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Chance de cessar-fogo em Gaza diminui com novas exigências de Israel e ausência do Hamas em reunião

Ocidente e países árabes pressionam governo Netanyahu e Hamas a aceitar acordo para encerrar conflito; trégua reduziria riscos de uma guerra mais ampla com o Irã

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Foto do author Luiz Henrique Gomes
Atualização:

A chance de um cessar-fogo nos conflitos na Faixa de Gaza diminuiu depois que Israel apresentou novas exigências e o Hamas disse que não vai estar na mesa de negociações desta semana no Catar. Lideranças regionais e do Ocidente esperavam que a reunião tivesse avanços, depois de aumentarem a pressão pela trégua para evitar uma guerra ampla no Oriente Médio com o Irã, mas começam a admitir que o acordo continua difícil neste momento.

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A proposta de cessar-fogo atual é aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU e está na mesa de negociação desde junho. O texto é apoiado por países aliados dos israelenses e do Hamas, mas não se concretiza por causa de impasses dos lados em conflito, que se acusam mutuamente de bloqueá-lo.

Com a piora das tensões regionais por causa do assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã, e a ameaça de retaliação do Irã a Israel, os negociadores esperavam alguma mudança. Entretanto, na terça-feira, 13, uma reportagem do jornal americano The New York Times relatou que Israel têm acrescentado nos últimos meses exigências ao acordo e as lideranças do Hamas declararam que não irão a negociação desta semana. “Netanyahu não está interessado em chegar a um acordo”, afirmou Amad Abdul-Hadi, um representante do Hamas no Líbano, sobre o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu.

Imagem de 11 de agosto mostra civis palestinos deslocados na Faixa de Gaza por causa dos ataques de Israel. Cessar-fogo no enclave continua distante Foto: Abdel Kareem Hana/AP

Outra autoridade do Hamas, Osama Hamdan, afirmou à agência de notícias Associated Press que o grupo só aceita participar da negociação no Catar esta semana se a proposta que estiver na mesa seja a aprovada pelo Conselho de Segurança, que garante a libertação de reféns judeus em troca da soltura de prisioneiros palestinos e o cessar-fogo nos conflitos em Gaza.

Em resposta, o governo israelense afirmou que as novas exigências são para “esclarecer ambiguidades”. “A carta de 27 de julho não introduz novos termos”, disse o governo, segundo o NYT. “Ao contrário, ela inclui esclarecimentos essenciais para ajudar a implementar a proposta (do Conselho de Segurança) de 27 de maio.”

As expectativas das autoridades diminuíram de imediato. No mesmo dia, o presidente americano Joe Biden, que se esforça para alcançar o cessar-fogo e afastar a questão Israel-Palestina da campanha eleitoral, disse em uma coletiva de imprensa que o acordo “está ficando mais difícil”. Nesta quarta-feira, 14, embaixadores dos Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha em Israel emitiram uma declaração conjunta para pedir que o país aceite os termos atuais, que garante a libertação de reféns e o cessar-fogo na Faixa de Gaza.

Internamente, Netanyahu é pressionado pelas famílias de reféns a aceitar o acordo dos EUA e interromper a guerra e por membros extremistas de seu governo, mais notadamente o ministro da Segurança Itamar Ben-Gvir e o ministro das Finanças Bezalel Smotrich, que lhe dão sustentação política, a recusá-lo. De acordo com a imprensa israelense, os membros do exército e da inteligência, que integram a equipe de Israel que viaja ao Catar, são mais aceitáveis à proposta de trégua.

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O cessar-fogo se torna ainda mais difícil após Ben-Gvir e o Yitzhak Wasserlauf, membro do partido extremista Otzma Yehudit, terem ido na terça-feira com dezenas de judeus à Esplanada das Mesquitas, local sagrado em Jerusalém para o judaísmo e o islamismo. As visitas a esse local por parte de autoridades de Israel são sempre vistas por muçulmanos como provocação e dificultam a trégua.

Segundo o jornal israelense Hareetz, autoridades da defesa israelense afirmaram que a visita de Ben-Gvir, que é o chefe da pasta, aumenta as tensões por provocar o componente religioso da guerra Israel-Palestina. De acordo com o direito internacional, Israel não tem soberania sobre Jerusalém Oriental, onde está a Esplanada das Mesquitas, e a presença de autoridades israelenses para orar em voz alta e exibir símbolos nacionalistas, como o hino nacional e bandeiras, são vistos como violações do status quo.

Proposta de cessar-fogo aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU

  1. (a) Fase 1 : um cessar-fogo imediato, total e completo com a libertação de reféns, incluindo mulheres, idosos e feridos, o retorno dos restos mortais de alguns reféns que foram mortos, a troca de prisioneiros palestinos, a retirada das forças israelenses das áreas povoadas de Gaza, o retorno dos civis palestinos às suas casas e bairros em todas as áreas de Gaza, incluindo o norte, e a distribuição segura e eficaz de assistência humanitária em grande escala por toda a Faixa de Gaza a todos os civis palestinos que dela necessitem, incluindo unidades habitacionais entregues pela comunidade internacional;
  2. (b) Fase 2 : mediante acordo das partes, o fim permanente das hostilidades, em troca da libertação de todos os outros reféns ainda em Gaza, e a retirada total das forças israelenses de Gaza; e
  3. (c) Fase 3 : o início de um importante plano de reconstrução plurianual para Gaza e a devolução dos restos mortais de quaisquer reféns falecidos que ainda estejam em Gaza às suas famílias;

Risco de guerra aberta com o Irã aumenta urgência de cessar-fogo

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Os movimentos políticos acontecem em um dos momentos mais críticos para a segurança do Oriente Médio, que está sob o risco de uma guerra mais ampla entre Israel e o Irã. Desde a morte de Haniyeh em Teerã, que foi atribuída a Israel embora o país não assuma publicamente a autoria, as autoridades iranianas prometem uma resposta que pode incluir a ação de grupos aliados da região, como o Hezbollah, sediado no Líbano.

O Irã afirma que o assassinato de Haniyeh feriu a sua soberania nacional e que tem o direito de responder a ação. As autoridades do país têm recusado reiteradamente as tentativas de nações do Ocidente de dissuadir o ataque e reúne apoio de países, incluindo a China, que condenou a ação contra o líder do Hamas em solo estrangeiro.

Imagem mostra primeiro-ministro Binyamin Netanyahu durante discurso no Capitólio, em Washington, 24 de julho. Reportagem do NYT afirmou que Netanyahu fez novas exigências para cessar-fogo Foto: Kenny Holston/NYT

Esta semana, os Estados Unidos anunciaram o envio de um submarino nuclear e um porta-aviões para a região para dissuadir o ataque e defender Israel, caso seja necessário. Considerada excepcional por revelar movimentos de embarcações de guerra, a declaração externou a gravidade na região.

O cessar-fogo entre o Hamas e a Faixa de Gaza teria o efeito de diminuir os riscos de imediato, de acordo com a avaliação das autoridades árabes e ocidentais. “(O cessar-fogo) poderia criar as condições para tirar a região do ciclo interminável de violência”, declarou o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Vedant Patel, na terça-feira.

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