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China alivia lockdown, amplia vacinação de idosos, mas vai manter política de covid-zero

Cúpula do governo chinês, mais próxima a Xi Jinping,

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Por Redação

PEQUIM ― O governo chinês voltou a reforçar o policiamento nas ruas das principais cidades do país nesta terça-feira, 29, para evitar novos protestos contra a política de tolerância zero com a covid-19, como os registrados no fim de semana. Enquanto o efetivo policial se fazia notar nas ruas de Pequim e Xangai, autoridades trabalhavam para reduzir algumas das medidas mais restritivas e mostrar avanços em outras frentes de combate ao coronavírus ― mas reafirmando o compromisso com a estratégia “covid zero”, defendida pelo regime desde o começo da pandemia.

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A Comissão Nacional de Saúde da China, principal autoridade do país no setor e subordinada diretamente ao presidente Xi Jinping, voltou a defender a política de Estado iniciada há quase três anos e culpou autoridades regionais pela condução das medidas, no que foi notado por observadores internacionais como uma tentativa de distanciar a cúpula do regime chinês da atual crise.

“Alguns governos locais adotam uma mesma abordagem para todos os casos, com medidas políticas excessivas que negligencam as demandas do público”, disse o porta-voz da comissão Mi Feng, em declaração registrada pelo jornal britânico Financial Times. Feng ainda disse que a extensão de alguns bloqueios foram imprudentes e que certos prazos de lockdown foram além do necessário.

Moradores de área residencial em lockdown em Pequim passam por teste de covid-19. Foto: Noel Celis/ AFP - 29/11/2022

Por meio de um comunicado, a Comissão também se comprometeu a acelerar a taxa de vacinação de pessoas com mais de 80 anos (apenas 65,8% dos idosos nesta idade estão com o esquema de vacinação completo) e também ampliar a imunização na faixa entre 60 e 79 anos. A limitada cobertura vacinal entre os mais velhos é um dos argumentos do governo para justificar a política de saúde rígida, que inclui isolamentos prolongados, quarentenas e testes praticamente diários.

Pressionadas pelos protestos e pelo governo central, algumas autoridades locais começaram a aliviar as restrições ainda na segunda-feira, 28. O governo da cidade de Pequim decretou o fim da instalação de portões para bloquear o acesso a complexos de apartamentos em áreas de alto risco de infecção. Em Urumqi, cidade que impulsionou os últimos protestos, comércios foram autorizados a reabrir em áreas consideradas de baixo risco, e o serviço de transporte público começou a ser normalizado.

Embora as sutis mudanças venham na esteira dos protestos do fim de semana, o governo chinês não se referiu diretamente aos manifestantes ― o que não significa que os atos tenham passado despercebidos pela autoridade máxima do regime. Com policiamento ostensivo nas ruas, Pequim e Xangai não tiveram novos protestos nesta terça-feira. Universidades que aderiram aos protestos ― em alguns dos maiores focos de preocupação do governo ― dispensaram seus estudantes das aulas e os enviaram para casa sob o argumento de evitar casos de covid.

Em paralelo, autoridades chinesas também teriam começado a investigar pessoas que participaram dos protestos no fim de semana, de acordo com uma reportagem da agência britânica Reuters que ouviu cidadãos chineses que foram contatados por autoridades policiais e convocados a se apresentar a delegacias para prestar depoimento nesta terça-feira.

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Quantificar a repressão aos protestos pelo país é um desafio para observadores internacionais. Nenhum dado oficial sobre detidos e feridos nos protestos pelo país foram divulgados pelas autoridades, que têm exercido um controle rigoroso sobre a informação. Na imprensa chinesa, os manifestantes foram acusados nos últimos dias de conluio com forças estrangeiras hostis.

Polícia patrulha ruas de Pequim nesta terça-feira, 29. Foto: Thomas Peter/ Reuters - 29/11/2022

“Sempre que houver alguma tragédia na China, [o Ocidente] fará todo o possível para atiçar as chamas e instigar o povo chinês a fazer tumultos”, escreveu Ming Jinwei, um popular comentarista, em uma publicação na segunda-feira, em que alertou sobre uma potencial revolução colorida no país. “Eles examinam os problemas da sociedade chinesa com uma lupa e transformam cada incêndio, cada acidente de trânsito, em um ataque ao sistema político da China”, acrescentou.

As autoridades chinesas não reconheceram diretamente as manifestações, embora o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, tenha dito em uma coletiva de imprensa na segunda-feira que não havia necessidade de preocupação com a segurança dos residentes na China. Ele também acusou os ativistas de direitos humanos no exílio, que intensificaram suas críticas a Pequim nos últimos dias, de terem “segundas intenções”.

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Quando questionado se a China consideraria encerrar a política de zero covid após protestos generalizados, Zhao disse que Pequim continuaria lutando contra a pandemia com medidas “otimizadas” de acordo com a política existente e sob a liderança do Partido Comunista.

As políticas de combate ao coronavírus de Pequim mantiveram a taxa de mortalidade do país baixa pelos padrões internacionais, mas especialistas médicos estão questionando cada vez mais a sustentabilidade de tais medidas em meio à disseminação de versões mais transmissíveis da variante Ômicron, e a um cenário em que uma grande parcela da população não foi completamente vacinada e nem exposta ao vírus./ WPOST, NYT, AP e AFP

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