China alivia restrições e vice-primeira-ministra sinaliza mudança no combate à covid

Afrouxamento de protocolos contra a covid-19 por governos locais e declaração de liderança nacional podem sugerir um novo rumo para a política de saúde pública na pandemia

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Por Redação

PEQUIM ― A China ofereceu os sinais mais claros de uma possível mudança na abordagem no combate à pandemia após quase três anos aplicando o que ficou conhecido como política de “covid zero”. Algumas das principais cidades do país afrouxaram as severas medidas restritivas impostas aos cidadãos, embora o número de casos notificados da doença continue e subir, e autoridades governamentais deram declarações sobre possíveis correções de curso.

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A vice-primeira-ministra Sun Chunlan, uma figura central na coordenação da resposta à pandemia no país, afirmou em uma reunião com a Comissão Nacional de Saúde na quarta-feira, 30, que a variante Ômicron é menos letal que outras cepas do vírus e que a taxa de vacinação entre os chineses está aumentando, o que cria um novo cenário “que exige novas tarefas”.

A declaração, que chamou a atenção por não mencionar a política de “covid zero”, surpreendeu ainda mais observadores da política chinesa pelo fato de partir de Sun, que é associada a alguns dos aspectos mais severos do método de combate ao vírus adotada pelo país, como lockdowns imediatos, testagem em massa obrigatória e quarentenas forçadas em instituições do governo. Também foi um raro reconhecimento de que uma variante representa um risco menor.

Idosos se exercitam nesta quinta-feira, 1°, em praça de Pequim. Foto: Tingshu Wang/ Reuters - 10/11/2022

Além da sinalização nacional, mudanças nas abordagens regionais começaram a ser anunciadas por líderes locais. Em Pequim, idosos e as pessoas que estudam ou trabalham de maneira remota foram liberados dos testes PCR diários, anunciou o porta-voz do governo municipal Xu Hejian. Todos os moradores, no entanto, continuam precisando apresentar um teste com resultado negativo de menos de 48 horas para ter acesso aos locais públicos.

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Megalópoles como Guangzhou e Chongqing se uniram à capital na quarta-feira, 30, e anunciaram que pessoas que tiveram contato com pacientes infectados ficam autorizados a cumprir um período de quarentena em casa desde que cumpram alguns requisitos, sem a necessidade de serem encaminhados a centros de tratamentos governamentais ― um dos pontos mais controversos da política de tolerância zero adotada pela China. Em Guangzhou, importante centro industrial onde foram registrados confrontos entre policiais e manifestantes na terça-feira, também foi anunciada a suspensão de um lockdown que já durava semanas.

“Acreditamos que as autoridades chinesas estão mudando para uma postura de ‘conviver com a covid’, como demonstram as regras que permitem o isolamento das pessoas em casa, e que não sejam levadas para centros de quarentena”, afirma um comunicado de analistas da ANZ Research.

Analistas acreditam que o governo chinês está adotando uma abordagem de duas vias. Por um lado, afrouxa algumas restrições para apaziguar a raiva do público. Por outro, usa censura, propaganda e repressão para impedir que os protestos se transformem em um movimento que possa representar uma ameaça existencial ao regime.

Com forte presença policial de Pequim a Xangai, não houve registro de protestos nesta quinta. Publicações nas mídias sociais denunciavam que pessoas estavam sendo paradas aleatoriamente para que a polícia verificasse seus smartphones, possivelmente procurando por aplicativos proibidos no país, como o Twitter, no que eles disseram ser uma violação da Constituição da China.

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“Estou especialmente com medo de me tornar o ‘modelo de Xinjiang’ e ser revistado com a desculpa de andar por aí”, disse uma postagem assinada por Qi Xiaojin na popular plataforma Weibo, referindo-se à região noroeste onde os uigures e outras minorias muçulmanas estão sob intensa vigilância.

Os ativistas estão preocupados especialmente com regiões como o Tibete e Xinjiang, habitadas por populações de minorias étnicas que convivem com um histórico de repressão anterior à pandemia. Nas duas regiões, autoridades ameaçaram punir com penas severas todos aqueles que perturbem a ordem - a narrativa oficial do governo é de que os manifestantes têm intenções sediciosas e separatistas.

Apesar dos números recordes da pandemia no país, a proporção de contágios é ínfima considerando a população. Nesta quinta-feira foram registrados 35.800 casos - a grande maioria assintomáticos - em um país de 1,4 bilhão de habitantes./ WPOST, AP e AFP

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