China defende estratégia 'covid zero' à medida que variante Ômicron se espalha pelo mundo

Com países que iniciaram reabertura sendo forçados a dar um passo atrás, Pequim se vangloria de ter adotado a 'política correta' de enfrentamento do vírus

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Por Christian Shepherd e Lyric Li

À medida que os países começam a restabelecer controles de fronteira em meio a preocupações com a variante Ômicron, a China comemora sua decisão de ter mantido regras restritivas para viagens internacionais como parte de sua estratégia "covid zero".

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Antes da detecção da nova cepa, o compromisso inabalável de Pequim com uma política de eliminação total do coronavírus tornou o país um caso isolado quando a maioria dos países seguia em direção à abertura gradual das fronteiras com a queda dos contágios e aumento das taxas de vacinação.

Agora, enquanto os países voltam atrás e reforçam as restrições de fronteira, as autoridades chinesas estão alegando, com pitadas de ironia e satisfação, que sua abordagem estava certa o tempo todo, afastando a ideia da necessidade de mudanças drásticas para combater a variante.

Pessoas usam máscaras enquanto caminham durante a 'hora do rush'no Central Business District, em Pequim. Foto: EFE/EPA/ROMAN PILIPEY

Zhong Nanshan, um importante especialista em doenças infecciosas e conselheiro do governo, disse em uma entrevista à mídia local que é improvável que a China tome medidas adicionais enquanto espera por mais resultados de testes.

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Um comunicado oficial sobre a Ômicron divulgado pela Comissão Nacional de Saúde na segunda-feira dizia que a abordagem da China para prevenir novos surtos ainda funciona.

A chegada da variante Delta na China este ano gerou um debate entre os especialistas chineses sobre se era hora de abandonar a "covid zero" e mudar para uma estratégia de mitigação para evitar colapsos econômicos e sociais a cada novo surto do vírus.

Reclamações de bloqueios contínuos que afetam a vida diária em locais duramente atingidos, como a cidade de Ruili, na fronteira sudoeste, alimentaram a sensação de que a China logo precisaria aceitar a coexistência com o vírus.

Embora 76% da população da China esteja totalmente vacinada, o país provavelmente manterá sua estratégia "até que as autoridades estejam mais confiantes de que o aumento do contágio não afete a rede de saúde ou até que se torne insustentável em face de uma variante mais transmissível", disse em nota Mark Williams, economista-chefe para o Leste Asiático da Capital Economics.

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Moradores de Manzhouli, no norte da China, apresentam-se em centro de testagem de covid-19. Foto: CNS / AFP

Um estudo divulgado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China na semana passada pesou fortemente a favor de não mudar o curso quando descobriu que a adoção de uma estratégia de mitigação resultaria em casos graves que ultrapassariam o pico do início de 2020 dentro de um a dois dias e teria "um impacto devastador no sistema médico da China e causaria um grande desastre".

"Por enquanto, não estamos prontos para adotar estratégias de abertura", concluiu.

"A política de cercar e eliminar a covid é uma ferramenta indispensável para a China manter a pandemia sob controle", disse Wu Zunyou, epidemiologista-chefe do CDC da China, em uma conferência organizada pela agência de mídia financeira Caijing no domingo.

Wu estimou que a China preveniu até 260 milhões de infecções e 3 milhões de mortes ao se recusar a adotar a abordagem mais flexível adotada por países como Estados Unidos e Reino Unido.

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A quarentena rígida para entrada na China e a política de tolerância zero devem permanecer em vigor pelo menos até o inverno ou a primavera do Hemisfério Norte, porque a China não pode se dar ao luxo de "derrubar" seus sucessos anteriores cometendo um erro, disse ele.

Para alguns comentaristas chineses, estar certo sobre as políticas relacionadas à covid-19 é mais do que uma vitória para a saúde pública; é uma questão de sistemas políticos concorrentes, e a variante Ômicron serve apenas para reforçar as alegações de propaganda da superioridade do Partido Comunista Chinês.

Movimento em frente ao comitê organizador dos Jogos de Inverno de Pequim; realização do evento está em risco pela nova variante. Foto: REUTERS/Thomas Peter

À medida que a ideia de viver com o vírus se tornou mais comum na Europa e na América do Norte, "a mídia ocidental maculou de forma maliciosa a política de 'dinâmica zero covid' da China, acreditando que os custos dessa abordagem eram muito altos e não poderiam ser sustentados. Este ponto de vista é totalmente incorreto", diz um texto publicado no People’s Daily Overseas Edition, um jornal oficial do PCC, nesta terça-feira.

Para serem eficazes, os bloqueios em massa, os testes swab e o rastreamento de contatos da China exigiram a adesão do público, mas "a dificuldade comparativa dos países ocidentais em implementar políticas de quarentena, um grande revés para a prevenção de epidemias, deve-se fundamentalmente às diferenças nos sistemas de governança", escreveu Zhou Xinfa, um estudioso da Academia Chinesa de Ciências Sociais e autor do artigo.

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As críticas ao "nacionalismo vacinal" das nações mais ricas, na esteira da chegada da Ômicron, também representam uma vantagem potencial para a ambição da China de ser vista como um fornecedor líder de doses para países de baixa e média renda.

No Fórum para Cooperação China-África na segunda-feira, o presidente chinês Xi Jinping anunciou que mais de 1 bilhão de doses de vacinas chinesas seriam fornecidas à África no próximo ano, incluindo 600 milhões como doações, como um esforço para "curar a lacuna de imunidade" no continente.

Isso representaria um aumento significativo em relação às 107 milhões de doses entregues até agora, de acordo com a Bridge Consulting, uma empresa de pesquisa com sede em Pequim.

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