A caixa-preta do avião da Embraer que caiu no Cazaquistão na última quarta-feira, 25, supostamente abatido por uma linha de defesa antiaérea da Rússia, será enviada ao Brasil para análise da Força Aérea Brasileira (FAB). Segundo autoridades do Cazaquistão, o material será analisado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), que é ligado à FAB.
O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, afirmou neste domingo que o avião da Azerbaijan Airlines foi atingido por “disparos” provenientes do território russo e acusou Moscou de querer esconder as causas da tragédia.
“Assim que as gravações de voo forem examinadas e informações mais detalhadas forem obtidas, será publicada uma informação completa sobre o que ocorreu”, prometeu Ilham Aliyev.
De acordo com as autoridades cazaques, 17 especialistas de várias nacionalidades estão participando da investigação, incluindo dois russos e vários brasileiros. A Organização de Aviação Civil Internacional (OACI) também participará das investigações.
Desde o dia do acidente, quando o avião caiu após não conseguir pousar em Grozny, no sul da Rússia, aumentaram as suspeitas de que um disparo da força antiaérea russa tenha atingido a aeronave. Os depoimentos dos 29 sobreviventes do incidente e as imagens da cauda do avião, cheia de perfurações, apoiam essa hipótese.
Segundo um comunicado do Kremlin, o presidente russo, Vladimir Putin, se desculpou no sábado com Ilham Aliyev pelo “trágico acidente”, que deixou 38 mortos.
No entanto, Putin não mencionou a possibilidade de que o sistema de defesa antiaérea russo tenha atingido a aeronave, uma hipótese apontada por especialistas dos Estados Unidos e de outros países ocidentais. O presidente russo também afirmou que a região estava sob ataque de drones ucranianos.
De acordo com Aliyev, o avião, um Embraer 190, foi “danificado externamente em território russo, perto da cidade de Grozny”, capital da Chechênia, para onde se dirigia, vindo de Baku.
O avião “quase perdeu o controle” devido a sistemas “militares de interferência eletrônica”, explicou Aliyev em uma entrevista na televisão.
O presidente azerbaijano apontou a “culpa” da Rússia, embora insistisse que “o avião foi atingido acidentalmente”.
Desculpas e indenizações
Aliyev, cujo país mantém boas relações com Moscou, lamentou que as autoridades e a mídia russas tenham apresentado várias versões, como a de que o acidente foi causado por uma revoada de pássaros ou pela explosão de um cilindro de gás a bordo, para tentar “abafar o assunto”.
“Infelizmente, durante os três primeiros dias após o acidente, não ouvimos nada além de teorias absurdas da parte da Rússia”, disse.
Segundo Aliyev, a Rússia deve se desculpar, admitir sua responsabilidade, punir os culpados e indenizar o Azerbaijão e as vítimas do incidente.
“Admitir [sua] culpa, se desculpar a tempo com o Azerbaijão, que é considerado um país amigo, e informar o público a respeito são todas medidas e passos que deveriam ter sido dados”, acrescentou, ressaltando que uma dessas ações, as desculpas, já foram feitas “no sábado”.
De acordo com a Rússia, Grozny foi alvo de ataques de drones ucranianos no dia do acidente. Além disso, a cidade estava envolta em uma espessa neblina, que impedia qualquer visibilidade acima de 500 metros de altitude.
Moscou afirma que foi o comandante a bordo quem, após tentar pousar duas vezes em Grozny, sem sucesso, decidiu aterrissar no aeroporto de Aktau, no Cazaquistão, do outro lado do Mar Cáspio, onde acabou caindo.
Segundo as agências de notícias russas, Aliyev e Putin conversaram novamente neste domingo. Na sexta-feira, a Casa Branca afirmou que tinha “indícios preliminares que apontam para a possibilidade de que o avião tenha sido atingido por sistemas de defesa antiaérea russos”. A União Europeia pediu uma investigação “rápida e independente”.
Em decorrência do incidente, várias companhias aéreas, como a emiradense Flydubai, a cazaque Qazaq Air e a israelense El Al, anunciaram a suspensão de voos para a Rússia. /AFP
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