Caracas - O brasileiro Jonatan Moisés Diniz, de 31 anos, tornou-se esta semana mais um preso político na Venezuela. Ele foi detido sob a acusação de promover atividades contra o governo de Nicolás Maduro. No entanto, segundo sua família, ele estava apenas ajudando crianças pobres.
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Diniz mora na Califórnia, nos EUA, mas viajou pelo menos quatro vezes para a Venezuela nos últimos dois anos. Em suas contas pessoais no Facebook e no Instagram, há dezenas de fotos dele distribuindo roupas e alimentos e promovendo campanhas para arrecadar dinheiro.
O brasileiro morava em Los Angeles havia ao menos 4 anos. Ele chegou a viver em Caracas, a capital venezuelana, por dois meses, no início de 2017, quando se envolveu mais profundamente com a crise na Venezuela.
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Foi a partir de então que ele se engajou nas causas sociais locais. Em vários posts ele pede para os venezuelanos “se levantarem contra o filho da... do Maduro”. Ao menos duas vezes, em 2017, ele esteve na Venezuela, em Caracas, para participar de distribuição de alimentos, brinquedos e roupas em zonas carentes da capital.
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Em vídeos publicados em sua conta no Instagram, ele aparece filmando colegas e afagando a cabeça de crianças. Em outra foto, ele leva um grupo de 15 moradores de rua para jantar em um restaurante.
Em novembro, Diniz começou a divulgar e pedir doações para a ONG Time to Change the World, um grupo que não tem site e cujas contas nas redes sociais têm menos de dois meses. Em uma postagem daquele mês, o jovem escreveu que a Time to Change the World era “uma ONG que conectava todas as ONGs do mundo, espalhando comida, remédios, brinquedos e uma nova e saudável filosofia”. Ele pedia doações para poder ajudar o Natal de 600 famílias venezuelanas.
Diniz foi preso durante essa ação de distribuição de comida e de roupas. As denúncias foram feitas na noite de quarta-feira por Diosdado Cabello – figura forte do chavismo – em seu programa de TV semanal.
Cabello sugeriu que a CIA estaria envolvida nas supostas atividades do brasileiro contra o chavismo. Segundo ele, a ONG que o brasileiro lidera entrega alimentos e itens básicos a moradores de rua para obter financiamento para grupos que o governo venezuelano classifica como terroristas.
Consultadas na sexta-feira, dia 29, pelo Estado, as ONGs Foro Penal Venezolano e Comitê de Familiares das Vítimas (Cofavic) disseram que sabiam da prisão do brasileiro, mas que desconheciam sua localização atual.
O caso deve aprofundar a crise diplomática entre Brasil e Venezuela. No dia 23, Maduro expulsou o embaixador brasileiro Ruy Pereira, que já estava no Brasil e não retornou a Caracas – em resposta, o governo brasileiro também expulsou o representante venezuelano em Brasília.
Segundo a família de Diniz, o Itamaraty pediu para que eles fossem “o mais discretos possível” e “não comentassem mais o caso” com a imprensa. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que “o Consulado do Brasil em Caracas segue em contato com autoridades locais e com a família para prestar a assistência consular cabível”.
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