ENVIADO ESPECIAL A JOHANNESBURGO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou nesta segunda-feira, dia 21, em Joanesburgo, na África do Sul, para participar da 15ª Cúpula do Brics, o grupo formando por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
A viagem marca o retorno de fato do petista ao continente africano, com uma agenda robusta, que inclui comitivas empresariais e de ministros, além de encontros com líderes políticos de outros países. Ele também passará por Angola e São Tomé e Príncipe. Os compromissos mais importantes, no entanto, são na África do Sul.
A última vez que Lula participou de uma cúpula do Brics foi em 2010, em Brasília. Era somente a segunda reunião de líderes desse tipo. E a África do Sul nem sequer fazia parte do bloco, então conhecido apenas como Bric.
O país agora anfitrião foi admitido no grupo em 2011, por sugestão da China. E essa pressão expansionista chinesa volta a dominar a agenda da reunião doze anos depois. Diplomatas consideram esta a cúpula mais importante dos últimos tempos, porque poderá mudar o perfil do bloco.
Por pressão da China, segunda maior economia do mundo, o principal assunto será a ampliação do Brics. Pequim quer dar mais peso político e econômico ao bloco e impulsionou pedidos de adesão, uma forma de criar um polo antagônico aos Estados Unidos e ao G7.
Big Five
Na África, há uma expressão conhecida como os Big Five. Ela se refere aos cinco animais mais fortes da selva e da savana. Os mais difíceis de serem caçados. São eles o leão, o búfalo, o elefante, o rinoceronte e o leopardo.
Pode-se dizer que o Brics também já tem os seus BIG five, os cinco candidatos mais fortes a de fato ingressar no bloco. São eles: Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos e Indonésia.
Ao todo, 23 países pediram para ingressar nos Brics, mas alguns não serão considerados agora e outros sofrem com vetos.
Saiba mais sobre a cúpula do Brics
O Brasil é o principal entrave neste momento à expansão do Brics. O governo Lula diz que não patrocina nem veta a entrada de nenhum país. O Brasil acha que a ampliação pode diluir seu protagonismo, afastar o País de aliados ocidentais e ampliar os poderes da China em demasiado. Por outro lado, poderia gerar oportunidades de relacionamento com potenciais novos integrantes.
Conselho de Segurança
Com essas ressalvas e a hesitação da Índia, o Brasil deu uma nova cartada. Quer que a China apoie o ingresso do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, em declaração formal, como contrapartida ao sinal verde de Brasília para expandir o Brics. Seria, sim, uma moeda de troca.
O Brasil conta com apoio de Índia e África do Sul e exige que Pequim manifeste apoio ao pleito dos três países por uma vaga permanente, em eventual reforma do Conselho de Segurança. A Rússia, que também faz parte do colegiado mais poderoso da ONU, já disse ser a favor do ingresso do Brasil.
Diplomatas brasileiros dizem que isso seria muito difícil para Pequim, que bloqueia mudanças no conselho, mas que consideram incoerente ampliar a representação no Brics e não na ONU.
O Brasil quer explorar essa oportunidade porque a China pressiona por uma expansão do Brics para já.
A cartada ficou para ser decidida nesta terça-feira, dia 22, quando Lula e Xi Jinping (China) se reunem em Johannesburgo, ao lado de Narendra Modi (Índia) e Cyril Ramaphosa (África do Sul).
O russo Vladimir Putin, ameaçado de prisão por ordem do Tribunal Penal Internacional, vai discutir com os demais líderes por videoconferência. A chamado “retiro dos líderes” é totalmente reservado.
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