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Renúncia de Boris Johnson: entenda as crises que implodiram o governo britânico

Primeiro-ministro deixou o cargo nesta quinta-feira, 7; principais meios de comunicação britânicos já apontavam como certa a queda de Johnson

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Por Redação
Atualização:

A renúncia de Boris Johnson como primeiro-ministro do Reino Unido é o ápice de uma série de crises que marcaram seu governo nos últimos anos. No cargo desde 2019, Johnson conduziu a implementação do Brexit, que hoje apresenta problemas econômicos ao país. Na gestão da pandemia, chegou minimizar a covid-19 e depois enfrentou críticas por descumprir regras sanitárias que seu próprio governo impôs. Nos últimos meses, vinha lidando com uma inflação cada vez mais fora de controle, além de denúncias de conflito de interesse dentro de seu próprio gabinete.

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No mês passado, Johnson já havia sobrevivido a uma moção de desconfiança do seu próprio partido. Na ocasião, 148 deputados conservadores votaram para tirá-lo do cargo, um número insuficiente para afastá-lo mas que mostrou seu enfraquecimento político.

Nesta quinta-feira, Johnson confirmou o fim do governo em um pronunciamento à imprensa em frente à sede do governo, no número 10 de Downing Street, em Londres. Sem um sucessor claro no Partido Conservador, Johnson irá permanecer como premiê interino até que a sua sigla resolver o impasse sobre a sucessão. Vários nomes circulam como possíveis candidatos para substituí-lo no comando do Reino Unido, mas a expectativa é que a nova liderança seja escolhida apenas em outubro.

Relembre os escândalos do governo Boris Johnson

Partygate: Enquanto os britânicos foram obrigados a ficar em casa, sem ver a família ou amigos devido à covid-19, em Downing Street, onde Johnson vive e trabalha, ocorreu todo o tipo de eventos, desde Natal, despedidas ou festas de aniversário até celebrações no jardim. A polícia britânica investigou e impôs 126 multas, incluindo uma ao primeiro-ministro, o primeiro chefe de governo em exercício a ser sancionado por violar a lei. Na época, eleitores descreveram as ações como uma “traição”.

Johnson e dois assessores; colar e champanhe em festa de Natal em dezembro de 2020. Foto: Mirrorpix/ Daily Mirror

A alta funcionária Sue Gray também produziu um relatório altamente crítico dos “altos funcionários” responsáveis por reuniões com excesso de álcool, brigas, saídas pela porta dos fundos tarde da noite e, ocasionalmente, falta de respeito pelo pessoal de segurança e limpeza. Johnson afirmou assumir “total responsabilidade”, mas se recusou a renunciar e sua legitimidade sofreu.

Conflito de interesses: As lucrativas atividades de lobby de alguns parlamentares conservadores provocaram indignação. O deputado Owen Paterson foi acusado de fazer lobby junto ao governo em nome de duas empresas que o pagaram. Johnson tentou mudar as regras para evitar ser suspenso do Parlamento, ganhando uma avalanche de críticas que o obrigou a recuar. Isso, entre outros casos de clientelismo e cutucadas, alimentou acusações de corrupção por parte da oposição.

'Culpado, expulsem-no', diz cartaz com foto de Boris Johnson carregado por manifestante em protesto em Londres. Foto: Tolga Akmen/ AFP - 13/04/2022

Obras luxuosas de seu apartamento: O primeiro-ministro afirmou ter pago do próprio bolso a luxuosa reforma do apartamento oficial que ocupa com sua família em Downing Street. Mas ele havia recebido uma doação, que depois teve de devolver, de um abastado partidário do Partido Conservador, que foi multado pela comissão eleitoral por não declará-lo.

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Gestão da pandemia: No início da pandemia, Johnson foi duramente criticado por sua gestão errática, acusado de não agir com rapidez suficiente e de não proteger os profissionais de saúde e os idosos nas residências. Grande parte dos próprios parlamentares conservadores se rebelou, votando contra a introdução de um passaporte de saúde para acessar grandes eventos, que foi finalmente aprovado graças aos votos da oposição trabalhista. Uma sondagem pública concluiu em outubro de 2021 que a pandemia ocasionou “um dos fracassos em saúde pública mais graves já vividos pelo Reino Unido”. No entanto, ele conseguiu esquecer as críticas ao seu manejo da covid-19 ao contar com uma campanha de vacinação bem-sucedida.

Boris Johnson ficou marcado por uma condução errática durante a pandemia, principalmente no começo. Foto: Ian Forsyth/Pool via REUTERS - 13/02/2021

Crise do custo de vida: A inflação descontrolada, que atingiu uma alta de 40 anos no Reino Unido, chegando a 9% ano a ano em maio, afetou a popularidade do governo, acusado de não fazer o suficiente para ajudar as famílias que lutam para sobreviver. mês. A alta nos preços de alimentos e energia, exacerbada desde o início da invasão russa da Ucrânia, deve piorar em outubro, quando é esperado um aumento acentuado no pico dos preços da energia no Reino Unido.

O Escândalo Pincher: Johnson promoveu o parlamentar conservador Chris Pincher, acusado de assédio sexual em 2017 e 2019, à posição de vice-líder de seu partido na Câmara dos Comuns em fevereiro, encarregado de disciplinar seus deputados. No final de junho, a imprensa britânica noticiou que Pincher havia supostamente tentado apalpar homens enquanto estava bêbado em um bar, o que fez o parlamentar pedir demissão. Questionado sobre o fato, Johnson alegou não saber das acusações anteriores envolvendo Pincher, entretanto teve sua versão desmentida pelo ex-chefe do serviço diplomático britânico, Simon McDonald. O gabinete do primeiro-ministro foi forçado, então, a voltar atrás e Johnson admitiu que cometeu um “erro” ao nomear Pincher./ AFP e WP

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