Bolívia tem histórico de golpes e crises

Presidente dura em média 2 anos no cargo

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Por Ariel Palacios
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A instabilidade é a principal característica da história política boliviana. Entre a independência, em 1825, e o fim da última ditadura militar, em 1982, os bolivianos presenciaram 193 golpes de Estado, incluindo as tentativas frustradas. Em média, o presidente costuma ocupar o cargo por apenas dois anos e um mês. Nenhuma outra nação sul-americana passou por tantas rebeliões contra governos em exercício - o que levou o correspondente internacional americano John Gunther a sentenciar, ainda em 1944: "A Bolívia não é um país, é um problema." O país registra vários outros recordes negativos. Detém a sombria marca de maior inflação da América do Sul - em 1985, em meio ao caos econômico, o índice chegou a 8.170,5% -, além de um apetite voraz por mudar a Constituição. Desde a independência, a Bolívia reescreveu sua Carta Magna 12 vezes. Os bolivianos também protagonizaram o único linchamento de um presidente registrado na América do Sul no século 20. A vítima foi Gualberto Villarroel, assassinado em 1946 por uma multidão que entrou na sede presidencial, jogou o presidente pela janela e, em seguida, o pendurou de cabeça para baixo em um poste diante do Palácio Quemado, a sede do governo. Villarroel, simpatizante do fascismo, entrou para a história com o apelido de El Colgado (O Pendurado). Em quatro ocasiões, os bolivianos também passaram por períodos de até 23 dias sem presidente. Do total de 84 chefes de governo (incluindo Evo Morales), 32 foram ditadores. De 2001 para cá, seis presidentes já ocuparam o gabinete em La Paz. Além dos tensões internas, a Bolívia teve problemas de fronteira com todos seus vizinhos: Argentina, Chile, Peru, Paraguai e Brasil. Os conflitos fizeram com que o país, por meio de guerras ou disputas diplomáticas, encolhesse seu território pela metade, passando de 2,3 milhões km² na época da independência para só 1 milhão de km² atualmente. Em 1879, a Bolívia perdeu sua saída ao mar para o Chile. No entanto, o país tem uma Marinha de Guerra, que sonha em voltar ao Pacífico e treina seus 5 mil homens no maior espaço de água que possui, o Lago Titicaca. Em 1903, foi a vez de outra redução territorial, quando La Paz entregou o Acre ao Brasil. A última perda ocorreu em 1935, quando teve de ceder o Chaco ao Paraguai. Mas apesar da instabilidade e das rebeliões militares, a Bolívia sofreu apenas um conflito civil, a "Guerra Federal", em 1989. O analista político argentino Jorge Castro considera que atualmente a Bolívia vive uma "guerra civil de baixa intensidade, que cresce a cada dia". A própria denominação da sede de governo - Palácio Quemado - ilustra a instabilidade boliviana. O nome surgiu em 1860, quando a população, durante um levante, queimou o palácio, que já foi cenário de várias crises institucionais.

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