O brasileiro que deteve o ataque a faca em Dublin, na Irlanda, que deixou cinco pessoas feridas nesta quinta-feira, 23, afirmou ao jornal Irish Times que as manifestações anti-imigração que eclodiram no país após o incidente “não fazem sentido algum”. Os protestos foram protagonizados por pessoas de extrema direita após a suspeita do ataque ter sido cometido por um imigrante e deixaram um rastro de destruição em Dublin. “Eu mesmo sou imigrante e eu que ajudei”, disse o brasileiro, identificado como Caio Benicio.
Os manifestantes queimaram ônibus, bondes e veículos de polícia e mostraram faixas de “Irish Lives Matter” (as vidas dos irlandeses importam, em tradução livre) na noite da quinta-feira. Frases anti-imigração também foram ouvidas nas manifestações, que ocorreram em bairros com uma população imigrante alta. O chefe da polícia da Irlanda, Drew Harris, disse que “não via há décadas” atos semelhantes no país.
Os extremistas foram às ruas após o ataque que deixou cinco pessoas, incluindo três crianças, feridas a facadas. Rumores se espalharam na internet de que o autor seria ou teria origem imigrante. Segundo a BBC, o homem tinha cidadania da Irlanda e estava no país há 20 anos.
O primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, afirmou que os distúrbios não representam o país e que os responsáveis pelas manifestações “envergonham a Irlanda”. “Os manifestantes não fizeram o que fizeram por qualquer senso de patriotismo, por mais distorcido que fosse; Fizeram isso porque estão cheios de ódio”, disse.
Segundo o chefe de polícia, 34 manifestantes foram presos. A polícia descreveu o grupo como uma “facção lunática e hooligan impulsionada por uma ideologia de extrema direita”. Além dos veículos queimados, algumas pessoas também quebraram janelas com barras de metal e saquearam lojas do centro da capital irlandesa.
A manifestação evidencia a profunda crise habitacional vivida pela Irlanda, com irlandeses acusando o governo de dar tratamento especial a refugiados e requerentes de asilo. Os manifestantes realizaram manifestações aos gritos de “a Irlanda está cheia”.
Varadkar, o primeiro-ministro, procurou tranquilizar a comunidade imigrante da Irlanda, dizendo que o país seria “muito inferior” sem a imigração. “Ser irlandês é mais do que saudar o tricolor [a bandeira irlandesa] e bater no peito e apontar para onde você nasceu”, disse o premiê. “Significa viver de acordo com os ideais representados pela nossa bandeira e “agir com compaixão”.
Ataque foi interrompido por brasileiro
O ataque ocorrido na Irlanda deixou dois adultos e três crianças feridas em Dublin na quinta-feira e foi interrompido por pedestres que passavam pelo local no momento. Um deles foi o entregador brasileiro Caio Benício, de 43 anos. O brasileiro passava de moto quando viu o ataque, desceu do veículo e acertou o agressor com o capacete. “Nem tomei decisão, foi puro instinto e tudo acabou em segundos”, disse, em entrevista ao jornal irlandês The Journal. “Ele caiu no chão, eu não vi para onde foi a faca, e outras pessoas intervieram”.
Segundo o The Journal, Benício se mudou para a Irlanda a trabalho depois que seu restaurante no Brasil pegou fogo. Seus filhos ainda permanecem no País. “Eu também tenho dois filhos, então tive que fazer alguma coisa. Eu fiz o que qualquer um faria. As pessoas estavam lá, mas não puderam intervir porque ele estava armado, mas eu sabia que poderia usar meu capacete como arma”, disse Caio ao jornal da Irlanda.
Segundo a polícia, uma menina de 6 anos e uma mulher, de cerca de 30 anos, ficaram gravemente feridos. Outras duas crianças, um menino de 5 anos e uma menina de 6, sofreram ferimentos menos graves. O menino recebeu alta de um hospital. O suposto agressor, cuja identidade não foi revelada, também está no hospital com ferimentos de faca e foi interrogado para esclarecer os motivos da agressão. A polícia descartou motivação terrorista à princípio. /COM WASHINGTON POST
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