O cerco ao Capitólio acabou como uma fantasia do movimento QAnon tornada real: os fiéis se levantaram aos milhares, convocados a Washington por seu líder, Donald Trump. Hordas armadas vestindo camisetas com o símbolo “Q” e carregando bandeiras de Trump tomaram a casa do povo para “fazer justiça”.
O “#Storm” previsto nos fóruns da extrema direita havia chegado. E duas mulheres que morreram no tumulto – ambas devotas de QAnon – se tornaram o que alguns chamam de os primeiros mártires da causa.
O cerco terminou com a polícia retomando o Capitólio. Mas a insurreição fracassada marcou um marco sombrio em como a teoria da conspiração paranoica do QAnon radicalizou os americanos, reformulou o Partido Republicano e ganhou um forte controle sobre a crença da direita.
Nascido nos pântanos da Internet, o QAnon desempenhou um papel inconfundível em energizar manifestantes durante o ataque no mundo real no dia 6. Um homem com uma camiseta “Q” liderou a invasão, enquanto outro usando um chapéu de pele, que ficou conhecido como “Q Shaman”, posou para fotógrafos no Congresso. Mais tarde, o Twitter eliminou mais de 70 mil contas associadas à teoria da conspiração, em um reconhecimento da potência online do QAnon.
A teoria da conspiração infundada, que imagina Trump em uma batalha com sabotadores do estado profundo que adoram satanás, ajudou a impulsionar os eventos do dia e facilitar ataques organizados. A proeminência de QAnon no ataque ao Capitólio mostra o quão poderosa se tornou a teoria da conspiração e como rapidamente estabeleceu vida própria. Em plataformas periféricas de direita e aplicativos de mensagens criptografadas, os crentes estão oferecendo teorias cada vez mais bizarras.
Mesmo com Trump prestes a sair da Casa Branca, o controle da QAnon sobre a psique conservadora está crescendo. A evolução do QAnon é um sinal do perigo que representa para a segurança na posse de Joe Biden e também apresenta desafios de longo prazo para novo presidente, fomentando a resistência à governança democrática e até às medidas necessárias para conter a pandemia. * SÃO JORNALISTAS
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