Além da distribuição direta de alimentos, o chavismo tem uma segunda ferramenta para manter a fidelidade de seus subsidiados, a “carteira da pátria”, criada em janeiro de 2017. Trata-se de uma identificação paralela ao RG que garante gratificações de US$ 1,5 em datas festivas – Dia das Mães, dos Pais, da Independência, do Menino Jesus, entre outros. O valor é metade do salário mínimo.
Quem fez a carteira, opcional, será obrigado a apresentá-la na votação para seguir recebendo os benefícios, o que garante ao chavismo maior presença de seu eleitorado. Nicolás Maduro pediu que os que têm o cartão – 16 milhões – votem à primeira hora da manhã. Assim, o governo pode monitorar durante o dia a ausência de seus potenciais eleitores. E buscá-los em casa. “Não interessa ao governo esclarecer que essa carteira não permite saber o voto. Um terço dos eleitores pensa que o governo saberá sim”, diz Benigno Alcorcón, cientista político da Universidade Católica Andrés Bello.
O governo argumenta que para receber as caixas de comida e a gratificação ligada à carteira não é preciso se apresentar como chavista. Na região visitada pela reportagem no bairro Petare, das 497 famílias que recebem as cestas, só 3 se negaram a fazer a carteira.
Uma das rebeldes é Rosa Alfonso, aposentada de 64 anos. “Eu recebo a cesta de alimentos mesmo sendo opositora, isso é verdade. Mas me neguei a fazer a carteira, mesmo perdendo as gratificações. O que os chavistas iam dizer? Ela vota na oposição, mas vive dos subsídios. Não quero bônus, quero que o país funcione”, desabafa. Rosa vive com uma pensão de US$ 3, que não cobre o preço de seu remédio para controlar a pressão. “É preciso escolher. Comer ou não ficar doente.”
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