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Cerco à embaixada argentina na Venezuela teria objetivo de forçar exílio de González, diz jornal

Alvo de mandado de prisão, ele pediu asilo para Espanha depois de passar mais de um mês escondido; operação para pressionar e enfraquecer a oposição foi reportada pelo Clarín

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Por Redação

CARACAS - O cerco à embaixada argentina em Caracas seria parte do plano da ditadura chavista para forçar o exílio de Edmundo González e, assim, enfraquecer a oposição. A operação foi reportada pelo Clarín, citando uma fonte da diplomacia do Brasil. O País estava responsável pela representação diplomática da Argentina, mas foi pego de surpresa pela decisão da Venezuela, que revogou a custódia.

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“Usaram a embaixada argentina, sob proteção do Brasil, como parte de uma enorme pressão em larga escala sobre González para convencê-lo a deixar o país”, disse o interlocutor do Clarín, que não teve o nome divulgado. “Foi um operação audaciosa, sem nenhum ética, mas bem orquestrada para produzir o resultado desejado, que foi esse triunfo para o regime”, acrescentou.

O Brasil assumiu a proteção da embaixada, que abriga seis opositores do regime, depois que a missão diplomática da Argentina. Mesmo com a custódia revogada pela Venezuela, o Itamaraty garantiu que continuaria representando os interesses argentinos até que o substituto fosse designado.

Venezuela revogou custódia do Brasil e cercou a embaixada da Argentina no que seria parte de plano para pressionar a oposição e forçar o exílio de Edmundo González.  Foto: Juan Barreto/AFP

Ao longo do fim de semana, a embaixada foi cercada por homens armados e encapuzadas das forças venezuelanas e teve o fornecimento de energia cortado. Depois que o candidato da oposição deixou a Venezuela, o cerco foi relaxado, reportou o Clarín.

Edmundo González teve salvo-conduto para sair do país rumo à Espanha no domingo. De lá, prometeu que vai continuar lutando pela recuperação da democracia na Venezuela. Adversário de Nicolás Maduro na última eleição, marcada pelas denúncias de fraude, ele estava ameaçado de prisão e passou mais de um mês sem ser visto em público. Agora, começam a emergir os detalhes do período que ficou escondido, até o exílio.

Depois dos protestos de 30 de julho, quando foi visto pela última vez, Edmundo González se asilou na embaixada da Holanda em Caracas. Ele permaneceu escondido lá até a última quinta-feira, 5, quando seguiu para a casa do embaixador da Espanha na Venezuela.

De acordo com a reportagem do Clarín, o ex-primeiro-ministro espanhol José Luís Rodríguez Zapatero, próximo ao chavismo, teria sido uma peça-chave no plano para que Edmundo González deixasse a Venezuela. Zapatero é do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), o mesmo do primeiro-ministro Pedro Sánchez.

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A Espanha afirma que a decisão de pedir asilo partiu do próprio Edmundo González e negou acordos com o regime chavista. “González solicitou o direito de asilo e a Espanha, é claro, vai conceder”, disse o ministro de Assuntos Exteriores José Manuel Albares em entrevista.

“Volto a dizer, de maneira muito clara: não houve nenhum tipo de negociação política entre o governo da Espanha e o governo da Venezuela”, insistiu. Ele destacou ainda que o fato de a Espanha ter recebido Edmundo González não muda a posição do país sobre as eleições na Venezuela. “Não vamos reconhecer a suposta vitória de Nicolás Maduro.”

A versão é diferente da que foi apresentada pela vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez. “Uma vez que os contatos relevantes entre os dois governos foram realizados, que as medidas necessárias foram adotadas e em acordo com o direito internacional, a Venezuela concedeu os salvo-condutos necessários ao interesse da paz e tranquilidade política do país”, escreveu ao anunciar que González havia deixado a Venezuela.

Edmundo González afirma ter derrotado Nicolás Maduro nas eleições com quase 70% dos votos. A alegação é sustentada pelas cópias atas divulgadas pela oposição e analisadas por pesquisadores independentes.

O chavismo — que proclamou a reeleição do ditador sem nunca divulgar os dados das urnas — alegou que os documentos seriam falsos e passou a usar o aparato do Estado para aumentar a pressão contra os opositores Edmundo González e María Corina Machado.

Edmundo González durante a campanha à presidência da Venezuela, que ele afirma ter vencido. Alvo de mandado de prisão, ele terminou exilado na Espanha.  Foto: Ariana Cubillos/Associated Press

A Justiça, alinhada ao regime, ordenou a prisão de González, depois que ele faltou a três convocações do Ministério Público, também de viés chavista, para depor. A ação do MP, que denunciou como política, mirava no site que a oposição criou para divulgar as cópias das atas da votação. O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, disse que a saída de González representa o fim de “uma comédia”.

A líder da oposição, María Corina Machado, por outro lado, defendeu que o exílio do aliado foi necessário para preservar sua liberdade e sua vida em meio à onda de repressão brutal.

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Em carta assinada de Madri, Edmundo González agradeceu Espanha e Holanda pela proteção que recebeu e justificou a decisão de ir para o exílio.

“Tomei esta decisão pensando na Venezuela e que o nosso destino como país não pode, nem deve ser, o de um conflito de dor e sofrimento. Fiz isso pensando na minha família e em todas as famílias venezuelanas neste momento de tanta tensão e angústia. Fiz isso para que as coisas mudem e possamos construir uma nova era para a Venezuela”, escreveu, fazendo um chamado ao diálogo./COM AFP

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