O governo boliviano acusou o ex-presidente Evo Morales de montar “um teatro” a respeito do suposto atentado a tiros que ele diz ter sofrido por parte de policiais e militares, no domingo, 27, quando viajava por uma via do departamento de Cochabamba, bloqueada por seus seguidores há duas semanas. Segundo Morales, a versão do governo é “falsa e mentirosa” (veja mais abaixo).
Eduardo del Castillo, ministro de Governo boliviano, afirmou nesta segunda-feira, 28, que o incidente dos disparos ocorreu quando o ex-presidente tentou evitar um controle antidrogas da polícia. No domingo, 27, o ex-mandatário de 65 anos denunciou em um vídeo que seu veículo foi alvejado por 14 tiros. Confira abaixo.
“Investigação imediata e minuciosa”
Morales, que saiu ileso do suposto atentado no qual seu motorista ficou ferido, insistiu em culpar agentes do governo do presidente Luis Arce, que foi seu ministro mas que hoje se tornou um desafeto. “Senhor Morales, ninguém acredita no teatro que você armou, mas você vai responderá à Justiça boliviana pelo crime de tentativa de assassinato contra um militar”, disse Del Castillo ao ex-mandatário.
O ministro disse ainda que a polícia fez sinais para um dos veículos da caravana de Morales para que ele reduzisse a velocidade, mas o motorista desobedeceu a ordem. Relatou também que, a partir de um dos carros, foram feitos disparos contra os policiais e um deles foi atropelado. Após o incidente, o presidente Arce ordenou uma “investigação imediata e minuciosa” do caso.
O incidente agravou ainda mais a tensão na Bolívia. Desde o dia 14 de outubro, centenas de seguidores de Morales bloqueiam as vias de Cochabamba para exigir o fim da “perseguição judicial” contra seu líder.
Morales, o primeiro indígena a alcançar a presidência da Bolívia (2006-2019), é investigado pelo suposto abuso de uma menor em 2015, quando era presidente. Já durante as investigações, ele poderia preso, segundo o Ministério Público boliviano. Morales rejeita como “mais uma mentira” a acusação, e alega que a justiça investigou e encerrou o caso em 2020, sem encontrar nada contra ele.
Leia também
Versão “falsa e mentirosa”
Evo Morales disse nesta segunda que o governo de Arce quis eliminá-lo. “O atentado foi perpetrado por um grupo de elite militar e policial”, escreveu no X, ex-Twitter, ao mesmo tempo que exigiu as cabeças dos ministros Del Castillo e o da Defesa, Edmundo Novillo. “Se Luis Arce não deu as ordens para nos matar, deve destituir e processar imediatamente seus ministros”, defende.
O ex-presidente também desmentiu como “falsa e mentirosa” a versão do chefe da pasta de Governo sobre o controle antidrogas que desencadeou o incidente dos disparos.
Enquanto isso, a promotora Sandra Gutiérrez, que conduz o caso contra Morales, antecipou que na próxima quarta-feira, 30, se pronunciará sobre a investigação pelos supostos crimes de estupro e tráfico de pessoas. “Vamos emitir um relatório sobre todos os avanços dentro deste caso”, disse à imprensa, sem se referir à possível ordem de prisão contra Morales.
Os seguidores do ex-mandatário, entretanto, continuam protestando nas vias de Cochabamba, desta vez para pedir a renúncia de Arce, a quem culpam pela crise econômica derivada da escassez de dólares e combustível. Segundo a estatal Administradora Boliviana de Estradas (ABC), responsável pela infraestrutura dos transportes, o país registrava, nesta segunda, 22 pontos de bloqueio nas principais vias que ligam Cochabamba a La Paz, Oruro e Santa Cruz.
As perdas devido a esses bloqueios chegam a US$ 120 milhões (cerca de R$ 688 milhões), segundo estimativa do ministério do Desenvolvimento Produtivo e Economia Plural. “Pedimos a renúncia de (presidente) Luis Arce. Ele tem que convocar eleições. Chega!”, afirmou à AFP José Loayza, um produtor de trigo de 40 anos, em um dos pontos de bloqueio./AFP
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.