O governo brasileiro afirma ter recebido com grande preocupação o anúncio da incursão terrestre que Israel prepara em Rafah, no sul da Faixa de Gaza. Em nota divulgada nesta terça-feira, 13, o ministério das Relações Exteriores alerta para “graves consequências” da operação e volta a pedir por cessar-fogo.
“Tal operação, se levada a cabo, terá como graves consequências, além de novas vítimas civis, um novo movimento de deslocamento forçado de centenas de milhares de palestinos, como vem ocorrendo desde o início do conflito”, afirma o comunicado.
“Estima-se que 80% dos habitantes de Gaza tenham sido obrigados a deixar suas casas, e a maioria deles na direção de Rafah, indicada inicialmente como área segura pelas autoridades israelenses”, diz a nota, citando dados da ONU de deslocados pelo conflito.
O sul de Gaza abriga o grupo com 19 brasileiros que ainda espera para deixar o enclave e fugir da guerra. Eles estão concentrados perto da passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, onde os ataques aéreos se intensificaram à espera da ofensiva por terra.
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No texto, o governo brasileiro também reafirma o pedido por cessar-fogo ao que Israel se opõe. Isso porque, na visão de Tel-Aviv, a trégua prolongada permitiria a reorganização do grupo terrorista Hamas, que matou 1,2 mil pessoas e levou mais 240 como reféns no ataque de 7 de outubro, o estopim para a guerra.
Sem mencionar diretamente o ataque terrorista, o governo defende ainda a liberação dos reféns em poder do Hamas como um dos passos para superar a crise em Gaza.
Pressão internacional contra operação em Rafah
Com a posição, o Brasil se soma à crescente pressão internacional contra operação terrestre em Rafah. A cidade, na fronteira com o Egito, é a última ao sul do enclave e hoje abriga cerca de metade dos dois milhões de habitantes de Gaza. Muitos, são deslocados pelo conflito, que passaram a viver em abrigos improvisados.
O secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, o ex-premiê David Cameron já se disse “profundamente preocupado” com a perspectiva de uma ofensiva em Rafah ao defender uma pausa imediata nos combates.
Na mesma linha, o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, o primeiro-ministro da Escócia, Humza Yousaf, e a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, alertaram que a ofensiva em Rafah seria uma catástrofe humanitária.
Já os Estados Unidos, principal aliado de Israel, tem alertado repetidamente que os civis devem ser protegidos na possível operação em Rafah.
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, por outro lado, justifica que a incursão terrestre no sul de Gaza é necessária para cumprir o objetivo declarado da guerra: “eliminar” o Hamas. Netanyahu promete que os civis terão passagem segura, mas ainda não está claro para onde eles iriam já que o enclave está sitiado e o Egito resiste em abrir a fronteira.
Cairo teme a instabilidade no Sinai, uma zona militar sensível, e não quer ser visto como cúmplice do deslocamento forçado de palestinos. Diante do impasse, o país tem alertado que a operação em Rafah pode levar ao rompimento do acordo de paz de 1979, quando o Egito se tornou o primeiro país árabe a reconhecer o Estado de Israel.
Polêmicas envolvendo a guerra em Gaza
O governo Luiz Inácio Lula da Silva já foi duramente criticado por posições consideradas contraditórias com a tradição da política externa brasileira no conflito árabe-israelense. O petista já acusou Israel de “terrorismo” e usou a palavra “genocídio” ao falar sobrea a guerra em Gaza.
Mais recentemente, o Brasil decidiu apoiar a ação da África do Sul, que denunciou Israel por genocídio na Corte Internacional de Justiça. O endosso foi rebatido pela comunidade israelense e por uma centena de empresários que, em manifesto direcionado ao presidente Lula, pediram que a posição fosse revista;
O ex-chanceler Celso Lafer, chegou a escrever uma carta ao ministro das Relações Exteriores de Lula, Mauro Vieira. No texto, o diplomata afirmava que o apoio à ação é incoerente com a tradição brasileira.
Em entrevista ao Estadão, ele explicou que é leviano acusar Israel de cometer genocídio e alertou que a decisão poderia arranhar a imagem do Brasil lá fora. “Essa decisão compromete a credibilidade internacional do Brasil em muitas instâncias. E complica a presença do Brasil no mundo. É um entre outros equívocos da diplomacia do governo Lula”, disse Lafer.
A acusação toca em um ponto extremante sensível para Israel. Isso porque o termo genocídio foi cunhado pela primeira para descrever o Holocausto - um trauma que está na raiz do apoio internacional à criação do próprio Estado israelense.
Ao julgar as medidas cautelares pedidas pela África do Sul, a Corte rejeitou a ordem para que Israel parasse a guerra em Gaza, mas pediu o cumprimento da Convenção da ONU contra Genocídio.
Leia nota na íntegra
O governo brasileiro recebe, com grande preocupação, o recente anúncio, por parte de autoridades israelenses, de preparação de nova operação militar terrestre em Gaza, desta vez no Sul, na região de Rafah, na fronteira com o Egito. Tal operação, se levada a cabo, terá como graves consequências, além de novas vítimas civis, um novo movimento de deslocamento forçado de centenas de milhares de palestinos, como vem ocorrendo desde o início do conflito.
O início dos deslocamentos forçados, primeiramente do Norte para o Sul de Gaza, a partir de 8 de outubro, é elemento indissociável da dramática crise humanitária vivida há quatro meses pela população de Gaza, e mereceu a condenação do Brasil e de boa parte dos países, à luz do direito internacional e do direito internacional humanitário. Estima-se que 80% dos habitantes de Gaza tenham sido obrigados a deixar suas casas, e a maioria deles na direção de Rafah, indicada inicialmente como área segura pelas autoridades israelenses.
O governo brasileiro reitera sua conclamação em favor da cessação das hostilidades e da libertação dos reféns em poder do Hamas como passos para a superação da crise humanitária em Gaza. E reafirma seu compromisso com uma solução de dois Estados, com um Estado da Palestina viável, convivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas, que incluem a Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental como sua capital.
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