China diz que ‘independência de Taiwan e paz são incompatíveis’ ao encerrar exercícios militares

Pequim realizou três dias de exercício militares que simularam um cerco a Taiwan em resposta à viagem da presidente da ilha aos EUA

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

TAIPÉ - A China declarou que completou com sucesso nesta segunda-feira, 10, os três dias de manobras militares ao redor de Taiwan, uma operação que simulou ataques e um cerco aéreo da ilha. Ao final, Pequim alertou que uma independência de Taiwan seria incompatível com a paz, um alerta feito após viagem da presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, para os Estados Unidos.

PUBLICIDADE

Durante os três dias de exercício, Pequim enviou caças, navios de guerra e um porta-aviões em um treinamento em larga-escala que visou demonstrar seu poder de cercar Taiwan - a estratégia militar considerada mais provável caso a China decida intervir -, bem como desafiar a capacidade americana em proteger a ilha.

Após anunciar o fim das manobras, o porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, advertiu que “a independência de Taiwan e a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan são coisas mutuamente excludentes”. Ele também culpou o governo taiwanês e o que chamou de forças estrangeiras pelas tensões na região. “Se queremos proteger a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan, devemos nos opor de modo veemente a qualquer forma de separatismo taiwanês”, disse.

Nesta foto tirada em 7 de abril de 2023, um helicóptero chinês sobrevoa uma base militar na ilha de Pingtan, na província de Fujian, sudeste da China Foto: Greg Baker/AFP

As ações chinesas ocorrem após a delicada missão da presidente Tsai Ing-wen de fortalecer as alianças diplomáticas cada vez menores de Taiwan na América Central e aumentar seu apoio dos EUA, uma viagem que rendeu uma reunião com o presidente da Câmara dos EUA, Kevin McCarthy. Uma delegação do Congresso dos EUA também se encontrou com Tsai no fim de semana em Taiwan depois que ela voltou.

Pequim diz que o contato entre autoridades estrangeiras e o governo democrático da ilha encoraja os taiwaneses que desejam a independência formal, uma medida que o Partido Comunista, que governa a China, diz que levaria à guerra. Os lados se dividiram em 1949 após uma guerra civil, e o Partido Comunista diz que a ilha é obrigada a se juntar ao continente, à força, se necessário.

Publicidade

O Comando do Cenário do Leste do Exército de Libertação Popular afirmou em um comunicado que as manobras “testaram por completo a capacidade de combate conjunta integrada de vários setores do Exército em condições de combate”.

Em resposta, o governo dos Estados Unidos, que pediu sinais de moderação à China, enviou nesta segunda o destroier com lança-mísseis USS Milius para uma área em disputa no Mar da China Meridional. “Esta operação de liberdade de navegação respeitou os direitos, liberdades e usos legítimos do mar”, afirmou a marinha americana em um comunicado.

O destroier americano navegou perto das ilhas Spratly, um arquipélago situado a 1.300 quilômetros de Taiwan, reivindicado por China, Taiwan, Filipinas, Vietnã, Malásia e Brunei. A China criticou o que chamou de invasão ilegal do USS Milius a suas águas territoriais.

Um navio da Marinha navega em direção à zona onde a China disse que realizaria exercícios de tiro ao nordeste da ilha de Pingtan, o ponto mais próximo da China a Taiwan, em 10 de abril de 2023 Foto: Greg Baker/AFP

‘Prontos para lutar’

O Comando de Teatro Oriental dos militares chineses, que supervisiona uma área que inclui Taiwan, disse que suas forças estavam realizando ataques de precisão simulados e compartilhou no Weibo, a rede social chinesa, uma animação de mísseis caindo ao redor da ilha e caindo perto de suas duas maiores cidades, Taipé e Kaohsiung. O comando também divulgou um vídeo com a intenção de mostrar um bombardeiro participando dos exercícios.

“As tropas estão prontas para lutar em todos os momentos e podem lutar a qualquer momento para esmagar resolutamente qualquer forma de ‘independência de Taiwan’ e tentativas de interferência estrangeira”, disseram nesta segunda.

Publicidade

Especialistas militares dizem que os exercícios servem tanto como intimidação quanto como uma oportunidade para as tropas chinesas praticarem o isolamento de Taiwan bloqueando o tráfego marítimo e aéreo, uma importante opção estratégica que os militares chineses podem seguir caso usem força militar para tomar Taiwan.

A China respondeu imediatamente após a reunião de Tsai com McCarthy impondo uma proibição de viagens e sanções financeiras contra aqueles associados à viagem. “A China quer usar qualquer aumento nas interações diplomáticas entre os EUA e Taiwan como desculpa para treinar seus militares”, disse Kuo Yu-jen, especialista em estudos de defesa e diretor do Instituto de Pesquisa de Política Nacional em Taiwan.

“As ‘garantias de segurança’ fornecidas pelos Estados Unidos são confiáveis? A resposta é, obviamente, negativa”, disse um editorial no principal jornal militar chinês, o Liberation Army Daily, no domingo. “Seus planos sinistros de usar Taiwan como peão, cortejando o desastre para os dois lados do estreito, estão aí para todos verem.”

A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, ao lado do presidente da Câmara dos EUA, Kevin McCarthy, em 5 de abril Foto: Ringo H.W. Chiu/AP

Caças, navios de guerra e munição real

Especialistas disseram que esses exercícios foram menores e menos ameaçadores do que os exercícios semelhantes realizados em agosto para simular um bloqueio depois que Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara, visitou Taiwan. Mesmo assim, a demonstração de força da China desta vez estava cheia de mensagens e imagens intimidadoras alertando sobre as possíveis consequências de desafiar as exigências de Pequim para a unificação.

Depois que Pelosi visitou Taiwan, a China realizou ataques com mísseis contra alvos nos mares ao redor de Taiwan, ao mesmo tempo em que enviou navios e aviões de guerra sobre a linha mediana do Estreito de Taiwan. Também disparou mísseis sobre a própria ilha que aterrissaram na zona econômica exclusiva do Japão, em uma escalada significativa.

Publicidade

Os exercícios desta vez se concentraram mais na força aérea, com Taiwan relatando mais de 200 voos de aviões de guerra chineses nos últimos três dias. A emissora estatal chinesa CCTV, citando o Exército Popular de Libertação, disse que os exercícios estão “simulando o fechamento conjunto” de Taiwan, bem como “ondas de ataques simulados” em alvos importantes na ilha.

Durante os exercícios, os caças chineses praticaram a decolagem do porta-aviões Shandong, na costa leste de Taiwan. Outros navios manobraram nos mares ao redor de Taiwan. Tropas do Exército Popular de Libertação estavam programadas para realizar treinos de tiro real em uma pequena ilha chinesa que abraça a costa.

Um avião de combate decolando do porta-aviões chinês Shandong nas águas do Oceano Pacífico, ao sul de Okinawa Foto: Ministério da Defesa do Japão/AFP

Na manhã desta segunda, um total de 200 aeronaves militares chinesas haviam voado para a Zona de Identificação de Defesa Aérea de Taiwan – um tampão informal ao redor da ilha – desde que os exercícios começaram no sábado, de acordo com números divulgados pelo Ministério da Defesa taiwanês. Esses números são maiores do que o padrão usual, segundo levantamento de dados do The New York Times.

Os exercícios com fogo real estavam programados para ocorrer nesta segunda nas águas de Pingtan, uma ilha na província de Fujian, oposta a Taiwan, mas os detalhes do que aconteceu lá eram escassos.

Os militares de Taiwan responderam aos exercícios chineses com seu próprio fluxo de imagens e anúncios mostrando aeronaves, soldados e embarcações prontas para defender a ilha.

Publicidade

“O que é bastante preocupante é que, devido ao aumento acentuado das forças navais e aéreas de ambos os lados do estreito perto da linha mediana e ao redor de Taiwan, os riscos de acidentes que levam a uma troca de tiros inadvertida aumentaram muito”, disse Chieh Chung, professor assistente adjunto de estudos estratégicos na Tamkang University, em Taiwan./AFP, AP e NYT

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.