Boris Johnson enfrenta novas renúncias de ministros e conservadores articulam voto para derrubá-lo

Após renúncia de ministros do Tesouro e da Saúde, mais de 40 funcionários do governo fizeram o mesmo e aumentam a pressão sobre Johnson; premiê afirma que não vai renunciar

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Por Redação
Atualização:

LONDRES - O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, prometeu nesta quarta-feira, 6, permanecer no poder apesar das renúncias de vários ministros e funcionários do governo, que disseram que não poderiam mais servir sob sua liderança marcada por escândalos. Johnson disse aos legisladores que “o trabalho de um primeiro-ministro em circunstâncias difíceis, quando você recebe um mandato colossal, é continuar”.

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A continuidade de Johnson no poder foi abalada pelas renúncias na terça-feira do chefe do Tesouro Rishi Sunak e do ministro da Saúde Sajid Javid. Ambos disseram que não podiam mais apoiar Johnson por causa de seu tratamento de escândalos éticos, incluindo o caso de um alto funcionário acusado de má conduta sexual.

Johnson rapidamente substituiu os dois homens, mas uma série de ministros juniores também renunciou, e o apoio de Johnson dentro de seu Partido Conservador está diminuindo rapidamente. Segundo o levantamento do The Guardian, até o momento mais de 40 políticos renunciaram aos cargos que ocupavam no governo.

Ao ser o primeiro a renunciar, Javid fez acusações sérias ao governo, afirmando que os problemas estavam no alto-escalão. “Temo que o botão de reset só funcione algumas vezes. Há um limite de vezes que você pode ligar e desligar a máquina antes de perceber que algo está fundamentalmente errado. O problema está no topo e não vai mudar”, disse.

Uma captura feita a partir de imagens fornecidas pela TV Paliament do Reino Unido mostra o primeiro-ministro britânico Boris Johnson durante as perguntas do primeiro-ministro na Câmara dos Comuns Foto: Parliament Live TV/EPA/EFE

Nesta quarta, foi a vez do secretário de Estado para as crianças e famílias, Will Quince, anunciar sua saída do governo. Ele afirmou que “não tinha outra opção” depois de ter apresentado à imprensa informações proporcionadas pelo gabinete de Johnson que se revelaram inexatas. O ministro da Habitação, Stuart Andrew, também renunciou, dizendo que os conservadores não deveriam ter que “defender o indefensável”.

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Em um movimento inédito, cinco ministros renunciaram de uma só vez por meio de uma carta conjunta. “Tornou-se cada vez mais claro que o governo não pode funcionar dadas as questões que vieram à tona”, diz a carta. Assinam a demissão: Kemi Badenoch, ministra das igualdades; Neil O’Brien, ministro de nivelamento; Alex Burghart, ministro de habilidades; Lee Rowley, ministro dos negócios; e Julia Lopez, ministra de mídia, dados e infraestrutura digital.

Vários membros do governo, de menor escalão, seguiram o exemplo, em uma sangria que continuava na manhã desta quarta-feira. Também pediu demissão a vice-secretária de Estado para os Transportes, Laura Trott, que citou a perda de confiança no governo; o secretário de Estado para Educação, Robin Walker, lamentou ao apresentar o pedido de demissão que as “grandes conquistas do governo tenham sido ofuscadas por erros e questões de integridade”; o secretário de Estado de Finanças, John Glen, alegou “total falta de confiança” em Johnson ao pedir demissão; e James Daly, secretário particular do Departamento de Trabalho e Pensões, com a mesma alegação de perda de confiança.

Em uma carta direcionada a Boris Johnson, Daly escreveu que os eventos recentes mostraram que o premiê é “infelizmente, incapaz de liderar nosso governo e cumprir as políticas que mudarão vidas para melhor e criarão oportunidades para todos.”

Cada vez mais enfraquecido, mas sem querer deixar o cargo, o primeiro-ministro compareceu durante a manhã à sessão semanal de perguntas no Parlamento e durante a tarde ao denominado “Comitê de Ligação”, formado pelos presidentes das diferentes comissões parlamentares e responsável por examinar o trabalho do governo.

À noite, Johnson demitiu Michael Gove, secretário de nivelamento de habitação e comunidades, segundo os jornais britânicos BBC e The Guardian. De acordo com os jornalistas, mais de 10 fontes do governo disseram que o Gove foi demitido por “deslealdade”. Ele teria dito a Johnson que a posição dele era insustentável devido ao número de renuncias.

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Como Boris Johnson lida com as questões difíceis pode indicar se uma rebelião latente em seu Partido Conservador pode reunir força suficiente para derrubá-lo. Segundo uma política próxima ao premiê, Nadine Dorries, secretária de cultura, a prioridade dele no momento é “estabilizar o governo”.

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Para agravar ainda mais a sua situação, opositores esperam mudar as regras do Partido Conservador para permitir um novo voto de desconfiança que pode derrubar Johnson. Ele sobreviveu a um desses votos no mês passado, com 41% dos legisladores votando contra ele.

Johnson é conhecido por sua capacidade de ignorar escândalos, mas uma série de acusações de crimes o levaram à beira do precipício, e alguns de seus colegas parlamentares conservadores agora temem que o líder conhecido por sua afabilidade possa ser um risco nas eleições. Muitos também estão preocupados com a capacidade de um Johnson enfraquecido de governar em um momento de crescente tensão econômica e social.

Meses de descontentamento com o julgamento e a ética de Johnson dentro do Partido Conservador do governo explodiram com as renúncias de Sunak e Javid com poucos minutos de diferença na noite de terça-feira. Os dois pesos pesados do Gabinete foram responsáveis por abordar dois dos maiores problemas enfrentados pelo Reino Unido – a crise do custo de vida e a pandemia de covid-19 em andamento.

Uma captura feita a partir de imagens fornecidas pela TV Paliament do Reino Unido mostra o ex-secretário de Saúde britânico Sajid Javid discursando na Câmara dos Comuns após sua renúncia, em Londres Foto: TV Paliament/EPA/EFE

As duas renúncias aconteceram poucas horas depois de Johnson apresentar desculpas pela enésima vez, ao admitir que cometeu um “erro” por ter nomeado para um cargo parlamentar importante Chris Pincher, um conservador que renunciou na semana passada e reconheceu que apalpou, quando estava embriagado, dois homens, incluindo um deputado, em um clube privado do centro de Londres.

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Depois de afirmar o contrário em um primeiro momento, Downing Street reconheceu na terça-feira que o primeiro-ministro havia sido informado em 2019 sobre acusações anteriores contra Pincher, mas havia “esquecido”.

A isso se soma o fato de que, nos últimos meses, Johnson foi multado pela polícia e criticado pelo relatório de uma investigadora que aponta desrespeito às restrições contra a covid-19 impostas a outros, o escândalo que ficou conhecido como Partygate.

Manobra contra Johnson

Grande vencedor das eleições legislativas de dezembro de 2019, quando conseguiu a maioria conservadora mais importante em décadas graças à promessa de concretizar o Brexit, o primeiro-ministro perdeu grande parte da popularidade. As pesquisas mostram que a maioria dos britânicos o considera um “mentiroso”.

Johnson será investigado por uma comissão parlamentar para determinar se enganou de maneira consciente os deputados quando, em dezembro, negou as festas que foram organizadas durante os confinamentos. E o fato de ter afirmado que não sabia das acusações contra Pincher quando muitos alegaram o contrário e de ter reconhecido o “esquecimento” reforça as acusações de que o primeiro-ministro brinca com a verdade.

Derrotas eleitorais recentes, como a de 23 de junho em duas legislativas parciais, estão convencendo um número crescente de rebeldes dentro do Partido Conservador de que Johnson não pode mais liderar o partido nas eleições gerais previstas para 2024.

O primeiro-ministro sobreviveu no início de junho a um voto de desconfiança, uma iniciativa de rebeldes do partido para tentar afastá-lo do poder. Apoiado por 211 dos 359 deputados conservadores, Johnson conseguiu permanecer no cargo, mas os 148 votos contra ele deixaram evidente o descontentamento interno.

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As regras do partido estabelecem que este procedimento não pode ser repetido durante 12 meses, mas muitos conservadores querem uma mudança para voltar a tentar a manobra contra Johnson. As eleições para o executivo do comitê que estabelece as regras do partido devem ocorrer nas próximas semanas.

Johnson assiste acontecer consigo cenas semelhantes que levaram à queda de sua antecessora, Theresa May. Ao não conseguir levar adiante os acordos para o Brexit, May sobreviveu a um voto de desconfiança de seu partido, mas foi obrigada a renunciar meses depois quando se viu encurralada por rebeldes. Margaret Thatcher teve o mesmo destino.

O primeiro-ministro britânico Boris Johnson levantando um copo durante uma festa em Downing Street, em meio à pandemia em Londres, em 13 de novembro de 2020 Foto: ITV News/Handout via Reuters

As crises de Boris Johnson

São vários os escândalos que colocam o cargo do primeiro-ministro britânico em risco neste momento. O que começou com festas durante a pandemia chega ao ápice agora com escândalos de assédio sexual.

Partygate: Enquanto os britânicos foram obrigados a ficar em casa, sem ver a família ou amigos devido à covid-19, em Downing Street, onde Johnson vive e trabalha, ocorreu todo o tipo de eventos, desde Natal, despedidas ou festas de aniversário até celebrações no jardim. A polícia britânica investigou e impôs 126 multas, incluindo uma ao primeiro-ministro, o primeiro chefe de governo em exercício a ser sancionado por violar a lei.

A alta funcionária Sue Gray também produziu um relatório altamente crítico dos “altos funcionários” responsáveis por reuniões com excesso de álcool, brigas, saídas pela porta dos fundos tarde da noite e, ocasionalmente, falta de respeito pelo pessoal de segurança e limpeza. Johnson afirmou assumir “total responsabilidade”, mas se recusou a renunciar e sua legitimidade sofreu.

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Conflito de interesses: As lucrativas atividades de lobby de alguns parlamentares conservadores provocaram indignação. O deputado Owen Paterson foi acusado de fazer lobby junto ao governo em nome de duas empresas que o pagaram. Johnson tentou mudar as regras para evitar ser suspenso do Parlamento, ganhando uma avalanche de críticas que o obrigou a recuar. Isso, entre outros casos de clientelismo e cutucadas, alimentou acusações de corrupção por parte da oposição.

Um manifestante segura uma placa do lado de fora do Parlamento britânico em Londres Foto: Matt Dunham/AP

Obras luxuosas de seu apartamento: O primeiro-ministro afirmou ter pago do próprio bolso a luxuosa reforma do apartamento oficial que ocupa com sua família em Downing Street. Mas ele havia recebido uma doação, que depois teve de devolver, de um abastado partidário do Partido Conservador, que foi multado pela comissão eleitoral por não declará-lo.

Gestão da pandemia: No início da pandemia, Johnson foi duramente criticado por sua gestão errática, acusado de não agir com rapidez suficiente e de não proteger os profissionais de saúde e os idosos nas residências. Grande parte dos próprios parlamentares conservadores se rebelou, votando contra a introdução de um passaporte de saúde para acessar grandes eventos, que foi finalmente aprovado graças aos votos da oposição trabalhista. No entanto, ele conseguiu esquecer as críticas ao seu manejo da covid-19 ao contar com uma campanha de vacinação bem-sucedida.

Crise do custo de vida: A inflação descontrolada, que atingiu uma alta de 40 anos no Reino Unido, chegando a 9% ano a ano em maio, afetou a popularidade do governo, acusado de não fazer o suficiente para ajudar as famílias que lutam para sobreviver. mês. A alta nos preços de alimentos e energia, exacerbada desde o início da invasão russa da Ucrânia, deve piorar em outubro, quando é esperado um aumento acentuado no pico dos preços da energia no Reino Unido.

O Escândalo Pincher: Johnson admitiu que cometeu um “erro” ao nomear Chris Pincher em fevereiro como vice-chefe do grupo parlamentar conservador, encarregado de disciplinar seus deputados. Pincher renunciou na semana passada depois de ser acusado de apalpar dois homens./AP e AFP

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