PEQUIM - As Forças Armadas da China desenvolveram um esquadrão de drones supersônicos preparados para voar em altitudes altas, de olho em um possível ataque aéreo a Taiwan, indicam documentos ultrassecretos do Pentágono vazados no aplicativo Discord pelo piloto da Guarda Nacional de Massachusetts Jack Teixeira.
Um desses documentos, da Agência Nacional de Inteligência Geoespacial dos Estados Unidos, mostra que os chineses já desenvolveram uma tecnologia militar capaz de atingir navios de guerra americanos ao redor de Taiwan, bem como bases militares na região.
Imagens de satélite gravadas em 9 de agosto mostram dois drones WZ-8, movidos por propulsão de foguetes, numa base aérea na China a 350 km de Xangai. Essas aeronaves não tripuladas voam numa velocidade 3 vezes maior que o som e são capazes de obter dados em tempo real em missões de espionagem, além de executar ataques com mísseis.
Os papéis secretos também descrevem possíveis rotas de voo para o drone, bem como para o bombardeiro bimotor H6-M Badger usado para lançá-lo. Depois de decolar de sua base aérea, o avião de guerra voaria para a costa leste da China antes de liberar o drone furtivo, que poderia então entrar no espaço aéreo taiwanês ou sul-coreano a uma altitude de 100.000 pés (30 mil metros) , em velocidade supersônica. O documento não detalha como o drone é impulsionado, mas diz que “os recursos do motor estão associados principalmente a combustível de foguete”.
Um mapa de rotas possíveis do drone, rotulado como “não necessariamente confiável”, sugere maneiras pelas quais as câmeras e sensores eletro-ópticos do avião podem coletar informações sobre a ilha de Taiwan e a Coreia do Sul, incluindo Seul. O uso de radar de abertura sintética também permitiria mapear o território à noite e com neblina.
Tensão militar no Pacífico
A descoberta do drone supersônico dá uma nova dimensão às ambições militares chinesas e à corrida armamentista no Pacífico. No mês passado, o líder chinês Xi Jinping afirmou em um discurso aos comandantes militares chineses na semana passada que a modernização das Forças Armadas do país é uma das principais estratégias do governo nos próximos anos. A meta é que as Forças Armadas se modernizem até 2035 para se tornarem uma potência militar “capaz de lutar e vencer guerras” até 2049, disse Xi.
Também em março, Taiwan apresentou novos modelos de drones militares, usados para fortalecer as suas defesas para caso sejam invadidos pela China. O plano é inspirado no sucesso da Ucrânia no uso de drones em ataques contra a Rússia e conta com a experiência de ponta de Taiwan na produção de semicondutores para controlar essas armas.
Os Estados Unidos, por sua vez, realizaram neste mês exercícios militares nas Filipinas, como parte de sua expansão militar no Pacífico para conter a expansão chinesa na região. Desde então, os EUA instalaram quatro novas bases militares no Pacífico, intensificaram treinamentos, criaram novas alianças e convenceram países da região a aumentarem seus gastos de defesa.
Outros papéis do Pentágono mostram ainda que os americanos sabem que o nível das habilidades militares e de espionagem da cima estão em um grau de desenvolvimento muito avançado e o programa que usa balões espiões já era conhecido antes de vir a público. Além disso, a inteligência americana trabalha com a hipótese de Taiwan estar mal preparado para suportar um ataque aéreo chinês em uma eventual invasão.
Recentemente, o diretor da CIA, William J. Burns, disse que Xi Jinping quer que a China seja capaz de tomar Taiwan até 2027, embora tenha acrescentado que isso não significa que o líder chinês ordenará um ataque naquele momento.
Uma ameaça cada vez maior
Para analistas, a aeronave representa um novo risco no já complicado teatro do Indo-Pacífico. O uso principal do drone não será contra Taiwan, mas contra os Estados Unidos e suas bases militares no Pacífico, disse Chi Li-pin, diretor da divisão de pesquisa de sistemas aeronáuticos do Instituto Nacional Chung-Shan de Ciência e Tecnologia, que pertecen ao exército de Taiwan. “São drones difíceis detectar e interceptar. As armas ar-ar existentes dos EUA não são boas o suficiente”, disse.
Dean Cheng, do Potomac Institute for Policy Studies, disse que a divulgação mostra que a China está desenvolvendo uma capacidade de monitorar toda a região indo-pacífica.
“Isso não visa apenas os Estados Unidos ou a Coreia do Sul”, disse Cheng. “O Japão tem que se preocupar com isso. A Índia tem que se preocupar com isso. Todo o Sudeste Asiático tem que se preocupar com isso.”
A China, observou ele, está criando uma variedade de sistemas de alta tecnologia para uso militar – desde armas hipersônicas até armas antissatélite que eles poderiam usar para tentar cegar a capacidade de monitoramento dos Estados Unidos. “Individualmente, nenhuma dessas coisas muda o jogo”, disse ele. “Juntos, estamos olhando para um Exército chinês que está desenvolvendo um complexo de ataque de reconhecimento: encontre o inimigo, acerte o inimigo, mate o inimigo.”
Vazamento no Discord
Dezenas de documentos altamente confidenciais vazaram online, revelando informações confidenciais destinadas a líderes militares e de inteligência. Em uma investigação exclusiva, o Washington Post também revisou dezenas de documentos secretos adicionais, a maioria dos quais não foi tornada pública.
O Washington Post obteve a avaliação do programa WZ-8 a partir de um tesouro de imagens de arquivos classificados publicados no Discord, um serviço de bate-papo em grupo popular entre os jogadores de videogame. O Ministério da Defesa Nacional da China não respondeu a um pedido de comentário enviado por fax./ W.POST
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