Brasil e Japão devem fechar cerca de 70 acordos durante visita de Lula a Tóquio

Governo japonês apresenta estimativa alta e sinaliza que o mercado de carne bovina, alvo de cobiça do agro nacional, ainda tem pendências a cumprir do lado brasileiro

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Foto do author Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA - Brasil e Japão devem fechar cerca de 70 acordos, nas esferas pública e privada, durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Tóquio, na semana que vem. A estimativa é do governo japonês.

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O presidente Lula e o premiê Shigeru Ishiba terão uma reunião de trabalho, com assinatura de atos governamentais, como memorandos de entendimentos e intenções. Os anúncios previstos na viagem também incluem negócios privados - formalização de investimentos não estão descartadas.

Motivo de grande cobiça do agronegócio brasileiro e de expectativa política de Lula, a abertura do mercado japonês de carne bovina (estimado em US$ 4 bilhões) às exportações brasileiras ainda tem pendências a serem cumpridas. Autoridades sanitárias e fitossanitárias dos dois governos seguem em discussões técnicas.

Governo japonês estima que 70 acordos - públicos e privados - serão assinados após reunião de Lula com o premiê Ishiba Foto: Ricardo Stuckert / PR

Entre elas, estão uma missão de inspeção técnica japonesa a frigoríficos no Brasil e o reconhecimento internacional - a certificação - como rebanho livre de febre aftosa sem vacinação.

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A inspeção ainda não tem data para ocorrer, e o governo Lula espera retornar de Tóquio com um compromisso político de agendá-la. O governo brasileiro prevê que vai obter a certificação internacional em maio, na Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA).

Os japoneses indicaram ao governo brasileiro a grande questão é a segurança alimentar e que esperam que o Brasil consiga avançar nos processos para poder iniciar a importação. Já do lado brasileiro há receio de interferência pela conjuntura geopolítica.

Segundo sinalizações do Japão, porém, não haveria constrangimentos políticos por causa da potencial concorrência com os produtores de gado de corte dos Estados Unidos e da Austrália (que dominam cerca de 80% do fornecimento), apesar da relação próxima e estratégica, inclusive militar, entre os países e da guerra comercial e tarifária disparada por Donald Trump.

O Estadão já ouviu também relatos reservados, de diplomatas dos dois países envolvidos na negociação, segundo os quais existe temor de competitividade de preço com produtores nacionais japoneses, mas que o acesso da carne brasileira seria positivo para os consumidores internos.

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O governo japonês diz que ambos, Brasil e EUA, são parceiros-chave no comércio baseado em regras e que não serão tomadas decisões arbitrárias em importar ou barrar produtos de um país ou outro.

Os japoneses dizem que quando o Brasil conseguir fornecer as informações necessárias e atingir os critérios sanitários, o Japão estará aberto à importação.

O viés de negócios é um dos mais relevantes da visita de Estado de Lula, sua quinta viagem ao Japão. Autoridades japonesas esperam uma comitiva com números bem acima de 100 executivos de empresas brasileiras, entre elas a JBS e a Embraer, como antecipou o Estadão.

Os governos querem mostrar resultados e ações concretas da parceria. O governo japonês diz que essa é uma estimativa conservadora, que vai demonstrar o momento de crescimento da cooperação bilateral.

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As áreas-chave são clima, energia, ciência, inovação, tecnologias, aeroespacial e inteligência artificial.

Lula e a primeira-dama rosângela da Silva, a Janja, serão recebidos no Palácio Imperial, no dia 25 de março, pelo imperador Naruhito e pela imperatriz Masako, em visita com o mais alto grau de deferência, com banquete e cerimônias de honra. O imperador recebe apenas um chefe de Estado dessa forma por ano - e as visitas foram interrompidas em 2019.

O governo japonês diz que a visita de Lula tem três campos-chave: a manutenção da paz e estabilidade globais - já que o Brasil é uma liderança no Sul Global e preside o Brics e a COP-30, em um cenário de incertezas; a promoção de negócios e investimentos; e os 130 anos de amizade entre os países.

A visão do governo do Japão é que a ordem internacional está em jogo e que o Brasil, sendo um parceiro-chave no cenário, terá apoio e comprometimento total do Japão, por exemplo, com o Acordo de Paris e no combate à mudança climática. O governo japonês defende o recurso a instituições multilaterais e demonstra interesse na transição energética.

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Como retribuição, em junho a família imperial vai enviar ao Brasil a princesa Kako. A viagem dela está programada para ocorrer na primeira quinzena de junho.

Visitas de príncipes e princesas japoneses ao Brasil são frequentes. A cada dez anos, o Japão faz questão de enviar um membro da Casa Imperial para saudar a presença da comunidade nipônica no País, a maior do mundo no exterior, estimada atualmente em 2,7 milhões de imigrantes. Para efeito de comparação, é quase o dobro da comunidade japonesa nos Estados Unidos, estimada em 1,5 milhão.