O brasileiro Danilo Cavalcante foi capturado pela polícia do Estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos, nesta quarta-feira, 13. A polícia deve fazer uma entrevista coletiva para esclarecer os detalhes da captura.
Cavalcante, que foi condenado a prisão perpétua por matar a ex-namorada Débora Evangelista Brandão, estava foragido desde o dia 31 de agosto, quando conseguiu escapar da prisão.
As buscas pelo brasileiro duraram 14 dias e contaram com a mobilização de um forte aparato policial. Cavalcante chegou a roubar uma van e um rifle durante o tempo em que era procurado,
De acordo com a polícia, o brasileiro tinha sido visto a última vez em South Coventry, no leste da Pensilvânia.
As autoridades do Estado da Pensilvânia estipularam uma recompensa de US$ 25 mil (R$ 123 mil) para quem desse informações sobre Cavalcanti. O brasileiro também teve seu nome incluído na lista de procurados da Interpol.
A polícia dos EUA afirmou no domingo, 10, que Eleni Cavalcante, irmã do brasileiro procurado pelas autoridades, foi detida e deve ser deportada. Ainda não se sabe se a irmã de Cavalcante é suspeita de ajudar o brasileiro a escapar da prisão.
Condenação
Cavalcante foi considerado culpado por esfaquear Deborah Brandão, também brasileira, cerca de 38 vezes na frente de seus dois filhos, de 4 e 7 anos, em agosto de 2021, na casa dela em Schuylkill Township.
Cavalcante tinha um histórico de violência doméstica, segundo os promotores. Ele esfaqueou Deborah depois que ela soube que o brasileiro tinha um mandado de prisão em aberto por um assassinato ocorrido no Brasil em 2017.
Os detetives concluíram, então, que Cavalcante matou Deborah depois que ela descobriu a história e ameaçou denunciá-lo para a polícia.
Mãe de Cavalcante diz que ele foi “treinado para sobreviver”
A mãe do brasileiro, Iracema Cavalcante, afirmou em entrevista ao The New York Times que filho foi criado para viver sozinho e superar as dificuldades.
Iracema, mesmo sabendo que seu filho esfaqueou a ex-namorada na Pensilvânia em 2021 e assassinou um homem no Brasil em 2017, insiste que o rapaz, mesmo armado, “não representa uma ameaça para ninguém”. Ele está apenas lutando para sobreviver, como fez durante grande parte de sua vida, disse ela.
“Seu treinamento foi seu sofrimento”, disse a mãe, em sua primeira entrevista desde que Danilo escapou da prisão, no mês passado. “Ia dormir com fome. Quando acordava, eu me perguntava com que iria alimentá-los.”
Danilo nunca foi à escola, disse ela, e começou a trabalhar aos 5 anos. Primeiro engraxou sapatos, depois vendeu legumes no mercado e, aos 7, já trabalhava nos campos de outra pessoa, disse ela.
“Somos pobres. Humildes. Mas somos trabalhadores”, disse ela numa entrevista de quase uma hora na manhã desta terça-feira (12). “O que nós temos, lutamos para conseguir.”
Saiba mais
Culpa
Iracema Cavalcante não contestou a culpa do filho nos dois assassinatos. Mas também argumentou que, em ambos os casos, ele estava encurralado, sugerindo que sua ex-namorada ameaçou entregá-lo às autoridades e que o homem que ele matou a tiros em 2017 pretendia matar Danilo.
No caso da ex-namorada, ele foi condenado por esfaqueá-la quase 40 vezes na frente dos filhos.
“Isso aconteceu? Aconteceu”, disse Iracema Cavalcante. “Mas foi por causa do controle que ela exercia sobre ele, da postura que ela assumiu com ele”. Ela acrescentou: “Não foi feminicídio. Ele tinha de fazer isso. Não teve outra escolha”.
Ela disse que seu filho deve enfrentar as consequências por seus crimes. Mas argumentou que a prisão perpétua —ou a morte nas mãos da polícia— é injusta.
“Se eu dissesse que meu filho não cometeu um erro, estaria mentindo”, afirmou. “Sei que o que ele fez foi errado. Eu sei que ele deveria pagar por seu erro. Mas quero que meu filho pague por seu erro com dignidade —e não com a vida.”
Nas buscas, a polícia chegou a tocar de seus veículos e helicópteros uma gravação de Iracema, falando português, pedindo que o filho se entregue. Ela disse que nunca falou com a polícia, mas que eles solicitaram o áudio por meio de sua filha, que morava nos Estados Unidos, mas agora está sendo deportada.
Infância
Danilo passou a maior parte de sua vida no sertão rural do cerrado brasileiro. A família mudou de uma cidade para outra enquanto o pai dele procurava trabalho como operário em fazendas.
Em 2014, a família chegou à periferia de uma pequena cidade chamada Figueirópolis, onde Danilo Cavalcante conseguiu emprego como gerente de uma fazenda de gado, segundo sua mãe. Sua família comprou um terreno ao lado, onde criavam gado e cavalos.
Mas o tempo de Cavalcante lá foi abreviado quando um mandado de prisão foi emitido para sua prisão em conexão com a morte a tiros de Valter Júnior Moreira dos Reis em praça pública em 2017. As autoridades brasileiras disseram que Cavalcante atirou em Moreira por causa de uma dívida “relacionada à reparação de um veículo”.
Depois de fugir da cena do crime, Cavalcante escondeu-se por várias semanas antes de chegar aos Estados Unidos em janeiro de 2018, disse sua mãe.
“Ele foi para lá para trabalhar, para mudar de vida, para chegar a algum lugar”, disse Cavalcante, lembrando que seu filho adorava a vida nos Estados Unidos. “Ele se sentiu em casa lá”, acrescentou ela. “Mas ele não sabia o que o esperava”./Com NY Times
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.