Boris Johnson renuncia após rebelião no partido e britânicos terão novo premiê até outubro

Principais meios de comunicação britânicos já apontavam a queda do primeiro-ministro como certa nesta quinta, após Downing Street anunciar pronunciamento para hoje

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Por Redação
Atualização:

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, renunciou nesta quinta-feira, 7, ao cargo após meses de crise política motivada por uma série de escândalos em sua gestão – das festas ilegais no gabinete durante a pandemia a suspeitas de conflito de interesse na nomeação de funcionários.

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Sem a confiança do seu Partido Conservador, Johnson enfrentou nos últimos dias renúncias em massa de secretários, ministros e assessores, com mais de 50 funcionários do gabinete deixando seus cargos. A rebelião dentro do partido tornou inviável sua permanência no cargo.

Um novo premiê deve ser escolhido pelo partido até outubro. Enquanto isso, Johnson segue no poder, na chefia de um governo paralisado, em meio à crise provocada pela alta da inflação e problemas na implementação do Brexit. Um novo premiê deve ser escolhido pelo partido até outubro. Para isso, o primeiro passo é a eleição para quem será o novo líder do Partido Conservador, que será definida pela bancada torie na Câmara dos Comuns.

Essa votação às vezes traz surpresas e nem sempre o favorito é o escolhido pelos deputados. Nesta quinta-feira, 7, o deputado britânico Tom Tungendhat anunciou a pretensão de suceder a Johnson. O processo da campanha deve durar três meses e, ao final dele, a rainha Elizabeth convida o vencedor a formar um governo.

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Johnson confirmou o fim do governo em um pronunciamento à imprensa em frente à sede do governo, no número 10 de Downing Street, em Londres. “É claramente a vontade do grupo parlamentar conservador que haja um novo líder do partido e, portanto, um novo primeiro-ministro”, afirmou, após hesitar por dias em deixar o cargo.

O premiê ainda atribuiu a renúncia ao comportamento de manada da bancada do partido na Câmara dos comuns e argumentou que não merecia deixar o cargo, que qualificou de melhor emprego do mundo.

“Nos últimos dias, tentei convencer meus colegas de que seria inadequado mudar governos quando estamos entregando tanto e quando temos uma bancada tão ampla.Mas como vimos, no Parlamento britânico o instinto de rebanho é poderoso, quando o rebanho se move, ele se move.”

Boris Johnson, primeiro-ministro britânico


Primeiro-ministro britânico deixa a residência oficial de Downing Street, em Londres  Foto: EFE/EPA/ANDY RAIN

Governo em desarranjo

O novo ministro das Finanças, Nadhim Zahawi, nomeado na terça-feira depois que do pedido de demissão de Sunak, uniu-se nesta quinta-feira aos pedidos de renúncia de Johnson. Em uma publicação no Twitter, Zahawi escreveu: “Primeiro-ministro: isso não é sustentável e só vai piorar: para você, para o Partido Conservador e o mais importante de tudo, para o país. Vcê deve fazer a coisa certa e ir agora.”

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, afirmou que a perspectiva de renúncia do primeiro-ministro é uma boa notícia. “A única maneira de o país ter o recomeço que merece é se livrar desse governo conservador”, disse.

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”Foram os 2 ou 3 dias mais notáveis na política britânica”, destaca o pesquisador em história e ciência política britânica, Joe Mulhall.”Atualmente não temos um governo em funcionamento no Reino Unido. Não temos ministros. Todos os cargos-chave do governo britânico se demitiram, então quem está administrando nosso governo está amarrado agora.”

Tudo isso, ele aponta, não poderia ocorrer em um pior momento. Eleito para fazer o Brexit acontecer, Johnson deixa o cargo com um Reino Unido sentindo os primeiros efeitos – negativos – do plebiscito que ocorreu em 2016. O país caminha para uma crise econômica, impulsionada pela pandemia e pela guerra na Ucrânia como o resto do mundo, mas agravada pelo Brexit.

“Temos mais de 10% de inflação agora. Nunca tinha visto isso na minha vida. Estamos caminhando para uma crise, e parte por causa do Brexit, mas também por causa da pandemia e do governo. É como uma tempestade perfeita”, afirma Mulhall.

As tentativas de Johnson em permanecer no cargo lançaram questionamentos de se ele teria a coragem de convocar novas eleições – que dependeria da aprovação da Rainha – e forçou seus próprios colegas de partido a considerarem mudanças nas regras internas para promover um novo voto de desconfiança em um período de tempo menor.

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Danos à democracia

Até o anúncio de hoje, não havia certeza de que Boris Johnson renunciaria ou tentaria o possível para se manter no poder mesmo sem apoio político. Para Mulhall, os anos Johnson podem danificar a democracia britânica.

“Os mecanismos para a mudança de líderes nessas situações giravam em torno de honestidade, dignidade, constrangimento social. Mas com alguém como Boris Johnson, que não tem dignidade e está disposto a fazer qualquer coisa pelo poder, as regras não escritas da Constituição são colocadas em xeque. Não havia muitas alternativas para tirá-lo do cargo.”

Série de escândalos

Johnson é conhecido por sua capacidade de ignorar escândalos, mas uma série de acusações criminais o levaram à beira do precipício, e alguns de seus colegas parlamentares conservadores temiam que o líder conhecido por sua afabilidade pudesse ser um risco nas eleições. Muitos também estavam preocupados com a capacidade de um Johnson enfraquecido de governar em um momento de crescente tensão econômica e social.

Meses de descontentamento com o julgamento e a ética de Johnson dentro do Partido Conservador do governo explodiram com as renúncias de Sunak e Javid com poucos minutos de diferença na noite de terça-feira. Os dois pesos pesados do Gabinete foram responsáveis por abordar dois dos maiores problemas enfrentados pelo Reino Unido – a crise do custo de vida e a pandemia de covid-19 em andamento.

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As duas renúncias aconteceram poucas horas depois de Johnson apresentar novas desculpas ao admitir que cometeu um “erro” por ter nomeado para um cargo parlamentar importante Chris Pincher, um conservador que renunciou na semana passada e reconheceu que apalpou, quando estava embriagado, dois homens, incluindo um deputado, em um clube privado do centro de Londres.

Depois de afirmar o contrário em um primeiro momento, Downing Street reconheceu na terça-feira que o primeiro-ministro havia sido informado em 2019 sobre acusações anteriores contra Pincher, mas havia “esquecido”.

A isso se soma o fato de que, nos últimos meses, Johnson foi multado pela polícia e criticado pelo relatório de uma investigadora que aponta desrespeito às restrições contra a covid-19 impostas a outros, o escândalo que ficou conhecido como Partygate.

As crises de Boris Johnson

São vários os escândalos que colocam o cargo do primeiro-ministro britânico em risco neste momento. O que começou com festas durante a pandemia chega ao ápice agora com escândalos de assédio sexual.

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Partygate: Enquanto os britânicos foram obrigados a ficar em casa, sem ver a família ou amigos devido à covid-19, em Downing Street, onde Johnson vive e trabalha, ocorreu todo o tipo de eventos, desde Natal, despedidas ou festas de aniversário até celebrações no jardim. A polícia britânica investigou e impôs 126 multas, incluindo uma ao primeiro-ministro, o primeiro chefe de governo em exercício a ser sancionado por violar a lei.

A alta funcionária Sue Gray também produziu um relatório altamente crítico dos “altos funcionários” responsáveis por reuniões com excesso de álcool, brigas, saídas pela porta dos fundos tarde da noite e, ocasionalmente, falta de respeito pelo pessoal de segurança e limpeza. Johnson afirmou assumir “total responsabilidade”, mas se recusou a renunciar e sua legitimidade sofreu.

Conflito de interesses: As lucrativas atividades de lobby de alguns parlamentares conservadores provocaram indignação. O deputado Owen Paterson foi acusado de fazer lobby junto ao governo em nome de duas empresas que o pagaram. Johnson tentou mudar as regras para evitar ser suspenso do Parlamento, ganhando uma avalanche de críticas que o obrigou a recuar. Isso, entre outros casos de clientelismo e cutucadas, alimentou acusações de corrupção por parte da oposição.

Um manifestante segura uma placa do lado de fora do Parlamento britânico em Londres  Foto: Matt Dunham/AP Photo

Obras luxuosas de seu apartamento: O primeiro-ministro afirmou ter pago do próprio bolso a luxuosa reforma do apartamento oficial que ocupa com sua família em Downing Street. Mas ele havia recebido uma doação, que depois teve de devolver, de um abastado partidário do Partido Conservador, que foi multado pela comissão eleitoral por não declará-lo.

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Gestão da pandemia: No início da pandemia, Johnson foi duramente criticado por sua gestão errática, acusado de não agir com rapidez suficiente e de não proteger os profissionais de saúde e os idosos nas residências. Grande parte dos próprios parlamentares conservadores se rebelou, votando contra a introdução de um passaporte de saúde para acessar grandes eventos, que foi finalmente aprovado graças aos votos da oposição trabalhista. No entanto, ele conseguiu esquecer as críticas ao seu manejo da covid-19 ao contar com uma campanha de vacinação bem-sucedida.

Crise do custo de vida: A inflação descontrolada, que atingiu uma alta de 40 anos no Reino Unido, chegando a 9% ano a ano em maio, afetou a popularidade do governo, acusado de não fazer o suficiente para ajudar as famílias que lutam para sobreviver. mês. A alta nos preços de alimentos e energia, exacerbada desde o início da invasão russa da Ucrânia, deve piorar em outubro, quando é esperado um aumento acentuado no pico dos preços da energia no Reino Unido.

O Escândalo Pincher: Johnson admitiu que cometeu um “erro” ao nomear Chris Pincher em fevereiro como vice-chefe do grupo parlamentar conservador, encarregado de disciplinar seus deputados. Pincher renunciou na semana passada depois de ser acusado de apalpar dois homens./ Com informações de AFP e AP

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