BUENOS AIRES - A ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, definiu como “prioridade” o livre comércio do Mercosul com a União Europeia. O Acordo de Associação (AA), que se arrasta há 20 anos, foi discutido em reunião com embaixadores e representantes diplomáticos da UE em Buenos Aires.
A chanceler criticou a demora e disse que orientou os negociadores argentinos para que sejam proativos na reta final. “A negociação do acordo já consumiu mais de 20 anos, 20 anos desperdiçando oportunidades de integração produtiva, comercial e humana, desviando recursos materiais e humanos em idas e vindas sobre questões técnicas. Isso tem que acabar”, cobrou Mondino. “Fechar o acordo é uma de nossas prioridades”, concluiu.
O presidente argentino, Javier Milei, já questionou a existência do Mercosul, que chamou de “estorvo”. A retórica inflamada da campanha impulsionou o esforço entre os blocos que tentaram, sem sucesso, anunciar a conclusão do acordo na Cúpula do Rio de Janeiro, antes da posse do libertário.
Enquanto as conversas se intensificavam, o novo governo passou a indicar moderação aos parceiros internacionais e se manifestou a favor do livre comércio com a UE por meio da própria Diana Mondino, que esteve em Brasília antes de assumir oficialmente o cargo de chanceler. Apesar do sinal positivo, houve resistência do governo peronista de Alberto Fernández, em assinar o acordo nos últimos dias antes de deixar a Casa Rosada.
O Brasil, que presidiu o Mercosul até o começo do mês, destacou diante do revés que as negociações avançaram e que os dois lados demonstraram interesse em tirar a abertura comercial do papel. Ao fim do encontro do bloco sul-americano, no Rio, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que o acordo poderia ser concluído entre janeiro e fevereiro.
A Cúpula do Mercosul era vista como uma “janela de oportunidade” já que países favoráveis ao acordo ocupavam as presidências rotativas tanto do bloco sul-americano como da União Europeia. No caso, Brasil e Espanha, respectivamente. A pressa se explica também pela eleição do Parlamento Europeu, que está marcada para o meio do ano que vem e torna ainda mais incerto o cenário para que o texto seja ratificado.
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Após 20 anos de discussão, o tratado foi firmado em 2019. Desde então, passa por uma revisão técnica, que ficou travada nos últimos anos, com o aumento do desmatamento no Brasil sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na retomada do processo, a União Europeia apresentou novas exigências na pauta ambiental, chamadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “inaceitáveis”. O Brasil viu a chamada side letter como protecionismo verde já que o agro europeu pressiona contra o livre comércio, especialmente em países como a França, cujo presidente Emmanuel Macron chamou o acordo de “antiquado”.
Com a negociação reaberta, o petista também passou a questionar a abertura de licitações para empresas europeias sob o argumento de que as compras do governo são um instrumento para fomentar a indústria local. Durante a cúpula, Lula criticou o texto “herdado” do rival Bolsonaro ao justificar o impasse.
Depois de fechado, o tratado ainda precisará ser aprovado em cada um dos 31 países-membros do Mercosul e da União Europeia.
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