Casal de espiões é preso por tentar vender segredos de submarino nuclear dos EUA para o Brasil

Jonathan e Diana Toebbe foram condenados a mais de 19 anos de prisão por conspiração após tentar vender dados de tecnologia de defesa do país

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - Um casal americano foi condenado na última quarta-feira, 9, por conspiração após tentar vender dados restritos ligados a um projeto de navios de guerra movidos a energia nuclear dos Estados Unidos. Jonathan Toebbe, de 44 anos, foi condenado a mais de 19 anos de reclusão, e sua esposa, Diana Toebbe, de 46 anos, foi condenada a mais de 21 anos. Eles se declararam culpados da conspiração em agosto de 2022 por tentar vender as informações para o governo do Brasil.

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“Os Toebbes conspiraram para vender informações de defesa restritas que colocariam em risco a vida de nossos homens e mulheres uniformizados e a segurança dos Estados Unidos”, disse o procurador-geral assistente Matthew G. Olsen, da Divisão de Segurança Nacional do Departamento de Justiça, em nota publicada pelo departamento.

Segundo os documentos da Justiça americana, Jonathan era um um engenheiro naval do Departamento da Marinha e possuía uma habilitação de segurança nacional ativa que lhe dava acesso a “Dados Restritos”. “Dados restritos dizem respeito ao projeto, fabricação ou utilização de armas atômicas, ou produção de Material Nuclear Especial (SNM), ou uso de SNM na produção de energia – como reatores navais. Jonathan Toebbe trabalhou e teve acesso a informações sobre propulsão nuclear naval, incluindo informações relacionadas a elementos de design militar sensíveis”, diz a nota.

Foto não datada fornecida pela Penitenciária regional da Virgínia Ocidental mostra Jonathan Toebbe e sua esposa Diana Toebbe  Foto: AP

Sem citar o Brasil, o comunicado do Departamento de Justiça diz que ele enviou um pacote para um governo estrangeiro, listando um endereço de retorno em Pittsburgh, na Pensilvânia, contendo uma amostra de dados restritos e instruções para estabelecer um relacionamento secreto para comprar informações adicionais. Jonathan Toebbe começou a se corresponder por e-mail criptografado com um indivíduo que ele acreditava ser um representante do governo estrangeiro, que na verdade era um agente disfarçado do FBI.

“Essas ações são uma traição à confiança, não apenas para o governo dos EUA, mas também para o povo americano”, disse o diretor assistente Alan E. Kohler Jr. da Divisão de Contrainteligência do FBI. “Todos os funcionários do governo dos EUA juram apoiar e defender a Constituição dos Estados Unidos, e com esse juramento vem a obrigação de proteger informações confidenciais.”

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Relembre o caso

O caso ocorreu em 2020, quando Jonathan e sua mulher decidiram tentar vender alguns dos segredos militares mais bem guardados dos Estados Unidos: a tecnologia por trás dos reatores nucleares que alimentam a frota de submarinos dos EUA.

Depois de considerar moralmente errado vender a tecnologia para governos adversários, como Rússia e China, o casal optou por vender para o Brasil, país com dinheiro suficiente para comprar os segredos e que estava casa vez mais ansioso para adquirir a tecnologia, segundo mensagens de texto divulgadas no tribunal durante o julgamento.

A nação abordada pelos Toebbes não é citada no texto de condenação. Mas, segundo um alto funcionário brasileiro e outras pessoas informadas da investigação revelaram ao New York Times em agosto, Toebbe abordou o Brasil há quase dois anos com uma oferta de milhares de páginas de documentos confidenciais sobre reatores nucleares que ele havia roubado do escritório da Marinha em Washington ao longo de vários anos.

O plano saiu pela culatra assim que começou. Depois que Toebbe enviou uma carta oferecendo os segredos à agência de inteligência militar do Brasil em abril de 2020, pedindo um pagamento inicial de mais de US$ 100 mil em criptomoedas, autoridades brasileiras entregaram a carta ao adido legal do FBI no país.

Então, a partir de dezembro de 2020, um agente do FBI disfarçado se fez passar por oficial brasileiro para ganhar a confiança de Toebbe e convencê-lo a depositar documentos em um local escolhido pelos investigadores.

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Toebbe concordou em fornecer documentos e ofereceu assistência técnica ao programa de submarinos nucleares do Brasil, usando informações sigilosas que ele aprendeu em anos trabalhando para a Marinha dos EUA.

Jonathan e Diana Toebbe, que moravam em Annapolis, em Maryland, foram presos em outubro e se declararam culpados de acusações de espionagem no mês passado.

Pedido de discrição

Embora o governo dos EUA inicialmente quisesse divulgar o nome do país para o qual Toebbes tentou vender os segredos, as autoridades brasileiras insistiram que sua cooperação não fosse divulgada publicamente, segundo uma pessoa familiarizada com a investigação.

A Casa Branca, o Departamento de Justiça e o FBI se recusaram a comentar na época. Autoridades americanas disseram repetidamente que o casal não tentou vender os segredos para os principais adversários dos Estados Unidos, nem para seus aliados mais próximos da Otan, como a França.

Em mensagens criptografadas de 2019 recuperadas pelo FBI, o casal discutiu o que parecem ser planos diferentes para vender os segredos. Um plano, escreveu Toebbe, era errado sequer ser cogitado, por ser um país inimigo dos EUA. Outro plano, presumivelmente para vender para um país mais amigável, também era questionável.

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“Também não é moralmente defensável”, escreveu Jonathan Toebbe, de acordo com uma transcrição do processo judicial. “Nós nos convencemos de que estava tudo bem, mas também não está, não é?”

Diana Toebbe respondeu: “Não tenho nenhum problema com isso. Não sinto lealdade às abstrações.”

Em agosto, o defensor público de Jonathan Toebbe disse que as regras do governo o impedem de responder a perguntas. Um advogado de Diana Toebbe se recusou a discutir o caso antes de sua sentença. Ela disse repetidamente no tribunal que o governo apresentou mensagens selecionadas e fora de contexto.

Havia apenas alguns países que não eram abertamente hostis aos Estados Unidos e podiam fazer uso da tecnologia e dos projetos que Toebbe tinha para vender. Apenas um país capaz de construir um reator nuclear e pronto para investir bilhões em uma frota de submarinos nucleares estaria disposto a canalizar para ele as centenas de milhares de dólares em criptomoeda que ele estava procurando.

Uma foto sem data fornecida pela Marinha dos Estados Unidos mostra o submarino de ataque da classe Virginia Unidade de Pré-Comissionamento Novo México (SSN 779) em 26 de novembro de 2009 durante testes de mar no Oceano Atlântico Foto: Marinha dos EUA/NYT

Programa nuclear brasileiro

O Brasil começou a trabalhar no desenvolvimento de submarinos nucleares em 1978, originalmente motivado por sua rivalidade com a Argentina. Em 2008, sob o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil reinvestiu em um esforço para criar um submarino nuclear, para melhor patrulhar e proteger sua zona econômica exclusiva no Oceano Atlântico, fonte de combustíveis fósseis e outros recursos.

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O país pretende lançar seu primeiro submarino movido a energia nuclear em 2029, parte de um programa submarino de US$ 7,2 bilhões. O Brasil está construindo mais quatro submarinos tradicionais com a ajuda da França, mas vem tentando desenvolver um quinto submarino movido por um reator nuclear por conta própria – um projeto em que tem enfrentado dificuldade.

Como resultado, a experiência de Toebbe, em como tornar reatores nucleares ainda mais silenciosos e difíceis de detectar, bem como outros elementos de projeto de submarinos da classe Virgínia, teriam sido de enorme valor para o Brasil.

Se o Brasil tivesse sido pego tentando comprar segredos americanos, as relações entre os dois países, incluindo o compartilhamento de inteligência, poderiam ter sido colocadas em risco.

Em vez disso, as autoridades brasileiras trabalharam com o FBI depois que Jonathan Toebbe inicialmente hesitou em depositar as informações sigilosas em um local secreto previamente combinado.

“Estou preocupado que o uso de um local para depositar as informações que seu amigo preparou me torne muito vulnerável”, escreveu Toebbe, de acordo com registros do tribunal. “Por enquanto, devo considerar a possibilidade de que você não seja a pessoa que espero que seja.”

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Para enganar Toebbe fazendo-o acreditar que estava falando com uma autoridade brasileira, o agente disfarçado disse a ele para procurar um sinal colocado em uma janela em um prédio do governo brasileiro em Washington durante o fim de semana do Memorial Day do ano passado. Tal operação só poderia ter sido realizada com a cooperação de autoridades brasileiras em Washington.

Depois de ver a placa, Toebbe concordou em deixar uma amostra dos segredos nucleares que ele roubou da Marinha escondidos em um sanduíche de pasta de amendoim em um restaurante na Virgínia Ocidental, desencadeando uma série de eventos que culminaram com a prisão do casal em outubro./Com informações do NYT