‘Brasil não pode se omitir: fora Maduro’, diz Helder; veja reação de ministros e opositores de Lula

Governador do Pará, cotado para formar como vice a chapa de reeleição com Lula em 2026 cobra reação e rejeita ‘condenação seletiva de golpistas’

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Foto do author Felipe Frazão

BRASÍLIA - O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), reagiu nesta sexta-feira, dia 10, de forma crítica e cobrou o governo Lula, de quem é aliado, após a participação da diplomacia brasileira na posse do ditador Nicolás Maduro, na Venezuela. Ele é cotado para formar, como vice, a chapa de reeleição com Lula em 2026.

“Quem defende a democracia tem de abominar a ditadura de Maduro e condenar a opressão do regime. Não podemos fazer condenações seletivas a golpistas. O Brasil não pode se omitir: fora Maduro!”, manifestou Barbalho, nas redes sociais. O político paraense fez um paralelo ao discurso em defesa da democracia e a favor da punição de envolvidos na trama de golpe de Estado, difundido no plano doméstico pelo presidente.

Venezuelan President Nicolas Maduro gestures to supporters next to his wife Cilia Flores after his swearing-in ceremony for a third term in Caracas, Venezuela, Friday, Jan. 10, 2025. (AP Photo/Ariana Cubillos) Foto: Ariana Cubillos

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Outros aliados e integrantes do governo Lula, bem como opositores, criticaram a formalização da posse do ditador Maduro para um novo mandato, em cerimônia presenciada pela embaixadora brasileira em Caracas. A diplomata Glivânia Maria de Oliveira assistiu ao ato com aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), classificou a festividade como “lamentável”. “A democracia é civilizatória e precisa ser fortalecida”, disse ele, ao ser abordados por jornalistas no Palácio do Planalto.

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O ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), foi um dos primeiros a se manifestar no âmbito do governo Lula, tendo recebido apoio público de Barbalho.

“Manifesto minha indignação à posse de Nicolas Maduro. A tomada do governo pela força bruta e sem legitimidade precisa ser condenada por todos nós defensores da Democracia”, disse o ex-governador alagoano. “Como membro do MDB, partido que historicamente sempre defendeu o respeito às liberdades individuais, à justiça e o voto popular, deixo aqui o meu repúdio ao truculento regime que se impõe mais uma vez hoje com a tentativa de posse desse ditador incansável em desrespeitar a soberana vontade do povo venezuelano.”

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), condendou a decisão de Lula manter a participação da embaixadora no ato oficial, no salão elíptico, em Caracas.

“Participar da posse de Maduro significa legitimar um processo eleitoral marcado por evidentes violações democráticas na Venezuela. O Brasil não deveria enviar representante. Isso sinaliza uma postura incompatível com nossa tradição diplomática e nossos valores constitucionais”, afirmou o tucano. “Nossa política externa deve estar inequivocamente ao lado da democracia e dos direitos humanos. Participar desta cerimônia enfraquece a credibilidade do Brasil como defensor desses princípios fundamentais. O Brasil tem responsabilidade histórica na defesa da democracia na América Latina. Temos de retomar essa tradição, não endossar retrocessos.”

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O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que tenta viabilizar sua candidatura ao Palácio do Planalto, afirmou que Lula deveria ter cancelado a participação da embaixadora.

O senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil no governo Jair Bolsonaro, ironizou Lula: "Hoje sim é o dia do golpe, na Venezuela", exclamou. “O governo envia uma embaixadora à posse de Maduro para, de forma oficial, homenagear todas as ditaduras do mundo e dizer: ‘ainda estamos aqui’!”

A ex-ministra da Agricultura e senadora Tereza Cristina (PP-MS) culpou o ex-chanceler e atual assessor especial de Lula Celso Amorim pela leniência com o chavismo.

“Celso Amorim, arquiteto do fracassado Acordo de Barbados e defensor de estender tapete vermelho para Nicolás Maduro em Brasília, fato de desastrosa repercussão para o governo Lula 3 desde 2023, disse hoje que o Brasil ‘cumpre o ritual diplomático de relação entre Estados’ ao manter a decisão de enviar nossa embaixadora à posse do usurpador Maduro”, afirmou a senador. “A verdade é que a política internacional que Amorim comanda do Palácio do Planalto não exalta nenhum ‘ritual democrático’, mas simplesmente chancela apoio a uma ditadura que mata, tortura e oprime seu povo e seus representantes”.

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Para ela, Celso Amorim “errou feio não só com a Venezuela, mas mundo afora, induzindo o presidente a manter uma política externa anacrônica e ultrapassada”. “A mancha que o Palácio do Planalto fez recair sobre nosso tão bem preparado Itamaraty infelizmente não desaparecerá tão cedo”.

O líder do governo no Senado e ex-ministro Jaques Wagner (PT-BA) afirmou também que o governo optou apenas por uma “formalidade”, de caráter institucional. Segundo ela, a relação política “já azedou” entre o petista e o chavista.

“O sistema da Venezuela não tem o aplauso nem a concordância do governo brasileiro, isso está claro e o presidente Lula já se pronunciou. Estamos mantendo uma relação institucional, com presença da embaixadora na posse, o que não quer dizer concordância”, disse Wagner. “O governo brasileiro já fez as críticas ao processo eleitoral do país e a relação não é boa, mas não há por enquanto proposta de rompimento.” Para o senador, há “claramente uma tentativa da oposição, que adora temas fanatizados, de escalar um problema, encontrar um clichê” para desgastar Lula.

O governo era pressionado por integrantes do Congresso a cancelar a presença dela, e por instituições de direitos humanos a dar recados duros ao regime chavista contra violações. Integrantes do PT, partido de Lula, também viajaram à capital venezuelana para assistir à posse do chavista. O partido celebrou a reeleição de Maduro, embora o governo a questione.

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Entre outros, estão em Caracas dirigentes e lideranças petistas como Valter Pomar, Mônica Valente (secretária executiva do Foro de São Paulo), Camila Moreno e Vera Lúcia Barbosa, a Lucinha do MST. Eles participam de reunião do grupo de trabalho do Foro de São Paulo e de um “Festival Mundial Antifascista”.

Aliados do presidente dizem que é necessário procurar manter um canal de diálogo mínimo com o regime, para defender interesses do País e de brasileiros.

Argentina e Chile

Em espectro político oposto, os presidentes da Argentina, Javier Milei, e do Chile, Gabriel Boric, também se manifestaram contra a posse de Nicolás Maduro, cuja reeleição não reconhecem. Os países romperam relações com o regime chavista.

No X, Milei repostou um trecho do discurso de posse de Maduro, no qual o ditador afirma que o argentino é um “nazi sionista” e um “sádico social”, que lidera a extrema-direita e tenta impor um presidente à Venezuela, aliado aos norte-americanos. “Diga-me quem te ataca e quem te defende, e quem você ataca e quem você defende, e eu te direi quem você é”, diz a mensagem redistribuída por Milei.

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Na véspera, ele havia reagido à detenção da líder opositora María Corina Machado e afirmara em comunicado que o chavismo criou um “inferno na terra”.

Na véspera da posse, Boric usou um discurso público para usar as palavras mais duras e diretas com que já se referiu a Maduro. Ele disse que não reconhece a fraude eleitoral e que a ditadura chavista “roubou as eleições” e continua a perseguir opositores e organizações de direitos humanos, por isso retirou seus representantes diplomáticos de Caracas.

“Sou de esquerda e da esquerda digo: o governo de Nicolás Maduro é uma ditatura. Temos que fazer todo os esforços para restabelecer a lei e a democracia. Faço um chamado à libertação dos presos políticos”, afirmou o presidente chileno.

Os ditadores latino-americanos Daniel Ortega (Nicarágua) e Miguel Díaz-Canel (Cuba) e o representante de Vladimir Putin, Vyacheslav Volodin (Rússia), ficaram em destaque no cerimonial chavista. Mas a posse foi esvaziada de representantes de alto nível, chefes de Estado e de governo.

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