O programa nuclear e de desenvolvimento de mísseis de longo alcance da Coreia do Norte patinava em escassos sucessos até 2012 – as explosões de teste eram consideradas não funcionais pelas agências de inteligência dos EUA e da Europa. Os lançamentos das versões mais sofisticadas dos foguetes balísticos acumulavam fiascos – apenas um em cada três decolava da base. Em apenas cinco anos a situação mudou radicalmente.
Só nas últimas três semanas o ditador Kim Jong-un comandou o lançamento de um míssil de médio alcance que sobrevoou o Japão antes de cair no mar e, há dois dias, a detonação subterrânea de uma bomba de hidrogênio de 100 a 120 quilotons. Antes disso, um outro veículo da série Hwasong subiu além dos 2,1 mil km antes de descer no mar. A trajetória projetada indicou que, em tese, poderia ter chegado aos estados americanos do Havaí e Alasca carregando uma ogiva de 700 kg a 1 tonelada.
As razões da mudança intrigam os analistas. Há um certo consenso quanto à influência do trabalho de especialistas internacionais – paquistaneses, indianos, iranianos, alemães, belgas – atuando sob contrato ao lado de uma espécie de legião estrangeira de técnicos voluntários, além, claro, dos quadros próprios de físicos, engenheiros e químicos.
Na semana passada o analista Michael Ellerman, do Instituto de Estudos Estratégicos, revelou que Kim teria comprado informações secretas desviadas por cientistas de Dnipro, sede do complexo industrial ucraniano de mísseis. O centro foi responsável pela produção de quase todos os foguetes balísticos da extinta União Soviética.
O dinheiro para a aventura atômica de Pyongyang é obtido por meio do sacrifício dos programas sociais, virtualmente inexistentes no país. O PIB se mantém há pelo menos uma década na média de US$ 40 bilhões anuais – o equivalente às economias dos Estados de Mato Grosso ou Goiás. Cerca de 90% do total é aplicado em gastos militares.
A conta fecha com uma receita paralela, da venda não contabilizada de armas modernizadas e mísseis táticos leves para países em desenvolvimento, africanos principalmente. A renda per capita, de US$ 1,8 mil, coloca a Coreia do Norte no nível de Ruanda e Haiti.
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