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Brasileiros fazem escala para escapar de quarentena cara no Reino Unido

Para não ter de pagar um mínimo de R$ 13 mil pelo isolamento de dez dias em hotéis escolhidos pelo governo britânico, viajantes optam por cumprir o prazo em outros lugares que não fazem parte da lista de países considerados de alto risco em razão da pandemia

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OXFORD, REINO UNIDO - Brasileiros que têm direito de entrar no Reino Unido estão fazendo “escala prolongada” em outros países para escapar da quarentena rígida e cara imposta pelo governo britânico. Desde segunda-feira, quem chega ao país vindo de um local da “lista vermelha” precisa ficar dez dias em um hotel designado pelo Estado a um custo mínimo de 1.750 libras (cerca de R$ 13 mil). 

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Pessoas que vieram de países da lista só podem entrar se tiverem direito a residência ou nacionalidade britânica ou irlandesa. A relação inclui 33 países, entre eles o Brasil, considerados de alto risco em razão da pandemia. Quem chega como turista ao Reino Unido é barrado na entrada.

Sem condições de pagar o preço estipulado pelo governo, o brasileiro Santiago Neto, de 26 anos, vai passar dez dias na Suíça antes de entrar no Reino Unido, onde vive há pouco mais de um ano e trabalha como motorista. A passagem original previa escala em Zurique, mas apenas por algumas horas. O governo suíço também exige quarentena para brasileiros, mas não estipula o local. Assim, o viajante consegue encontrar uma acomodação mais barata e reduzir custos.

Santiago Neto vai passar dez dias na Suíça antes de voltar para a Inglaterra para evitar a quarentena em hotel Foto: Arquivo Pessoal

Santiago foi ao Brasil, no fim de janeiro, para rever a família depois de passar um ano e meio distante. “Minha avó faleceu e minha mãe estava doente. Precisava voltar”, disse. Com o retorno programado para o fim de fevereiro, ele foi pego de surpresa pela nova política do governo britânico. “Pesa no bolso. Eu acabaria gastando R$ 15 mil. É muito dinheiro.” O valor cobrado para uma pessoa inclui transporte do aeroporto ao hotel, comida, acomodação, segurança e testes.

Mesmo fugindo da quarentena, Santiago precisará passar dez dias isolado em casa quando desembarcar em Londres. As novas regras estipulam que todos os viajantes precisam apresentar um exame negativo de covid-19, devem passar pelo período de confinamento e fazer mais dois testes, um no segundo e outro no oitavo dia após a chegada.

Baixa procura

Max Amaral, proprietário de uma agência de viagens, diz que a procura por passagens para o Reino Unido praticamente zerou desde a última semana. “Ninguém quer ficar nesses hotéis”, afirmou. 

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Precaução. Vinícius e Roberta Almario: volta ao Reino Unido uma semana antes do previsto Foto: Vinicius Almario

Os clientes que precisam entrar no país estão cada vez mais interessados em rotas que evitem a quarentena. “Como o valor para ficar no hotel é muito alto, estamos vendendo passagens para clientes que vão para outros países, como México, França e Sérvia, e ficam até 12 dias por lá.”

O governo britânico exige que os passageiros informem todos os países onde estiveram nos dez dias anteriores ao desembarque. Não é necessário fornecer dados anteriores a esse período. Quem mentir está sujeito a uma multa de 10 mil libras (cerca de R$ 74 mil) e pena de até 10 anos de prisão. 

Procurado, o Departamento de Saúde e Assistência Social britânico afirmou que a alternativa usada pelos brasileiros é legal. “A regra de quarenta em hotel se aplica apenas a pessoas que estiveram em países da lista vermelha dez dias antes de entrar na Inglaterra”, afirma a nota.

De acordo com a BBC, quatro pessoas foram multadas na cidade de Birmingham por omitir que estiveram em países da lista vermelha nos dez dias anteriores ao desembarque. Todos foram multados em 10 mil libras cada.

Alternativas

A solução encontrada por outros brasileiros para evitar o gasto extra foi antecipar a volta ao Reino Unido. É o caso de Roberta e de Vinícius Almario, que retornaram uma semana antes do previsto. “Decidimos voltar antes para não pagar o hotel”, afirma Vinícius. 

O casal foi ao Brasil no dia 10 de janeiro e a volta estava programada para 11 de fevereiro. “A gente sabia que não era a hora de viajar, mas precisávamos ir por questões pessoais e porque minha sogra estava doente.”

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Eles evitaram o gasto com o hotel, mas precisaram pagar por novas passagens de retorno. “Tivemos de voltar por outra rota com outra companhia aérea”, explica. Mesmo escapando da quarentena mais cara, o casal teve de cumprir o período de isolamento de dez dias em casa.

As reservas para a quarentena obrigatória no Reino Unido devem ser feitas no portal do governo britânico e têm valores preestabelecidos. Aqueles que voam de países que não constam da relação, como Estados Unidos, podem fazer quarentena por dez dias em casa. Na Escócia, todos os passageiros aéreos devem se isolar em hotéis determinados independentemente do país de origem. 

Um adulto viajando sozinho paga 1.750 libras e cada pessoa adicional (maior de 12 anos) paga 650 libras (cerca de R$ 4,8 mil). Crianças de 5 a 12 anos pagam 325 libras (R$ 2,4 mil). Um casal com um filho, por exemplo, desembolsa 2.725 libras (cerca de R$ 20 mil). Eles devem apresentar um teste de covid-19 negativo ao entrar no Reino Unido e fazer mais dois durante o período de isolamento.

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