CARACAS - O governo e a oposição da Venezuela concordaram em estabelecer uma mesa de trabalho permanente para tentar resolver a crise política, sem perspectivas de uma nova eleição presidencial, que seria o objetivo dos adversários do presidente Nicolás Maduro.
Delegados de Maduro e do líder opositor Juan Guaidó – autoproclamado presidente interino da Venezuela e reconhecido por mais de 50 países – concluíram nesta sexta-feira, 12, em Barbados uma reunião iniciada na segunda-feira, dando continuidade a uma aproximação mediada pela Noruega e iniciada em maio, em Oslo.
“Foi desenvolvida uma intensa jornada de trabalho com os seis pontos que foram acordados com o governo da Noruega e as oposições”, disse Maduro, na quinta-feira, 11, em um pronunciamento de rádio e TV.
Mais cedo, o Ministério de Relações Exteriores da Noruega emitiu um comunicado explicando que, “como parte deste processo, foi instalada uma mesa que vai trabalhar de forma contínua com a finalidade de chegar a uma solução acordada e no âmbito da Constituição”.
“Está previsto que as partes realizem consultas para poder avançar na negociação”, acrescentou o texto da chancelaria norueguesa, sem dar detalhes sobre as datas dos novos encontros. O governo da Noruega pediu ainda que chavismo e oposição tomem a “máxima precaução em seus comentários e declarações com relação ao processo”.
Ao lado de Maduro, Héctor Rodríguez, negociador do governo, antecipou um “caminho complexo”, mas que poderia levar a um “acordo de coexistência democrática” e “governabilidade” em que ambas as partes se reconhecem. Anteriormente, o ministro de Comunicação, Jorge Rodríguez, classificou o encontro em Barbados como uma “troca bem-sucedida”.
Já o representante de Guaidó, Stalin González, afirmou pelo Twitter que os venezuelanos necessitam de “respostas e resultados” e anunciou que a delegação opositora “realizará consultas para avançar e encerrar o sofrimento”.
Guaidó exige que o diálogo leve à saída de Maduro, estabeleça um “governo de transição” e resulte na convocação de novas eleições, considerando que a reeleição do líder chavista, em 2018, foi fraudulenta. No entanto, no encerramento do encontro, o número dois do chavismo, Diosdado Cabello, negou que o governo esteja discutindo uma saída eleitoral.
As partes iniciaram uma aproximação após a fracassada tentativa de golpe militar liderada por Guaidó contra Maduro, que segue no poder com o apoio das Forças Armadas. Ele descarta a possibilidade de abandonar a presidência, apesar de manter otimismo em relação ao diálogo com a oposição.
Muitos venezuelanos estão céticos e não acreditam que as negociações levarão ao fim da crise política e econômica. Vários opositores afirmam que a boa vontade de Maduro não passa de uma tentativa de ganhar tempo e protelar sua saída – uma vez que outras tentativas de diálogo não deram resultado prático.
Enquanto isso, os venezuelanos vivem a pior crise de sua história, que inclui uma escassez crônica de comida e remédios. A hiperinflação, segundo estimativas do FMI, chegará a 10.000.000% este ano. O cenário caótico já levou mais de 4 milhões de venezuelanos a fugir do país. A maioria cruzou a fronteira dos países vizinhos, Colômbia e Brasil. / REUTERS e AFP
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.