BRASÍLIA - O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), reagiu nesta sexta-feira, dia 10, de forma crítica e cobrou o governo Lula, de quem é aliado, após a participação da diplomacia brasileira na posse do ditador Nicolás Maduro, na Venezuela. Ele é cotado para formar, como vice, a chapa de reeleição com Lula em 2026.
“Quem defende a democracia tem de abominar a ditadura de Maduro e condenar a opressão do regime. Não podemos fazer condenações seletivas a golpistas. O Brasil não pode se omitir: fora Maduro!”, manifestou Barbalho, nas redes sociais. O político paraense fez um paralelo ao discurso em defesa da democracia e a favor da punição de envolvidos na trama de golpe de Estado, difundido no plano doméstico pelo presidente.
Outros aliados e integrantes do governo Lula, bem como opositores, criticaram a formalização da posse do ditador Maduro para um novo mandato, em cerimônia presenciada pela embaixadora brasileira em Caracas. A diplomata Glivânia Maria de Oliveira assistiu ao ato com aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), classificou a festividade como “lamentável”. “A democracia é civilizatória e precisa ser fortalecida”, disse ele, ao ser abordados por jornalistas no Palácio do Planalto.
O ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), foi um dos primeiros a se manifestar no âmbito do governo Lula, tendo recebido apoio público de Barbalho.
“Manifesto minha indignação à posse de Nicolas Maduro. A tomada do governo pela força bruta e sem legitimidade precisa ser condenada por todos nós defensores da Democracia”, disse o ex-governador alagoano. “Como membro do MDB, partido que historicamente sempre defendeu o respeito às liberdades individuais, à justiça e o voto popular, deixo aqui o meu repúdio ao truculento regime que se impõe mais uma vez hoje com a tentativa de posse desse ditador incansável em desrespeitar a soberana vontade do povo venezuelano.”
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), condendou a decisão de Lula manter a participação da embaixadora no ato oficial, no salão elíptico, em Caracas.
“Participar da posse de Maduro significa legitimar um processo eleitoral marcado por evidentes violações democráticas na Venezuela. O Brasil não deveria enviar representante. Isso sinaliza uma postura incompatível com nossa tradição diplomática e nossos valores constitucionais”, afirmou o tucano. “Nossa política externa deve estar inequivocamente ao lado da democracia e dos direitos humanos. Participar desta cerimônia enfraquece a credibilidade do Brasil como defensor desses princípios fundamentais. O Brasil tem responsabilidade histórica na defesa da democracia na América Latina. Temos de retomar essa tradição, não endossar retrocessos.”
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que tenta viabilizar sua candidatura ao Palácio do Planalto, afirmou que Lula deveria ter cancelado a participação da embaixadora.
O senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil no governo Jair Bolsonaro, ironizou Lula: "Hoje sim é o dia do golpe, na Venezuela", exclamou. “O governo envia uma embaixadora à posse de Maduro para, de forma oficial, homenagear todas as ditaduras do mundo e dizer: ‘ainda estamos aqui’!”
A ex-ministra da Agricultura e senadora Tereza Cristina (PP-MS) culpou o ex-chanceler e atual assessor especial de Lula Celso Amorim pela leniência com o chavismo.
“Celso Amorim, arquiteto do fracassado Acordo de Barbados e defensor de estender tapete vermelho para Nicolás Maduro em Brasília, fato de desastrosa repercussão para o governo Lula 3 desde 2023, disse hoje que o Brasil ‘cumpre o ritual diplomático de relação entre Estados’ ao manter a decisão de enviar nossa embaixadora à posse do usurpador Maduro”, afirmou a senador. “A verdade é que a política internacional que Amorim comanda do Palácio do Planalto não exalta nenhum ‘ritual democrático’, mas simplesmente chancela apoio a uma ditadura que mata, tortura e oprime seu povo e seus representantes”.
Para ela, Celso Amorim “errou feio não só com a Venezuela, mas mundo afora, induzindo o presidente a manter uma política externa anacrônica e ultrapassada”. “A mancha que o Palácio do Planalto fez recair sobre nosso tão bem preparado Itamaraty infelizmente não desaparecerá tão cedo”.
O líder do governo no Senado e ex-ministro Jaques Wagner (PT-BA) afirmou também que o governo optou apenas por uma “formalidade”, de caráter institucional. Segundo ela, a relação política “já azedou” entre o petista e o chavista.
“O sistema da Venezuela não tem o aplauso nem a concordância do governo brasileiro, isso está claro e o presidente Lula já se pronunciou. Estamos mantendo uma relação institucional, com presença da embaixadora na posse, o que não quer dizer concordância”, disse Wagner. “O governo brasileiro já fez as críticas ao processo eleitoral do país e a relação não é boa, mas não há por enquanto proposta de rompimento.” Para o senador, há “claramente uma tentativa da oposição, que adora temas fanatizados, de escalar um problema, encontrar um clichê” para desgastar Lula.
O governo era pressionado por integrantes do Congresso a cancelar a presença dela, e por instituições de direitos humanos a dar recados duros ao regime chavista contra violações. Integrantes do PT, partido de Lula, também viajaram à capital venezuelana para assistir à posse do chavista. O partido celebrou a reeleição de Maduro, embora o governo a questione.
Entre outros, estão em Caracas dirigentes e lideranças petistas como Valter Pomar, Mônica Valente (secretária executiva do Foro de São Paulo), Camila Moreno e Vera Lúcia Barbosa, a Lucinha do MST. Eles participam de reunião do grupo de trabalho do Foro de São Paulo e de um “Festival Mundial Antifascista”.
Aliados do presidente dizem que é necessário procurar manter um canal de diálogo mínimo com o regime, para defender interesses do País e de brasileiros.
Argentina e Chile
Em espectro político oposto, os presidentes da Argentina, Javier Milei, e do Chile, Gabriel Boric, também se manifestaram contra a posse de Nicolás Maduro, cuja reeleição não reconhecem. Os países romperam relações com o regime chavista.
No X, Milei repostou um trecho do discurso de posse de Maduro, no qual o ditador afirma que o argentino é um “nazi sionista” e um “sádico social”, que lidera a extrema-direita e tenta impor um presidente à Venezuela, aliado aos norte-americanos. “Diga-me quem te ataca e quem te defende, e quem você ataca e quem você defende, e eu te direi quem você é”, diz a mensagem redistribuída por Milei.
Na véspera, ele havia reagido à detenção da líder opositora María Corina Machado e afirmara em comunicado que o chavismo criou um “inferno na terra”.
Na véspera da posse, Boric usou um discurso público para usar as palavras mais duras e diretas com que já se referiu a Maduro. Ele disse que não reconhece a fraude eleitoral e que a ditadura chavista “roubou as eleições” e continua a perseguir opositores e organizações de direitos humanos, por isso retirou seus representantes diplomáticos de Caracas.
“Sou de esquerda e da esquerda digo: o governo de Nicolás Maduro é uma ditatura. Temos que fazer todo os esforços para restabelecer a lei e a democracia. Faço um chamado à libertação dos presos políticos”, afirmou o presidente chileno.
Os ditadores latino-americanos Daniel Ortega (Nicarágua) e Miguel Díaz-Canel (Cuba) e o representante de Vladimir Putin, Vyacheslav Volodin (Rússia), ficaram em destaque no cerimonial chavista. Mas a posse foi esvaziada de representantes de alto nível, chefes de Estado e de governo.