disso, ambos os países enfrentam dificuldades em sua candidatura, pois tiveram seu caminho bloqueado pelo imprevisível presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

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Com o início da cúpula anual da Otan marcado para 29 de junho, em Madri, suas expectativas de encontrar um caminho expedito para a adesão estão desaparecendo rapidamente, depois de Erdogan ter voltado atrás em suas promessas iniciais de não colocar obstáculos ao processo. Ibrahim Kalin, principal porta-voz de Erdogan para política externa, afirma que não existe nenhum cronograma para sua aprovação e chegou a mencionar o adiamento de um ano.

A Finlândia está especialmente frustrada, preocupada com sua fronteira de 1.340 quilômetros com a Rússia. Depois da invasão de 24 de fevereiro à Ucrânia, a Finlândia manobrou rapidamente para preparar sua candidatura, e diplomatas finlandeses, de acordo com o ministro de Relações Exteriores Pekka Haavisto, consultaram todos os 30 países-membros da Otan antecipadamente e obtiveram sinal verde de todos prontamente. Isso incluiu uma garantia pessoal do próprio Erdogan, afirmou o presidente finlandês, Sauli Niinisto.

Delegações de Turquia e Finlândia conversam sobre adesão finlandesa à Otan; Porta-voz de Erdogan, Ibrahim Kalin é o segundo da esquerda 

A Otan estava tão confiante de que o convite a ambos os países sucederia suavemente que chegou a coreografar uma série de eventos em torno da votação que aprovaria as candidaturas, em maio, que a aliança teve de cancelar quando a Turquia subitamente objetou.

Exigências turcas

Erdogan fez numerosas exigências, a maioria centrada em temas nacionalistas com impacto doméstico, como separatismo curdo, terrorismo e a extradição de alguns seguidores do líder de oposição no exílio Fethullah Gulen. Erdogan culpa Gulen, que vive nos Estados Unidos, pela tentativa de golpe de Estado fracassada que pretendeu tirá-lo do poder em 2016.

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A Turquia quer que Finlândia e Suécia fortaleçam suas leis antiterrorismo; extraditem certos indivíduos, incluindo vários jornalistas curdos; e eliminem um embargo informal sobre vendas de armas para a Turquia, imposto depois da intervenção militar turca no norte da Síria, em 2019.

Os finlandeses estão profundamente frustrados, mas o governo de seu país recomenda paciência, afirmou Haavisto em entrevista.

“A mesma legislação antiterrorismo vigora em quase todos os países da Otan”, afirmou ele, e “todos nós condenamos o PKK”, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, grupo que opera na Turquia e no Iraque e que a União Europeia e os EUA classificam como organização terrorista. “Portanto, sentimos que a pressão também não é apenas contra a Finlândia e a Suécia, mas contra alguns outros países da Otan em relação a este tema”, acrescentou.

Países da Otan deveriam ter critérios similares para todos os Estados, afirmou ele, “porque, de outra maneira, chegaríamos a uma situação em que diferentes Estados-membros da Otan adotariam diferentes critérios para os candidatos, e creio que isso resultaria em caos”.

Nesta segunda-feira, 27, foi realizada a primeira reunião em várias semanas entre autoridades suecas, finlandesas e turcas sob os auspícios da Otan, mas os resultados foram mínimos. “Não consideramos estar limitados por nenhum cronograma”, afirmou Kalin posteriormente. “A velocidade e o escopo deste processo dependem da maneira e da velocidade com que essas nações atendam nossas expectativas.”

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A maioria dessas demandas tem a ver com a Suécia e sua antiga e duradoura simpatia por refugiados curdos e pelo desejo curdo por autonomia, que a Turquia considera uma ameaça contra sua própria soberania. Ainda que países ocidentais condenem o PKK, eles têm dependido fortemente de curdos na Síria em sua luta contra o Estado Islâmico. E líderes curdos na Turquia abandonaram há muito tempo posições independentistas para se concentrar em autonomia e mais direitos para os curdos na Turquia.

Eleição

Erdogan disputará eleição em junho do próximo ano, e sua popularidade diminui no mesmo ritmo que a economia turca. O tema dos curdos é importante na Turquia, e agora Erdogan está jogando com o sentimento nacionalista, ao mesmo tempo em que suprime a dissidência política e o jornalismo independente.

Em entrevista a uma TV sueca, a ex-autoridade da Otan Stephanie Babst afirmou que a verdadeira agenda de Erdogan é doméstica. “Primeiramente, é uma mensagem para sua base eleitoral”, afirmou ela. “Ele tem uma eleição adiante. A situação econômica na Turquia está bem ruim, então ele quer demonstrar liderança. Ele quer demonstrar que é um líder importante, que é ouvido, e então ele está, temo dizer, usando a Suécia e a Finlândia para conseguir transmitir sua mensagem.”

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, mostrou cautela publicamente, afirmando que todos os membros da Otan têm direito de expressar suas próprias preocupações; que as preocupações turcas relativas a terrorismo são “legítimas” e devem ser ouvidas e respondidas; e está confiante em relação à adesão da Finlândia e da Suécia, mesmo que isso não ocorra na cúpula de Madri.

Mas Haavisto, ainda que pregue paciência e disposição de apaziguar as preocupações turcas, também nota que Erdogan está irritando seus aliados em um tempo de guerra, quando a segurança da Europa está em questão.

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“Devo dizer que a pressão está aumentando entre os outros membros da UE, ou outros Estados-membros da Otan, que eles gostariam de ver esse processo transcorrer suavemente ou rapidamente”, afirmou ele. “Especulação sobre poder haver um adiamento de um ano, até que passem as eleições turcas e outros fatores, seria uma grande decepção para muitos países da Otan também, não apenas para Finlândia e Suécia.”

Frustrações

Existe uma frustração comum entre os finlandeses, menor em relação aos seus líderes do que em relação à Turquia, afirmou Charly Salonius-Pasternak, do Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais. “Há uma noção de que isso deveria ser fácil e, portanto, decorre a frustração, que é definitivamente visível”, afirmou ele. “As pessoas acham que a Turquia tem duas caras.”

Também existe alguma irritação com a Suécia, onde o governo social-democrata minoritário foi vagaroso em seguir o exemplo da Finlândia e teme ofender seus apoiadores anteriormente às eleições, marcadas para setembro, ao ceder em relação às exigências da Turquia. Membros do partido têm um longo histórico de apoiar não alinhamento militar e movimentos políticos desfavorecidos, e muitos consideram Erdogan um líder autoritário que pisoteia direitos democráticos.

“Havia uma expectativa na Finlândia de que a Suécia pudesse deixar de lado desavenças políticas e as próximas eleições em nome da segurança nacional”, afirmou Salonius-Pasternak. “Mas ficou bem claro que a política partidária está de volta.”

Alguns na Finlândia temem que “andar de mãos dadas” com a Suécia acabará sendo contraproducente, afirmou ele, mas Niinisto e Haavisto rejeitam essa visão, citando a antiga aliança de segurança entre os dois países e sua importância para fortalecer a segurança da Otan no norte e no Mar Báltico.

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Haavisto também nota que os social-democratas suecos aumentaram sua popularidade, segundo pesquisas de opinião, desde a decisão de seguir a Finlândia na candidatura para adesão à Otan.

Os EUA apoiam publicamente as adesões da Suécia e da Finlândia, e Haavisto tem mantido contato constante com o secretário de Estado Antony Blinken, autoridades da Casa Branca e senadores americanos cruciais. O Congresso também tem sido amigável, e o Senado já prepara audiências para uma possível votação de ratificação da adesão ocorrer assim que os problemas com a Turquia forem resolvidos.

As legislaturas de todos os países da Otan têm de ratificar emendas ao tratado de fundação da aliança para a admissão de novos membros, processo que pode tardar até um ano.

Mas Haavisto afirma que Finlândia e Suécia receberam sólidas garantias de que países da Otan, individualmente, as acudiriam em questões de segurança nesse ínterim caso necessário, incluindo EUA, França, Reino Unido e Alemanha. “Portanto, nos sentimos seguros”, afirmou ele. “Mesmo neste momento não existe nenhum risco iminente para nossa segurança.”

“Neste tempo de espera”, disse Haavisto, ele recomenda aos amigos a leitura de “Guerra e Paz”, de Tolstoi. “Comecei a ler e espero que, quando acabar o livro”, afirmou ele, Finlândia e Suécia já sejam membros da Otan. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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