Direita radical vence na Itália, e Giorgia Meloni pode ser a primeira mulher premiê

Com quase todas as urnas apuiradas, coalizão de direita comandada pela líder do partido Irmãos da Itália poderá governar sem se aliar a outros partidos

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Por Redação
Atualização:

ROMA - A extrema direita populista saiu vitoriosa das eleições legislativas italianas realizadas no domingo, 25. Giorgia Meloni confirmou a vitória histórica nesta segunda, 26, com a divulgação dos resultados oficiais. Meloni, de 45 anos, líder do Fratelli d’Italia (Irmãos da Itália), poderá se tornar a primeira mulher a chefiar o governo da Itália – e a primeira política da ultradireita no poder desde o ditador Benito Mussolini, no posto entre 1922 e 1943.

A candidata que lidera uma aliança que uniu a centro direita e a extrema direta – formada pelo Irmãos da Itália, pela Liga, partido do populista Matteo Salvini, e pelo conservador Forza Italia, de Silvio Berlusconi – deve conseguir 44% dos votos.

Salvini, Berlusconi e Meloni em comício em Roma; tentativa de formar um governo estável, o que é raro na Itália Foto: Andreas Solaro / AFP

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Pelos resultados, a coalizão pode somar até 257 cadeiras na Câmara, 56 a mais do que o necessário para ter maioria, e 131 no Senado, 30 a mais. Com isso, não precisará negociar com outros partidos para aprovar pautas e confirmar Meloni no cargo. Ontem, o Partido Democrata, de centro-esquerda, reconheceu a derrota.

Com 99,75% das urnas apuradas, a coalizão de direitas formalizada ainda antes da campanha soma 43,84% dos votos para a a Câmara, encabeçados pelos 26,03% do FdI (em comparação com os 4,3% da última eleição). A Liga, também de extrema direita, teve 8,78%, desempenho aquém do esperado para o partido de Matteo Salvini. Já a Força Itália de Silvio Berlusconi somou 8,11%. Na disputa para o Senado, o trio lidera com 44,09%.

A coalizão de esquerdas teve apenas 26,14% dos votos para a Câmara, com o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, somando 19,07%, resultado quase idêntico ao de 2018. Para o Senado, ficou com 25,99%. O antissistema Movimento Cinco Estrelas (M5S) teve respectivamente 15,40% e 15,52%, segundo os dados do Ministério do Interior italiano, metade dos 32% de quatro anos atrás, quando conquistou a maior bancada.

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Líder do partido de extrema-direita, Irmãos da Itália, vota em uma seção eleitoral, em Roma  Foto: Yara Nardi / Reuters

O comparecimento às urnas foi de 63,91%, dez pontos percentuais a menos que os 73,68% registrados em 2018. É um recorde negativo para um país onde a abstenção não era tradicionalmente um problema, sinal da crescente apatia dos italianos diante de uma perpétua crise política que faz o país ter, em média, um novo governo a cada 14 meses.

O sistema de votação é misto, com parlamentares eleitos em disputas diretas e através de votação proporcional, portanto o número exato de cadeiras para cada partido ainda é desconhecido.

As projeções do canal RAI, cujas pesquisas de boca de urna mostraram-se acertadas, a coalizão tripartite pode somar entre 227 e 257 cadeiras na Câmara, mais que as 201 necessárias para ter maioria. No Senado, onde a maioria é 101, deve ter entre 114 e 166 assentos.

Assim, o trio não precisará negociar com outros partidos e blocos para aprovar pautas e, especialmente, para confirmar Meloni, de 45 anos, no cargo. Apesar de haver uma disputa de egos entre ela e os líderes da Liga, Matteo Salvini, e do Força Itália, o ex-premier Silvio Berlusconi, a votação maciça do FdI lhe dá favoritismo para ser formalmente encarregada pelo presidente Sergio Mattarella.

Ceticismo com a política na Itália

O ceticismo em relação à política na Itália é profundo, após 11 governos em 20 anos – primeiros-ministros têm ficado menos de 400 dias no cargo em média. Quase 51 milhões de italianos estavam aptos a votar, mas a abstenção de 36% foi recorde.

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O desalento com os políticos, disseram analistas, desestimula o voto. “Espero que vejamos pessoas honestas, e isso é muito difícil hoje”, disse Adriana Gherdo, em uma seção de votação em Roma. “A política italiana precisa mudar, e Meloni vai ser uma grande mudança”, disse Paola Puglisi, de 65 anos.

Federica Lombardi, 25, e sua irmã Emanuela Lombardi, 23, disseram ao The New York Times que cansaram das “bolhas liberais” e das promessas não cumpridas pelo Partido Democrata, em quem votavam. “Ela é verdadeira, ao contrário dos outros políticos, que seguem sempre o mesmo roteiro”, disse Federica.

Para Roberto D’Alimonte, cientista político da Universidade Luiss Guido Carli, em Roma, e escolha de Meloni não significa que a Itália “se move para a direita”. Segundo ele, os eleitores têm pouco interesse na história de Meloni e simplesmente a enxergam como a nova cara da centro-direita. “Os eleitores não a veem como uma ameaça.”

Para Gianluca Passarelli, professor de ciência política da Universidade Sapienza de Roma, Meloni pode ser considerada uma conservadora radical, mas não fascista. “Giorgia Meloni e seu partido não são fascistas. Fascismo significa tomar o poder e destruir o sistema. Ela não vai fazer isso e não poderia”, diz ele. “Mas há alas no partido ligadas ao movimento neofascista.”

Meloni terá desafios sem precedentes

Meloni vai ter enfrentar testes imediatos internos e na Europa, como os preços da energia e dos alimentos em alta e as divisões dentro de sua própria coalizão sobre a Rússia e a invasão da Ucrânia.

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Um ponto crucial do novo Gabinete será a execução do plano elaborado em parceria com a UE, no valor de € 200 bilhões (R$ 1,02 tri), e que exige a adoção de reformas no Estado — Meloni sugeriu rever o acordo, mas o Forza Italia quer manter os compromissos.

Meloni é contra a adoção de um programa de € 30 bilhões (R$ 152 bilhões) para que o Estado assuma dívidas e ajude famílias e empresas a pagarem suas contas de gás, proposta defendida por Salvini (e que levou a uma ríspida discussão entre os dois).

A provável premiê segue posições similares às de Draghi na economia, recusando-se a elevar o débito do país. Ainda sobre as relações com a UE, Meloni vem sinalizando que não tentará criar ou acirrar tensões com Bruxelas.

Em uma década como líder do Fratelli d’Italia, Meloni adotou posições extremas. Ela já defendeu a dissolução da zona do Euro e difundiu uma teoria conspiratória de que “forças anônimas” direcionam imigrantes em massa para a Itália para “substituição étnica”. Durante a campanha, porém, ela tentou se colocar como opção de centro e ganhou apoio para seu partido. Em várias ocasiões, ela reiterou que a Itália “pertence à Europa”, mas “lutará por seus interesses”. l AP, AFP, NYT e WP

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