Depois de ser perseguido pela polícia local no sudeste da Pensilvânia (EUA) por duas semanas, o brasileiro Danilo Cavalcante podia sentir as autoridades se aproximando dele. Ele sabia que tinha que fugir ou enfrentaria uma captura. Então ele formulou um plano: o fugitivo de 34 anos roubaria alguém em 24 horas e tentaria fugir para o Canadá ou Porto Rico.
Mas não houve carro, nem viagem até a fronteira, nem saída. Cavalcante — sujo e molhado se escondendo em arbustos densos — foi capturado por uma equipe tática da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA na manhã de quarta-feira, 13. O cão de busca da equipe, um belga Malinois de 4 anos chamado Yoda, mordeu-o no couro cabeludo e depois agarrou sua perna enquanto Cavalcante, ainda armado com um rifle que havia roubado alguns dias antes, fazia um último esforço para rastejar.
Horas depois, dentro de um quartel da Polícia Estadual da Pensilvânia, o cidadão brasileiro, falando em português e sendo compreendido por meio de um intérprete, revelou aos investigadores seu plano de roubar um carro. “Ele disse que a presença policial neste perímetro estava se tornando muito intensa e que ele sentia que precisava sair da área”, disse o vice-marechal dos EUA Robert Clark.
Cavalcante forneceu outros detalhes sobre sua vida desde sua fuga da Prisão de Chester no dia 31 de agosto. Ele disse que não comeu nos primeiros três dias, sobrevivendo com água de um riacho e finalmente roubando uma melancia de uma fazenda. Ele abriu a melancia contra a sua cabeça, contou.
“Não sei se ele era particularmente habilidoso. Ele estava desesperado”, disse o tenente-coronel da polícia estadual George Bivens, líder da busca intensiva, em entrevista coletiva na quarta-feira. “Você tem um indivíduo cuja escolha é voltar para a prisão e passar o resto da vida em um lugar onde você não quer estar, ou continuar tentando escapar da captura. Ele escolheu escapar da captura.”
Usando o terreno difícil a seu favor, Cavalcante permaneceu parado por dias seguidos e só se movia à noite, escondendo-se em uma folhagem tão densa que equipes de busca chegaram a poucos metros dele em três ocasiões distintas. Ele disse que cobriu suas fezes com folhas em um esforço para esconder seus rastros das centenas de agentes da lei federais, estaduais e locais que estavam procurando por ele.
A extensa área de busca consistia em quilômetros de florestas densas, bairros residenciais e até mesmo Longwood Gardens, um dos principais jardins botânicos do país, onde uma câmera de vigilância o capturou andando pela área com uma mochila, mochila e moletom com capuz. À medida que os dias passavam – e cães policiais, veículos blindados, cavalos e helicópteros se tornavam uma presença familiar – os moradores ficavam cada vez mais inquietos.
“Muitos vizinhos tinham um policial em seu varanda com uma metralhadora enquanto dormiam”, disse a moradora Jennie Brown. “Nunca me senti mais assustada e mais seguro ao mesmo tempo. É uma sensação muito estranha.”
Cavalcante, enquanto isso, parecia ter o acaso ao seu lado. Ele roubou uma mochila que por coincidência tinha uma navalha, a qual ele prontamente usou para cortar sua barba a fim de trocar usa aparência. Ele roubou um par de botas para substituir por seus sapatos gastos da prisão. Ele escapou do perímetro policial inicial e roubou uma van de entrega de laticínios que havia sido deixada destrancada com as chaves dentro, abandonando-a a quilômetros de distância quando ficou sem combustível.
Em um dado momento, Cavalcante disse aos investigadores que ele ouviu mensagem transmitida por um helicóptero da polícia em português, pedindo a ele a se render. Ele disse que pensou sobre isso. Ele não queria ser pego, mas também não queria morrer, contou Clark.
“Ele disse ‘eu sabia que eu tinha que pagar pelo que eu fiz. Mas eu não estava disposto a pagar com minha vida’”, disse Clark.
Na noite de segunda-feira, 11, Cavalcante roubou um fuzil calibre 22 e munições de uma garagem que estava aberta e fugiu quando o dono da casa, que estava na garagem, sacou uma pistola e disparou vários tiros contra ele. O dono da casa errou, mas a sorte de Cavalcante logo acabaria.
Por volta da 1h de quarta-feira, um avião da Drug Enforcement Administration equipado com imagens térmicas captou a assinatura térmica de uma figura em movimento. A figura não parecia ser um cervo, uma raposa ou algum outro animal. Parecia uma pessoa.
Um tempestade então se chegou e aterrou o avião, mas as equipes táticas formaram um perímetro apertado para cercá-lo. O tempo melhorou horas depois e os oficiais avançaram sobre ele. Ele não tinha ideia de que eles estavam lá até que fosse tarde demais.
Cavalcante, que foi condenado à prisão perpétua no mês passado pelo assassinato de sua ex-namorada, e que é procurado por um assassinato em 2017 no Brasil, foi levado para uma prisão estadual nos subúrbios da Filadélfia depois de conversar com investigadores do US Marshals Service e detetives da Polícia Estadual da Pensilvânia e o Condado de Chester.
“Há altos e baixos em uma investigação como esta”, disse o comissário da Polícia Estadual, coronel Christopher Paris, no programa Today da NBC na quinta-feira. “A determinação estava sempre presente... E sabíamos que ele estava desesperado. Sabíamos que ele estava onde estávamos procurando.”/Associated Press.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.