O presidente Lula, na abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas, fugiu da regra dos discursos presidenciais da última década. O próprio Lula, Dilma e Bolsonaro aproveitaram a tribuna da ONU para falar para seu público interno. As longas e cansativas falas eram na realidade memorandos sobre a política e a economia interna no Brasil.
Na sua apresentação, nesta terça, 19, Lula não trouxe qualquer novo assunto. Todos os temas que Lula tem tratado nos primeiros nove meses de governo, com a ênfase de que o Brasil está de volta ao cenário internacional, foram reiterados. Questões que o Brasil abordou nas 21 reuniões bilaterais no exterior e nos encontros multilaterais como a COP no Egito, no G-20, no Brics, na reunião de cúpula dos presidentes sul-americanos, na Cúpula da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica foram colocados de maneira clara para a Assembleia-Geral.
Desenvolvimento social (combate à fome e à pobreza), desenvolvimento sustentável, energia renovável, reforma da governança dos organismos internacionais, unilateralismo nas decisões dos países desenvolvidos no tocante `as sanções econômicas e comerciais, defesa da democracia, critica da extrema direita, nacionalista e autoritária, liberdade de imprensa e desinformação e fim do desmatamento da Amazônia estiveram no centro do discurso.
A grande e importante novidade foi a maneira como as posições do governo brasileiro foram apresentadas. Lula se dirigiu ao mundo e não ao público interno. No centro de sua exposição esteve a desigualdade em todos os aspectos, políticos, econômicos, comerciais, sociais, reiterando o interesse brasileiro em cumprir todos os compromissos internacionais e domésticos para buscar a redução desses desequilíbrios. Criticou os reduzidos progressos nos programas internacionais para esse objetivo, inclusive a Agenda 2030 e seus 17 objetivos e anunciou um 18º programa que o Brasil irá implementar, o de igualdade racial.
Nesse contexto, reiterou as críticas à inoperância e a paralisia do Conselho de Segurança da ONU e a necessidade de sua ampliação entre os membros permanentes e nos rotativos e insistiu na reforma do Banco Mundial e do FMI, tanto na governança, quanto nos recursos destinados aos países mais pobres. Não deixou de mencionar a necessidade de se buscar a paz na Europa, reiterando a posição de equidistância do Brasil ao condenar a invasão e a perda da integridade territorial da Ucrânia, contrárias a Carta das Nações Unidas.
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Lula mostrou a aspiração do Brasil - e de si próprio indiretamente - de ter um papel de liderança nos temas que considera prioritários para a segurança global. Coerente com sua narrativa sobre a volta do Brasil ao cenário internacional, o presidente indicou sua percepção de qual deve ser o lugar do Brasil no mundo, os objetivos nacionais nas áreas em que tem poder específico e como o pais pode contribuir para alcançar a redução das desigualdades em todos os aspectos. Nesse contexto mencionou o papel que o Brasil vai desempenhar nas próximas reuniões, em 2024 e 2025, no G-20, na COP 30 e no Brics que serão realizadas em solo brasileiro.
A mudança de enfoque foi apreciada pelos representantes dos 193 países membros da ONU. Não me lembro de ter escutado discurso de presidente brasileiro na Assembleia-Geral ser aplaudido mais de uma vez depois de terminado. A volta do Brasil ao cenário internacional foi sete vezes aplaudida.
* Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE)
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