SÃO PAULO - O Brasil enviará mais dez militares à Síria para atuar como observadores, responsáveis por monitorar o acordo de paz costurado há um mês pelo mediador da ONU, Kofi Annan.
Veja também: Damasco tem eleições em clima de violência Premiê turco quer 3 mil observadores da ONU na Síria Nível de violência na Síria é 'inaceitável', diz Kofi AnnanA informação foi dada à BBC Brasil pelo único brasileiro que hoje integra a equipe de mediadores estrangeiros da ONU, o capitão de mar-e-guerra Alexandre Feitosa. Fontes do Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) confirmaram o envio de mais brasileiros ao país. No mesmo dia, o enviado da ONU, Kofi Annan, disse ao Conselho de Segurança que a violência no país permanece em "níveis inaceitáveis". Annan afirmou que a presença de observadores da ONU apenas acalmou a crise. Segundo ele, o acordo de paz é a "última chance de estabilizar" a Síria e evitar uma guerra civil. De acordo com o militar brasileiro, o grupo de novos observadores chegará a Damasco até o fim da próxima semana. O envio dos militares é uma resposta do governo a uma solicitação da ONU e faz parte da estrategia brasileira de fazer do país um ator mais influente no Oriente Médio. Cidades monitoradas Atualmente a ONU possui 39 militares na Síria. Eles estão distribuídos em postos permanentes de observação nas cidades de Homs, Hama, Daraa e Idlib. Segundo Feitosa, um novo posto de observação será estabelecido nesta quarta-feira , 9, em Alepo. "Mais 150 observadores chegarão até o fim da próxima semana, o que ampliará o nosso raio de ação", afirmou Feitosa. O Conselho de Segurança da ONU autorizou o envio de um total de 300 observadores ao país por até 90 dias. Segundo estimativa da ONU, desde o início dos conflitos há mais de um ano, cerca de 9.000 oposicionistas foram mortos na Síria. Destruição Assim como disse Annan, Feitosa afirmou que a presença dos observadores tem ajudado a acalmar os ânimos das forças do regime de Bashar Assad e combatentes da oposição. Feitosa disse, porém, o barulho de combates entre os dois lados acontece em algumas ocasiões. "Assim que o combate acaba nós vamos ao local tentar apurar o que aconteceu", disse. Segundo o capitão de mar-e-guerra, episódios de tiroteios com armas leves (fuzis e armas curtas) são mais comuns. "Mas houve ocasiões em que ouvimos ataques pesados com morteiros e AT-4 [lança-rojão]", disse. Veículos blindados e armas pesadas das forças de Assad continuam presentes nas cidades, de acordo com o brasileiro, violando os termos do acordo de paz da ONU. Feitosa, que serviu no Haiti durante os meses mais crônicos do conflito no país caribenho, afirmou que os cenários dos dois países são bastante diferentes. Enquanto na primeira fase da missão da ONU no Haiti não havia governo presente nem forças do Estado, além de uma pobreza extrema, na Síria há forte presença governamental e um Exército organizado, ressalta. Por outro lado, nos combates no Haiti os rebeldes não possuíam armas pesadas, como morteiros e artilharia. Os combates eram com armas mais leves, como fuzis, metralhadoras e granadas, diferente do armamento pesado usado na Síria, segundo Feitosa. Protestos Feitosa comparou ainda as situações em Hama e Homs, onde esteve recentemente. Em Hama, a oposição não ocupa uma área específica da cidade. Já em Homs, forças opositoras e partidários do regime ocupam bairros diferentes. "De um lado você encontra manifestações pró-governo e quando passa para o outro lado encontra as manifestações dos opositores". Ele afirmou ainda que o acesso da imprensa internacional ao país está sendo facilitado pelo governo. Essa havia sido uma das exigências do acordo mediado por Annan. "Hoje (terça-feira) um comboio de 20 carros da imprensa acompanhou nossa patrulha", afirmou.
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