EUA têm cães, leões-marinhos e porquinhos-da-índia contratados como funcionários do governo

Dados de um relatório do Government Accountability Office indicam que país tinha 5.159 cachorros empregados em 2022, sendo a maioria do Pentágono e da Administração de Segurança do Transporte

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Por Andrew Van Dam (Washington Post)
Atualização:

Funcionários de Washington, nos Estados Unidos, têm levado uma vida de cão — literalmente, neste caso. Em 2022, o governo americano empregava 5.159 pastores-alemães, malinois belgas, beagles, Jack Russell Terrier e outras raças caninas. Outros 421 funcionários trabalhavam como empreeiteros caninos.

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As descrições de vagas para esse agentes federais de quatro patas variam do sublime — 31 ajudam “guardas-florestais a atravessar o Parque Nacional Denali no inverno” — ao nem tanto: outros “detectam fezes de aves aquáticas” infectadas com gripe aviária.

Uma análise de dados feita pelo Washington Post encontrou o trabalho desses cães politicamente conectados descrito em “detalhes mágicos” em um relatório do Government Accountability Office (GAO), um órgão de auditoria e investigações de contas públicas dos Estados Unidos, que aparentemente assumiu literalmente a função de cão de guarda do governo.

O relatório — que trata das condições de trabalho dos cachorros — de alguma forma passou despercebido até ser divulgado, em novembro do ano passado, pelo USA Facts, uma empresa de disseminação de dados fundada por Steve Ballmer, ex-CEO da Microsoft.

A maioria dos pastores-alemães (e outras raças) do governo — quase 3 mil — trabalham para o Departamento de Segurança Interna. Cerca de 1,1 mil destes farejam bagagens e outros itens para a Administração de Segurança do Transporte. Outros 1,8 mil são funcionários do Pentágono, trabalhando duro para o Departamento de Defesa. Juntos, esses dois departamentos são responsáveis pela contratação de 85% dos trabalhadores federais de quatro patas.

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A maioria dos pastores-alemães (e outras raças) do governo — quase 3 mil — trabalham para o Departamento de Segurança Interna Foto: Ericka Gillespie/Forças Armadas dos Estados Unidos

Em todas as agências e outras instituições governamentais que constam na base de dados, o uso mais comum para cachorros parece ser a detecção de explosivos e drogas — tarefas que realizam em locais tão diversos como a a empresa estatal de transporte ferroviário Amtrak (57 cães policiais), os Correios (47 cães) e a Reserva Estratégica de Petróleo (oito cães). Esta última, em particular, parece ter um incentivo para pedir aos seus cães que detectem qualquer coisa que possa explodir — isto é, qualquer coisa que não seja os seus 360 milhões de barris de petróleo bruto.

Cães também patrulham e fazem buscas em áreas de difícil acesso, como refúgios federais de vida selvagem; rastreiam pessoas nas terras do Serviço Florestal e para a Polícia de Assuntos de Veteranos; e prendem suspeitos para agências de aplicação da lei como o FBI e o US Marshals Service. Em algumas agências, os cães trabalham até para identificar moedas, armas de fogo, pragas e espécies invasoras.

Dar esse tipo de demanda a eles, e frequentemente em trabalhos perigosos, exige que os cães, ainda filhotes, frequentem meses de treinamento — mais do que o exigido em muitas ocupações humanas. Segundo o relatório do GAO, “adquirir e treinar um cão pode custar aproximadamente US$ 65 mil a US$ 85 mil”. Se este valor fosse anual, colocaria os funcionários caninos na escala salarial dos Estados Unidos, que vai de 1 a 15, entre os níveis GS-7 e GS-11.

Além disso, o GAO diz que esses cães devem receber “comida e água”, alojamento “na casa do adestrador ou em um canil” e “exercícios para cães de trabalho apropriados ao peso e à raça” — o tipo de regalias que você normalmente não tem até subir, pelo menos, para o GS-14.

Cães do governo americano farejam em busca de drogas e explosivos, patrulham e fazem buscas em áreas de difícil acesso e capturam suspeitos para agências de aplicação da lei. Foto: Aviador de 1ª Classe da Força Aérea Albert Morel

47 leões-marinhos empregados

O Exército dos Estados Unidos vendeu seu último pombo-correio em 1957. Se “porquinho-da-índia” conta como trabalho, os Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na siga em inglês) mantêm milhares de camundongos, ratos, peixes, hamsters, porcos, cães, coelhos, macacos e, sim, porquinhos-da-índia, de acordo com uma análise dos dados do Departamento de Agricultura e dados do NIH da People for the Ethical Treatment of Animals.

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A Nasa empregou macacos e chimpanzés como astronautas, ou pelo menos como importantes sujeitos de pesquisa. Mas a agência espacial teria sacrificado o que pareciam ser os seus últimos 27 primatas não humanos em um único dia, em 2019.

Um leão-marinho do Programa de Mamíferos Marinhos dos EUA se apresenta durante um evento de Reconhecimento de Empregadores da Marinha em San Diego, em junho de 2023. Foto: Suboficial da Marinha, 2ª Classe, Jacob D. Bergh via Marinha dos EUA

O Programa de Mamíferos Marinhos da Marinha testou em vários pontos uma dúzia de mamíferos marinhos — incluindo orcas, baleias-piloto e focas — para tarefas que incluem detecção de minas e defesa de nadadores. Aves, tartarugas marinhas e tubarões também foram colocados em serviço.

No início de 2023, a Marinha ainda treinava 77 golfinhos e 47 leões-marinhos. De acordo com o New York Times, eles não criam mais golfinhos e planejam terminar gradualmente com os trabalhos destes animais em favor de drones subaquáticos. Entretanto, os animais, alguns dos quais já foram utilizados nas guerras externas dos Estados Unidos estão ajudando a abrir novos caminhos com pesquisas sobre pedras nos rins, cataratas, problemas de peso e todas as outras indignidades enfrentadas pelos veteranos idosos em todo o mundo.

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