WASHINGTON - A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos planeja votar nesta semana um novo pedido de impeachment contra o presidente Donald Trump por causa da invasão do Capitólio, afirmou um dos principais líderes democratas neste domingo, 10. Apesar da tentantiva de acelerar o processo, os próprios democratas admitem que o processo só deve chegar ao Senado "em 100 dias".
O líder da maioria democrata na Câmara, James Clyburn, afirmou que um ou mais processos de impeachment chegarão ao plenário da Casa nesta semana, provavelmente na terça ou na quarta-feira. A programas de televisão neste domingo, o deputado disse que as denúncias podem incluir alegações relacionadas à conduta de Trump sobre os protestos da última semana, além das alegadas tentativas de mudar os resultados da eleição presidencial na Geórgia.
Clyburn reconheceu que um processo de impeachment contra Trump poderia interferir na agenda do presidente eleito, Joe Biden, que toma posse no próximo dia 20. Ele sugeriu que a Casa poderia adiar o envio das denúncias ao Senado. “Vamos dar ao presidente Biden os 100 dias de que ele necessita para mostrar sua agenda e colocá-la em funcionamento, e talvez enviemos os processos em algum momento depois disso”, afirmou em entrevista à CNN.
Apesar de terem conseguido o controle da Câmara e do Senado, os democratas não têm a maioria absoluta necessária para aprovar o impeachment. O Senado nos próximos dois anos terá 48 democratas e 2 independentes, e 50 republicanos.
A Constituição dos Estados Unidos diz que o Senado precisa realizar um julgamento e votar para condenar um presidente e tirá-lo do cargo. E isso exige que dois terços dos senadores concordem em condená-lo. Mesmo que o impeachment seja aprovado na Câmara, seria preciso que 64 senadores votassem pelo impeachment – os dois independentes e 14 republicanos. Até agora, nenhum senador republicano se mostrou favorável ao julgamento.
Caso se confirme o novo processo de impeachment, Trump será mais uma vez submetido ao julgamento dos parlamentares. O presidente foi alvo de um pedido de impedimento antes das eleições, motivado pela suspeita de relações escusas com o governo da Ucrânia. Na época, Trump se livrou por ter maioria no Senado. Desta vez, porém, a base republicana está rachada, com parlamentares do partido pedindo a renúncia do presidente.
Neste domingo, o senador republicano Pat Toomey defendeu a renúncia de Trump em entrevista à rede americana CNN. "Acho que neste momento, restando poucos dias (para o fim do mandato), este é o melhor caminho", opinou Toomey.
O senador pela Pensilvânia se une, assim, à senadora Lisa Murkowski, do Alasca, na defesa pela saída antecipada de Trump. Contudo, Toomey também questionou se um impeachment seria viável a poucos dias do fim do governo, já que o processo levaria mais tempo do que o prazo restante de mandato, acrescentando que não está claro se a constituição permite o impeachment de um presidente após o término de seu governo.
Ainda de acordo com o senador, Trump deve enfrentar as consequências por incitar a mobilização na quarta-feira, incluindo a possibilidade de processos na esfera criminal. "O comportamento foi ultrajante, e deveria haver uma prestação de contas", afirmou o senador. "O que testemunhamos foi mais marcante do que tudo o que já tínhamos visto de Trump antes."
Estratégia para o processo
De acordo com outro democrata, David Cicilline, um dos autores do pedido de impeachment de Trump que toma por base a suposta incitação do presidente à invasão do Capitólio na última semana, a denúncia tem o apoio de 185 democratas da Câmara.
Neste domingo, o deputado democrata Hakeem Jeffries afirmou que o presidente deve ser imediatamente removido do cargo por ser "um claro perigo para a saúde e segurança do povo americano". Segundo o parlamentar, o Congresso tem a "responsabilidade constitucional" de resolver a questão, seja através do impeachment ou pressionando para que o gabinete do presidente invoque a 25ª Emenda, declarando que Trump é inapto para o governo.
Jeffries, representante do Estado de Nova York, declarou ainda que apesar de a conta de Trump no Twitter ter sido suspensa, o atual presidente ainda possui acesso aos códigos nucleares americanos e a outros instrumentos de poder. "Donald Trump está completamente fora de controle e até mesmo seus apoiadores de longa data chegaram a essa conclusão", afirmou o parlamentar em entrevista ao programa "Meet the Press", da rede de televisão americana NBC./ AP e Dow Jones Newswire
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